00:00:01
a palavra violência vem do latim vis
00:00:06
força e ela significa um tudo que age
00:00:11
usando a força para ir contra a natureza
00:00:14
de algum ser a violência é
00:00:19
desnaturar dois todo ato de força contra
00:00:23
espontaneidade a vontade e a liberdade
00:00:27
de alguém A violência é coagir
00:00:31
constranger torturar
00:00:34
brutalizar terceiro todo o ato de
00:00:37
violação da natureza de alguém ou de
00:00:40
alguma coisa valorizada positivamente
00:00:43
por uma
00:00:46
sociedade ela é a violência é o ato de
00:00:51
violar de
00:00:54
profanar
00:00:56
quatro todo o ato de transgressão por
00:01:00
positiva todo ato de transgressão contra
00:01:03
aquelas coisas e ações que alguém ou uma
00:01:06
sociedade define como justas e como um
00:01:10
direito a violência é
00:01:13
espoliar ou a injustiça
00:01:17
deliberada
00:01:18
quinto como consequência A violência é
00:01:22
um ato de brutalidade cício e Abuso
00:01:27
físico ou psíquico contra alguém
00:01:30
e caracteriza relações intersubjetivas e
00:01:34
sociais definidas pela opressão e pela
00:01:38
intimidação pelo medo e pelo
00:01:42
terror A violência é a presença da
00:01:45
ferocidade nas relações com o outro
00:01:49
enquanto outro ou seja
00:01:52
simplesmente porque ele é
00:01:55
outro A violência é o oposto da coragem
00:01:59
e da valentia porque ela é o exercício
00:02:03
da
00:02:04
Crueldade se é isto A
00:02:09
violência é evidente que ela se opõe à
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ética porque ela trata seres Racionais e
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sensíveis dotados de linguagem e de
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Liberdade como se fossem coisas Isto é
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irracionais insensíveis mudos e inertes
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passivos na medida em que a ética é
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inseparável da figura do sujeito
00:02:38
racional voluntário livre
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responsável tratá-lo como se fosse
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desprovido de razão vontade liberdade e
00:02:48
responsabilidade é tratá-lo não como um
00:02:52
humano e sim como uma coisa fazendo-lhe
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violência nos cinco sentidos que nós
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demos a essa essa palavra da mesma
00:03:01
maneira é evidente que a violência se
00:03:06
opõe à política
00:03:08
democrática uma vez que essa se define
00:03:12
pela figura do sujeito político como
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sujeito de direitos que age pela criação
00:03:19
e Conservação de direitos contra a
00:03:22
dominação dos privilégios e impede o
00:03:26
exercício do Poder pela força pela
00:03:28
opressão pela intimidação pelo medo e
00:03:32
pelo terror portanto a violência é
00:03:36
aquilo que impede a ética e a política
00:03:41
democrática
00:03:44
ora há no
00:03:46
Brasil um mito
00:03:50
poderoso a gente encontra isso que eu
00:03:53
vou dizer aqui a gente encontra em cada
00:03:57
esquina em cada bairro
00:04:00
em cada cidade em cada praia em cada bar
00:04:06
em cada supermercado em cada vendinha da
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esquina tempo inteiro qualquer
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brasileiro o tempo inteiro dirá isto
00:04:14
para você há no
00:04:17
Brasil um mito
00:04:20
Poderoso o da não violência brasileira
00:04:23
Isto é a imagem de um povo
00:04:27
Generoso Alegre
00:04:31
sensual
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solidário que desconhece o racismo o
00:04:36
sexismo o machismo que respeita as
00:04:40
diferenças étnicas religiosas e
00:04:43
políticas não discrimina as pessoas por
00:04:46
suas escolhas sexuais
00:04:49
etc Por que é que eu emprego a palavra
00:04:53
mito e não por exemplo a palavra
00:04:58
ideologia
00:05:00
para me referir à maneira como a não
00:05:02
violência é imaginada no
00:05:05
Brasil eu emprego a palavra mito dando
00:05:08
os seguintes
00:05:10
sentidos
00:05:12
primeiro como indica a palavra grega
00:05:15
mitos O mito é uma
00:05:19
narrativa sobre a origem de um povo de
00:05:23
uma
00:05:24
sociedade e essa narrativa é
00:05:28
reiterada
00:05:30
em inúmeras narrativas
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derivadas que repetem a matriz da
00:05:36
primeira
00:05:37
narrativa a qual
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entretanto já é uma variante de uma
00:05:44
narrativa
00:05:46
anterior cuja origem se perdeu em suma O
00:05:51
mito é a narrativa da
00:05:55
origem sem que exista uma narrativa
00:06:00
originária dois o mito opera com
00:06:05
antinomias tensões e contradições que
00:06:08
não podem ser resolvidas sem uma
00:06:11
profunda transformação da sociedade no
00:06:14
seu todo e por isso elas são
00:06:18
transferidas para uma solução
00:06:21
imaginária que torna suportável e
00:06:24
justificável a
00:06:26
realidade ou seja o mito Nega e
00:06:31
justifica a realidade que é negada por
00:06:33
ele a realidade tá aí na tua cara e você
00:06:37
tem um monte de dispositivos que
00:06:40
permitem a você
00:06:41
imaginariamente negar Essa realidade que
00:06:44
está diante de você isso é um mito
00:06:47
n
00:06:49
terceiro o mito se cristaliza em crenças
00:06:53
que são interiorizadas num grau tal que
00:06:57
não são percebidas como crenças
00:06:59
e sentidas não só como uma explicação da
00:07:04
realidade mas como sendo a própria
00:07:07
realidade em suma o mito substitui a
00:07:12
realidade pela crença na realidade na
00:07:15
rada por ele e torna invisível a
00:07:19
realidade
00:07:21
existente quatro o mito resulta de ações
00:07:26
sociais e produz como resultado outras
00:07:29
ações sociais que o confirmam Isto é um
00:07:32
mito produz valores ideias
00:07:35
comportamentos práticas que o reafirmam
00:07:40
ininterruptamente ele não é portanto um
00:07:43
simples conjunto de ideias um mito é uma
00:07:47
forma de
00:07:48
ação e por último o mito Tem uma função
00:07:54
apaziguadora e repetidora ele assegura
00:07:58
para a sociedade
00:07:59
a sua autoconservação sobre as
00:08:01
transformações
00:08:03
históricas Isso significa que um mito é
00:08:06
um suporte de
00:08:08
ideologias ele as fabrica para que possa
00:08:12
simultaneamente enfrentar as mudanças
00:08:14
históricas e
00:08:16
negá-las Pois cada forma ideológica
00:08:20
produzida está encarregada de manter a
00:08:23
matriz mítica
00:08:26
inicial em suma Aia
00:08:29
é apenas a expressão temporal de um mito
00:08:33
fundador que a sociedade narra para si
00:08:37
mesma sem
00:08:40
cessar eu estou tomando portanto a
00:08:43
palavra mito no sentido antropológico de
00:08:46
solução imaginária para tensões
00:08:49
conflitos e contradições que não
00:08:52
encontram caminhos para serem resolvidos
00:08:55
no plano simbólico e no plano real
00:09:00
e estou tomando no sentido
00:09:03
psicanalítico da
00:09:06
repetição a repetição do fantasma né a
00:09:09
produção fantasmática e a sua repetição
00:09:14
ininterrupta neurose da mais pura
00:09:17
qualidade
00:09:20
né Falo em mito fundador porque a
00:09:24
maneira de toda a fundação o mito propõe
00:09:29
um vínculo entre o passado como origem
00:09:32
Isto é um passado que não cessa de
00:09:36
existir que não permite o trabalho da
00:09:40
própria história um passado que se
00:09:42
conserva como peren
00:09:47
presente nesse sentido o mito
00:09:50
fundador na sua acepção
00:09:53
psicanalítica é o impulso a repetição
00:09:57
como impossibilidade de
00:09:59
simbolização e sobretudo como um
00:10:02
bloqueio a passagem ao real um mito
00:10:06
fundador é aquele que não cessa de
00:10:08
encontrar novos meios de exprimir-se
00:10:11
novas linguagens Novos Valores e ideias
00:10:14
de tal modo que quanto mais parece ser
00:10:17
outra coisa tanto mais é a repetição de
00:10:21
si mesmo no nosso caso o mito fundador é
00:10:25
exatamente o mito da não violência que é
00:10:29
essencial à sociedade brasileira e cuja
00:10:33
elaboração remonta ao período da
00:10:35
descoberta e conquista da América e do
00:10:38
Brasil em suma o grande mito que
00:10:43
sustenta a imaginação social brasileira
00:10:45
é o da não violência a nossa
00:10:49
autoimagem de um povo que foi escolhido
00:10:52
por Deus
00:10:54
né vivemos por
00:10:58
natureza
00:10:59
Escolhidos por Deus por
00:11:02
natureza e qualquer um diz para você
00:11:05
qualquer um olha
00:11:08
ol não sei onde tem terremoto não sei
00:11:11
onde tem vulcão não sei onde tem tsunami
00:11:14
não sei onde tem Nevasca não sei aqui
00:11:18
não aqui é uma primavera perene porque
00:11:23
nós somos um dom de
00:11:26
Deus Brasil é um dom de Deus aos
00:11:31
brasileiros então começa aqui a natureza
00:11:35
brasileira já não é violenta não tem
00:11:37
violência já no nível da natureza então
00:11:40
é óbvio que nós estamos destinados a não
00:11:44
sermos psicologicamente e socialmente
00:11:47
violentos a nossa natureza não o tem
00:11:51
esse é o primeiro elemento do mito
00:11:54
fundador que começa na hora que na hora
00:11:57
que o Cristóvão Colombo escreve a
00:11:59
primeira carta pra rainha e na hora que
00:12:01
o Pedro vai Pedro Vas de Caminha escreve
00:12:03
a primeira carta pro rei
00:12:06
né essa terra que é uma
00:12:09
primavera
00:12:11
permanente de um clima sempre temperado
00:12:15
em que se plantando tudo dá né Essa é a
00:12:19
carta do Pero vais
00:12:24
né
00:12:26
então natureza bem fazer
00:12:29
protetora que nos faz pessoas não
00:12:34
violentas nós não temos motivo para
00:12:36
sermos violentos Porque nós não temos
00:12:38
que combater as forças da natureza
00:12:43
né isso nos dá a
00:12:46
autoimagem de um povo ordeiro e
00:12:52
Pacífico a bandeira nacional diz Ordem e
00:12:57
Progresso
00:12:59
somos nós então um povo ordeiro e
00:13:04
Pacífico
00:13:07
Alegre
00:13:09
cordial
00:13:12
acolhedor
00:13:14
mestiço incapaz de discriminação ética
00:13:18
religiosa social ou sexual
00:13:22
acolhedor para os estrangeiros e Os
00:13:26
migrantes generoso com os
00:13:30
orgulhoso das Diferenças
00:13:33
regionais e evidentemente
00:13:36
destinado a um grande
00:13:38
futuro qualquer um qualquer lugar diz
00:13:43
isso para você o tempo
00:13:45
inteiro eu não sei se quando vocês foram
00:13:47
pra escola vocês ainda aprendiam isso eu
00:13:50
na escola que eu fui era isso que eu
00:13:53
aprendia eu
00:13:55
recitava no dia 7 de Setembro e no dia
00:13:59
15 de novembro eu recitava oav
00:14:01
Bilac eu aprendi a recitar oav Bilac Tô
00:14:06
vendo que muitos nem sabem quem é olav
00:14:08
Bilac
00:14:09
né então olav Bilac o poema que eu
00:14:12
recitava no dia 7 de setembro no dia 15
00:14:15
de Novembro todo ano no grupo escolar
00:14:18
era o seguinte começava
00:14:22
assim Ama com fé e orgulho a terra em
00:14:26
que
00:14:27
nasceste
00:14:29
criança jamais verás um país como este
00:14:33
Olha que mar que céu que Floresta a
00:14:37
natureza que perpetuamente infesta é um
00:14:40
ceio de mãe a transbordar carinhos eu
00:14:44
recitava isso todo 7 de Setembro todo 15
00:14:46
de
00:14:49
[Aplausos]
00:14:54
Novembro Então eu fui formada no mito
00:14:57
fundador eu não sei que forma eles T na
00:15:00
escola para vocês como é que ele aparece
00:15:04
eu acho que ele aparece com a ideia da
00:15:06
da
00:15:07
sensualidade da
00:15:09
cabrocha do do do da ginga no futebol né
00:15:15
Nós temos é uma coisa maravilhosa porque
00:15:17
nós somos sensuais temos uma
00:15:21
Ginga
00:15:22
isso só que nós pertencemos a uma
00:15:25
civilização que considera que o corpo é
00:15:29
inferior à alma que é espiritual e
00:15:32
Imortal e a alma não é sensual é o corpo
00:15:37
que é então nós temos uma desgraceira de
00:15:39
um corpo que é puro
00:15:49
pecado ou
00:15:51
seja é uma tristeza né gente nós somos
00:15:55
nós estamos mergulhados desde o primeiro
00:15:58
dia que a gente nasce nessas
00:16:01
contradições
00:16:02
nessas naquilo que naquilo que o o
00:16:06
flobert quando quando flober pela
00:16:08
primeira vez analisou a sociedade
00:16:10
burguesa ele escreveu um dicionário
00:16:13
chamado dicionário das ideias feitas em
00:16:15
que tudo quanto era mediocridade
00:16:17
estupidez ignorância tontice ele
00:16:20
rejeitou ele Ele registrou na forma de
00:16:23
um dicionário eu tenho vontade de
00:16:24
escrever um assim a partir do do nosso
00:16:27
mito fundador o que nós temos de ideia
00:16:29
feita e que é só bobagem é isso então
00:16:34
essa essa autoimagem que nós temos é a
00:16:37
nossa pureza não violenta agora vem o
00:16:40
problema vamos ver qual é o
00:16:45
problema muitos
00:16:47
indagar como o mito da não violência
00:16:51
brasileira pode
00:16:53
persistir sob o impacto da violência
00:16:57
real
00:16:59
cotidiana conhecida de todos e que nos
00:17:03
últimos tempos É também ampliada por sua
00:17:05
divulgação e difusão pelos meios de
00:17:09
comunicação de massa ora É justamente no
00:17:14
modo de Interpretação da violência que o
00:17:19
mito encontra meios para se
00:17:22
conservar o mito da não violência
00:17:27
permanece porque graças a ele admite-se
00:17:31
a existência de fato da
00:17:33
violência e ao mesmo tempo São
00:17:35
fabricadas explicações para denegá-lo no
00:17:40
instante mesmo em que ela é
00:17:43
admitida a a principal eu vou examinar
00:17:47
os vários mecanismos para fazer isso mas
00:17:50
evidentemente o principal
00:17:54
instrumento para afirmar que existe
00:17:57
violência e negar que ela é constitutiva
00:18:01
da sociedade brasileira é alojar a
00:18:04
violência num determinado ponto ela é
00:18:08
alojada na
00:18:10
criminalidade Então como ela se reduz ao
00:18:13
campo da criminalidade ela fica
00:18:14
Invisível em todo o restante né bom
00:18:18
então como
00:18:21
explicar que a exibição
00:18:24
cotidiana pelos meios de comunicação de
00:18:26
massa da violência
00:18:29
país possa deixar
00:18:31
intocado o mito da não violência e ainda
00:18:35
suscitar o clamor do retorno à
00:18:40
ética para responder nós precisamos
00:18:44
examinar os mecanismos ideológicos de
00:18:47
conservação dessa
00:18:49
mitologia o primeiro primeiro mecanismo
00:18:52
é o da
00:18:54
exclusão afirma-se que a nação
00:18:57
brasileira é não violenta e que se
00:19:00
houver violência ela é praticada por
00:19:03
gente que não faz parte da Nação mesmo
00:19:07
que tenha nascido no Brasil e viva no
00:19:09
Brasil o mecanismo da exclusão produz a
00:19:13
diferença entre um nós brasileiros não
00:19:16
violentos e um eles não brasileiros
00:19:21
violentos eles não fazem parte do
00:19:25
nós o segundo mecanismo
00:19:28
é o da distinção
00:19:31
metafísica distingue-se entre o
00:19:35
essencial e o acidental Isto é por
00:19:40
Essência os brasileiros não são
00:19:42
violentos portanto a violência é
00:19:47
acidental ela é um acontecimento efêmero
00:19:51
passageiro ela é uma
00:19:54
epidemia ela é um surto né surto de
00:19:59
violência epidemia de violência é uma
00:20:01
coisa acidental passageira que se
00:20:05
localiza na superfície de um tempo e de
00:20:08
um
00:20:09
espaço precisos ela é definida como
00:20:13
superável e deixa intacta a nossa
00:20:17
essência não
00:20:19
violenta o terceiro mecanismo é
00:20:23
jurídico a violência fica circunscrita
00:20:26
ao campo da ência e da
00:20:29
criminalidade o crime sendo definido
00:20:32
como ataque à propriedade privada furto
00:20:35
roubo
00:20:37
latrocínio esse mecanismo permite por um
00:20:41
lado determinar Quem são os agentes
00:20:45
violentos em 99% dos casos são os pobres
00:20:51
e permite legitimar a ação esta sim
00:20:56
violenta da polícia
00:20:58
contra a população pobre os negros as
00:21:01
crianças de rua os
00:21:04
favelados ação policial Pode às vezes
00:21:08
ser considerada
00:21:10
violenta ela recebe o nome de chacina ou
00:21:13
massacre quando de uma só vez e sem
00:21:16
motivo o número de assassinados é muito
00:21:20
elevado no restante das vezes porém o
00:21:23
assassinato policial é considerado
00:21:25
normal e natural uma vez que se trata de
00:21:28
proteger o nós contra o
00:21:33
eles o quarto mecanismo é
00:21:37
sociológico atribui-se a epidemia de
00:21:40
violência a um momento definido no tempo
00:21:44
aquele no qual se realiza a transição
00:21:47
para a modernidade das populações que
00:21:50
migraram do campo para a cidade das
00:21:53
regiões mais pobres norte nordeste para
00:21:57
as mais ricas e das cidades pequenas
00:22:01
para cidades maiores a migra todas essas
00:22:06
migrações causariam o fenômeno
00:22:09
temporário da
00:22:11
anomia no qual a perda das formas
00:22:14
antigas de sociabilidade ainda não foram
00:22:17
substituí por novas fazendo com que Os
00:22:20
migrantes normais das vezes pobres
00:22:23
tendam a praticar atos isolados de
00:22:26
violência que desaparecerão quando
00:22:29
estiver completada a sua transição para
00:22:32
a modernidade
00:22:35
aqui não só a violência atribuída aos
00:22:37
migrantes aos pobres aos
00:22:40
desadaptados como ela ainda é consagrada
00:22:43
como algo episódico e
00:22:47
temporário e finalmente o último
00:22:50
mecanismo é o da inversão do Real graças
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à produção de máscaras que permitem
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dissimular
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comportamentos ideias e valores
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violentos como se fossem não violentos
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assim por exemplo o machismo é colocado
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como proteção natural a natural
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fragilidade feminina proteção que inclui
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a ideia de que as mulheres precisam ser
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protegidas delas próprias Pois afinal
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como todo mundo sabe o estupro é um ato
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feminino de provocação e sedução quem é
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que não sabia que mulheres é que fazem o
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estupro o paternalismo branco é visto
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como proteção para auxiliar a natural
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inferioridade dos negros a repressão
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contra os homossexuais é considerada uma
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proteção natural aos valores sagrados da
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família que
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agora também afetam a saúde e a vida do
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gênero humano inteiro ameaçado pela
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aides trazida por esses degenerados
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a destruição do meio ambiente é
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orgulhosamente vista como sinal de
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progresso e civilização Em resumo eu
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poderia continuar mostrando as máscaras
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que invertem e transformam a violência
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em expressões de não violência a
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violência não é percebida ali mesmo onde
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ela se origina ali mesmo onde ela se
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define como violência propriamente dita
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Isto é como toda a prática e toda ideia
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que reduz um sujeito à condição de coisa
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que viole interior exteriormente o ser
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de alguém que perpetue relações sociais
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de profunda desigualdade Econômica
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social e cultural mais do que isso a
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sociedade não percebe que as próprias
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explicações que ela oferece são
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violentas porque ela está cega ao lugar
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efetivo da produção
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Ou seja a estrutura da sociedade
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brasileira dessa maneira as
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desigualdades econômicas sociais e
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culturais as exclusões econômicas
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políticas e sociais a corrupção como
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forma de funcionamento das instituições
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o racismo o sexismo a intolerância
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religiosa sexual e
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polí
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Isto é a sociedade brasileira não é
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percebida como estruturalmente
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violenta e a violência aparece por isso
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como um fato esporádico de superfície em
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outras palavras a mitologia e os
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procedimentos ideológicos fazem com que
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a violência que organiza e estrutura as
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relações sociais brasileiras não sejam
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percebidas eu passo então meu m