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ao longo da década de 2010 um grupo de
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meditação transcendental acreditou que
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se um número suficiente de participantes
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meditassem juntos poderiam trazer
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benefícios sociais incluindo a redução
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da taxa de homicídios sobre isso em 2017
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foi publicado um artigo alegando que o
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número mínimo necessário para que esse
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efeito se manifestasse é a raiz quadrada
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de 1% da população no caso dos Estados
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Unidos isso equivale a 1725 pessoas não
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há base científica f alguma para isso
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apenas numerologia no estudo os autores
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rastrearam a taxa de homicídios em
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diversas cidades Americanas e compararam
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um período arbitrário com o período de
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intervenção o período de intervenção foi
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justamente quando o grupo de meditação
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transcendental superou os 1725
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participantes eles alegam que as taxas
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de homicídio estavam aumentando antes
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dessa data e então quando o participante
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de número 1725 ingressou no grupo at
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Começou a cair subitamente Note que os
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1724 ou menos participantes não eram
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bastante parece que o efeito só era
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mesmo ativado depois que o Limiar mágico
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de
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1725 era ultrapassado obviamente isso
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não é nada científico mas o mais
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interessante nesse estudo foi que para
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tentar embasar os achados os autores
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calcularam que a probabilidade de que a
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redução nas taxas de homicídio pudessem
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ser simplesmente devida ao acaso era de
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uma uma chance em um
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[Música]
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trilhão o estudo que tenta provar que a
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redução na criminalidade foi devida à
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prática de meditação coletiva é um
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exemplo de como é possível explorar os
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números para obter uma estatística
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insignificante e usá-la para embasar
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alegações en fundadas nesse último vídeo
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dessa parte da série eu vou explorar a
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má compreensão e o mau uso do valor p
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mas antes de seguir se inscreva no canal
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e Ative o seu Sininho para acompanhar
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todos os nossos lançamentos aqui no verb
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científica o valor P nos diz que a
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chance de um resultado surgir apenas do
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acaso deve ser menor que uma
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probabilidade arbitrariamente pequena Se
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isso for altamente Improvável dizemos
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que o resultado é estatisticamente
00:02:24
significativo em outras palavras o valor
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P nada mais é do que o nível arbitrário
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que garante que a probabilidade de
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rejeitar a hipótese nula Quando ela for
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verdadeira seja menor que um dado limite
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específico por razões que não são muito
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Claras até hoje o valor P de 0,05 é
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normalmente usado como corte para dizer
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que o resultado é estatisticamente
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significativo mas como vimos no vídeo
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anterior a natureza do valor p é
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escorregadia e não é tão confiável nem
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tão objetivo quanto a maioria dos
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cientistas supõe se você obteve um
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resultado estatisticamente significativo
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com valor P menor que 0,05 você pode ser
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levado a pensar que as chances da
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hipótese nula ser verdadeira são menores
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do que 5% enquanto que as chances dos
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resultados indicarem uma diferença real
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são maiores do que
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95% você pode pensar também que a
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hipótese nula foi rejeitada então há
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menos de 5% de chance de que você tenha
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tomado a decisão errada e também que se
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você vier a replicar seu estudo a chance
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de obter sucesso vai ser maior do que
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95% se você pensa assim você tá errado
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como também está a maioria das pessoas
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inclusive professores e cientistas isso
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porque significância estatística não é
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uma probabilidade clássica mas sim uma
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probabilidade condicional bisana Eu já
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falei sobre isso em detalhes nessa parte
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da série e aqui basta ter em mente que
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uma probabilidade condicional Como o
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próprio nome diz leva em conta uma
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condição uma dada hipótese nesse caso a
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hipótese
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nula a aplicação do teste de
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significância já tá tão arraigada em
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muitas áreas da ciência que a maioria
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dos cientistas acaba se esquecendo da
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sua lógica real muitos não percebem que
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a única coisa que esse teste mostra é
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que um resultado estatisticamente
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significativo implica apenas que o
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efeito que está sendo observado pode não
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ser nulo e não perceber isso é grave
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pois quando algum efeito não existe ao
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usar um valor P de 5% um em cada 20
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cientistas que procuram por esse efeito
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afirma falsamente que Ele existe a
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significância estatística por si só não
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fornece informações sobre o quão grande
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um efeito pode ser ele diz apenas que
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esse efeito pode não ser nulo colocando
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de outra forma o teste de significância
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se refere a como o mundo não é ele não
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diz nada sobre como o mundo é a
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aplicação negligente do valor p é um dos
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principais fatores por trás da crise da
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replicabilidade que assola a ciência nos
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dias de
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hoje com a ideia equivocada de que o
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teste significativo possa realmente
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garantir que o resultado é real os
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cientistas estão adquirindo o hábito de
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publicar resultados nulos Imagine que 20
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cientistas estejam trabalhando em uma
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ideia 19 deles vão arquivar os seus
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resultados nulos em uma gaveta mas um
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deles vai ter a sorte ou o azar
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dependendo do ponto de vista e vai
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cometer o erro do tipo um ele vai
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acreditar ter encontrado uma diferença
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quando na verdade não existe diferença
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alguma e ao final ele vai publicar esse
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resultado falso acrescentando na
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literatura científica um resultado
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espúrio e replicável tenha em mente que
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o Mero fato de rejeitar a hipótese nula
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não garante nada de novo isso raramente
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serve de base para explicar ou
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justificar uma dada descoberta o hoje a
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literatura científica está inundada de
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artigos e livros inteiros que foram
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escritas sobre as armadilhas dos valores
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P eles são difíceis de entender não nos
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dizem o que realmente queremos saber e
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são repletos de alegações exageradas foi
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isso que os estudiosos da meditação
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transcendental fizeram se apoiaram numa
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estatística falaciosa para defender uma
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crença Sobrenatural Eles simplesmente
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ignoraram a realidade que as taxas de
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homicídio já estavam em queda ao longo
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das quatro décadas anteriores a
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diminuição mostrada no estudo foi apenas
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a continuação de uma tendência de longo
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prazo para tornar a narrativa do artigo
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minimamente persuasiva e com aparência
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legítima os autores precisaram massagear
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profundamente os números ao declarar
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seus resultados eles alegaram ter
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calculado que a probabilidade de que a
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tendência reduzida nas taxas de
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homicídio pudesse ser simplesmente
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devida ao acaso era de um em um trilhão
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ou seja eles usaram o valor p como
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escudo para o escrutínio
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crítico a medida que os resultados
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científicos passam da literatura
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científica para comunicados à imprensa
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jornais revistas ou programas de
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televisão os valores p são
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frequentemente descritos de maneira
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imprecisa por exemplo em 2012 cientistas
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do lhc relataram resultados que
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sustentavam a existência do boson de
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rigs com um valor P de 0,01 ou seja os
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resultados teriam 1% de probabilidade de
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aparecer por acaso mesmo que existisse
00:07:36
um boson de Higgs a na Geographic
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contudo declarou que os cientistas do
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lhc tinham 99% de certeza de que
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descobriram um bosson de rigs Mas isso é
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um equívoco o valor P de 0,01 não
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significa que os cientistas tinham 9999%
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de certeza que o boson de Higgs era real
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dito de outra forma as pessoas mesmo
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cientistas experientes tendem a pensar
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no valor p como um valor preditivo mas
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não é o valor P nunca foi feito para
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isso ele é apenas um teste preliminar
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para ver se os dados são interessantes
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se vale a pena dar uma checada neles ou
00:08:15
se são apenas ruídos aleatórios e aqui o
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importante é lembrar que uma hipótese
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muito Improvável permanecerá muito
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Improvável mesmo depois que se obtenha
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resultados experimentais com valor P
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muito baixo
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[Risadas]
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o problema da replicabilidade começou a
00:08:34
se agravar a partir do momento que os
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periódicos das áreas de Ciências Sociais
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principalmente de Psicologia começaram a
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publicar artigos apenas se eles
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relatassem descobertas estatisticamente
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significativas então isso encorajou os
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pesquisadores a uma prática conhecida
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hoje como packing eles massageiam seus
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dados jogam com o sistema ou
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simplesmente trapaceiam tudo para chegar
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aai de um valor P de 5% que é um
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critério desejável para facilitar o
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processo de revisão por pares daí as
00:09:06
descobertas falsas e as associações
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fortuitas e equivocadas começaram a se
00:09:11
proliferar em um vídeo anterior eu falei
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em detalhes sobre a crise da
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replicabilidade que a ciência
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contemporânea tem passado lá Eu
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mencionei que boa parte de muitos
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estudos disponíveis hoje na literatura
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científica simplesmente não pode ser
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reproduzida o que indica que esses
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estudos simplesmente não tem validade
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alguma um dos mais importantes estudos
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de revisão sobre isso envolveu um grande
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número de cientistas que trabalharam
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para replicar sem trabalhos selecionados
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de três das principais revistas de
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Psicologia essa revisão levou a uma
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constatação deplorável mais da metade
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dos estudos não pode ser replicada isso
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é como se a crise da replicabilidade
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tivesse apagado do mapa mais da metade
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de todas as pesquisas em psicologia
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recente e no fundo isso seria um mal
00:09:57
menor pois o que vemos hoje é que os
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mesmos estudos que não passaram no teste
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de replicação continuaram a ser citados
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rotineiramente tanto por cientistas
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quanto por outros escritores linhas
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inteiras de pesquisas e livros populares
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de sucesso vem sendo construídos em sua
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base então o termo crise Parece mesmo
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ser uma descrição apropriada os
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pesquisadores muitas vezes não percebem
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que os resultados estatisticamente
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significativos não garantem que uma
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descoberta é verdadeira por outro lado
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metade desses cientistas presumem de
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maneira equivocada que por não terem
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encontrado significância estatística não
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havia um efeito real nas suas
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investigações são dois erros que
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prejudicam a ciência numa via de Mão
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Dupla hoje muitos cientistas defendem
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que passou da hora de descartar os
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testes de significância em 2019 mais de
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850 cientistas assinaram uma carta
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aberta na revista Nature argumentando
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Exatamente isso em vez de enfatizar a
00:10:59
significância eles argumentaram que os
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pesquisadores deveriam ser mais claros
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sobre a incerteza de suas descobertas e
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relatar a margem do erro em torno de
00:11:08
cada número e o mais importante ter mais
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humildade ao inferir o que pode ser
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derivado dos resultados estatísticos
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afinal de contas a própria estatística
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oferece meios de descobrir como duvidar
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do que você está vendo esse vídeo
00:11:23
termina por aqui e encerra com ele a
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quinta parte da nossa série que fala
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sobre como as
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nos Enganam no próximo vídeo vai estrear
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a sexta parte que vai falar sobre as
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formas anticientíficas de ver o mundo se
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inscreva no canal e tenha ver científica
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abraço e até a próxima