00:00:01
[Música]
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[Aplausos]
00:00:03
[Música]
00:00:07
o movimento pela reforma psiquiátrica
00:00:09
brasileira teve início na década de
00:00:12
1970 e chega a 2023 com conquistas e
00:00:16
desafios reforma psiquiátrica luta
00:00:18
antimanicomial e a política nacional de
00:00:21
Saúde Mental é sobre isso que conversa
00:00:23
agora com o psicólogo e professor da
00:00:25
Universidade de Brasília Pedro
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Costa Pedro bem-vindo ao cidadania
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Obrigado pela sua presença e
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participação em nosso programa Eu que
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agradeço pelo espaço e parabenizo pela
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oportunidade também de debatermos temas
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tão importantes paraa nossa sociedade
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então vamos começar Contando um pouco
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sobre a história desse movimento pela
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reforma psiquiátrica brasileira né eu
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comentei Aqui começou na década de 70
00:00:51
mas queria que você falasse um pouco das
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origens né O que que desencadeou esse
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movimento Quais as bases conceituais e e
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quando né exatamente E por que surge
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esse movimento pela reforma psiquiátrica
00:01:06
brasileira bom eh como você muito bem
00:01:08
coloca a gente pode localizar esse
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movimento especificamente né que antes
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mesmo de ser uma luta pela reforma
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psiquiátrica se colocou contra as formas
00:01:18
tradicionais de supostamente entender o
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que era a loucura mas entender então por
00:01:24
isso que supostamente de uma maneira
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mistificada com intuitos de
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aprisionamento de segregação de violação
00:01:31
e que tem a reforma psiquiátrica como
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uma de suas várias conquistas alguns de
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seus vários resultados então ele antes
00:01:39
de tudo um movimento por uma outra forma
00:01:41
de entendimento aquilo que a gente veio
00:01:43
a denominar e entender por loucura mas
00:01:46
de maneira geral o que a gente
00:01:47
caracteriza por saúde mental então um
00:01:50
movimento para uma nova forma de se
00:01:52
entender Saúde Mental é uma forma que
00:01:54
seja condizente com que de fato é a
00:01:56
saúde mental como as pessoas se produzem
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na realidade e portanto como elas devem
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ser tratadas em casos em que haja
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necessidade de algum tipo de assistência
00:02:06
e de cuidado na própria saúde mental
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então é antes de tudo um movimento
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contra a lógica manicomial contra os
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manicômios não só como instituições mas
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como uma lógica que tá presente no nosso
00:02:18
chão histórico no nosso solo histórico e
00:02:21
que de certa forma perpetua reproduz
00:02:25
toda essa perspectiva de segregação de
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violência sob roupagens de cuidado de
00:02:31
tratamento historicamente Então são
00:02:32
mecanismos de segregação daquilo que eu
00:02:35
falo que são as próprias contradições
00:02:37
que a nossa sociedade produz ou que as
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produzem né como por exemplo a
00:02:43
desigualdade social o racismo o machismo
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sexismo LGBT que mais fobia quando a
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gente vai ver quem estava depositado
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historicamente nos manicomios são
00:02:56
aquelas pessoas que nas suas próprias
00:02:58
condições nas suas pró próprias
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existências questionam uma Norma uma
00:03:02
Norma que é uma Norma de violência de
00:03:04
uma produção de vida desumanizada então
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a luta pela reforma psiquiátrica é antes
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de tudo uma luta contra o Manicômio
00:03:12
enquanto sociedade contra o Manicômio
00:03:14
enquanto uma lógica zilar manicomial e
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como você muito bem coloca por mais que
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a gente possa localizá-lo na década de
00:03:21
70 e isso também não é um acaso o que
00:03:24
que tava acontecendo na década de 70 uma
00:03:26
efervescência política a gente tinha
00:03:28
luta contra o regime ditatorial pela
00:03:31
reabertura democrática o movimento
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estudantil ganhando força mais uma vez
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movimento pela Anistia a gente tem no
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final da década de 70 que coincide o
00:03:41
movimento pela reforma sanitária
00:03:43
brasileira o movimento sanitário de modo
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geral o novo sindicalismo então a gente
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tinha todo um contexto aí de ebulição e
00:03:50
de efervescência política que se
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expressa também não apenas na
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psiquiatria mas no campo da Saúde como
00:03:57
um todo sendo a luta anti manicomial um
00:04:00
movimento antimanicomial que de novo
00:04:02
resulta na reforma psiquiátrica mas não
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é apenas ela uma das suas frações e
00:04:07
nesse contexto de efervescência de
00:04:09
ebulição política tem uma de suas
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frentes na luta antimanicomial que por
00:04:13
sua vez resulta na reforma psiquiátrica
00:04:16
só pra gente também não cair numa
00:04:17
história de que ah foram pessoas que eh
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irromperam contra os manicômios na
00:04:21
década de 70 foram também elas são
00:04:24
importantíssimas mas t esse movimento de
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Fato né na verdade ele começa Inclusive
00:04:28
a partir de uma eh de uma vivência de
00:04:31
profissionais de saúde inclusive que
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faziam parte do ministério da saúde e
00:04:35
que eh em visitas a esses manicom que
00:04:38
seria um lugar onde deveriam estar sendo
00:04:40
tratadas as pessoas perceberam eh
00:04:42
situações como essas que você eh traz
00:04:45
aqui né situação de violência situação
00:04:47
de aprisionamento eh castigos choques
00:04:51
elétricos a base desse tipo de
00:04:54
tratamento partia da ideia de que a
00:04:57
loucura era uma questão moral uhum não
00:04:59
só moral né E aí acho que antes até
00:05:02
mesmo de te responder é importante a
00:05:03
gente limpar esse terreno né que
00:05:06
Manicômio Não é tratamento a despeito do
00:05:09
que ele se coloca quem tá sendo tratado
00:05:11
ali não é a pessoa que tá ali dentro a
00:05:13
sociedade para que ela perman conceitual
00:05:15
aqui eu vou pular um pouco o roteiro da
00:05:17
entrevista você falou em tratamento
00:05:19
cuidado e tratamento quando a gente fala
00:05:21
de saúde mental são conceitos
00:05:24
convergentes ou cuidado e tratamento são
00:05:27
ideias divergentes não eles convergem só
00:05:31
que pensar cuidado é pensar de uma
00:05:32
maneira mais abrangente e mais Ampla que
00:05:35
inclusive agrega prevenção promoção
00:05:38
social de saúde e também diversas outras
00:05:41
modalidades de tratamento então cuidado
00:05:44
nesse sentido é é muito mais abrangente
00:05:47
é amplo assim citando uma teórica que eu
00:05:49
gosto bastante militante pesquisadora
00:05:51
Raquel passo o cuidado antes de tudo uma
00:05:54
necessidade ontológica do ser humano né
00:05:57
E que se expressa no campo da saúde
00:05:59
mental de várias formas Olha que
00:06:01
interessante eu gosto muito de um
00:06:02
provérbio africano que fala o seguinte
00:06:04
pra gente cuidar educar uma criança a
00:06:06
gente precisa de toda uma aldeia uhum né
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E aí dialogando até com a sua pergunta
00:06:12
eh anteriormente ao conceito de cuidado
00:06:15
é importante a gente conceituar o que
00:06:16
que é saúde mental para mim Saúde Mental
00:06:19
é produção de vida como a gente se
00:06:21
produz onde de que forma logo se ela é
00:06:25
produção de vida a gente não pode alocar
00:06:27
as formas de cuidado que são sociais
00:06:30
coletivas apenas no campo da saúde
00:06:34
mental muito menos legas a psiquiatria a
00:06:38
psicologia ao campo PS como se fosse uma
00:06:41
propriedade privada dele sendo que é
00:06:44
coletivo cas você diz que dentro desse
00:06:47
dessas melhorias de formas de tratamento
00:06:50
humanizados de cuidado que realmente tem
00:06:52
o objetivo de trazer de volta a saúde
00:06:55
mental reinserir na sociedade as pessoas
00:06:57
que estão com transtorno mentais com com
00:07:00
com as dificuldades que acabam buscando
00:07:02
o tratamento ou sendo encaminhados para
00:07:04
tratamento eh elas teriam uma uma lógica
00:07:07
diferente então de de cuidado Sim essa
00:07:12
essa mudança de uma forma de tratamento
00:07:16
que parte de eh de de uma uma uma lógica
00:07:20
de violência e de
00:07:22
segregação para uma lógica de cuidado de
00:07:25
reinserir de trazer inclusive as pessoas
00:07:28
eh e eh d o tratamento em liberdade como
00:07:33
uma das bases quando é que isso começa e
00:07:36
e da onde vem essa essa influência você
00:07:39
citou agora uma uma teórica e isso parte
00:07:43
também de um de outros profissionais que
00:07:45
começaram com isso Ali pela década de
00:07:47
60 que pessoas foram essas que
00:07:50
inspiraram e esse movimento no Brasil a
00:07:53
gente pode até mesmo antes da década de
00:07:55
60 70 entendendo esse movimento naquilo
00:07:57
que você aponta dos seus precedentes dos
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seus primórdios a gente poderia elencar
00:08:02
inúmeros indivíduos críticos
00:08:04
perspectivas críticas no próprio Campo
00:08:06
da psiquiatria da Psicologia citei que
00:08:09
inclusive não estão neles né citei aqui
00:08:10
o exemplo de Lima Barreto menciono para
00:08:13
quem tiver interesse os seus livros e
00:08:15
diário do hospício Cemitério dos vivos e
00:08:18
diário do hospício na qual ele tem uma
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crítica Ali pela via da literatura
00:08:21
poderia também mencionar a Carolina de
00:08:23
Jesus que eh n na sua vasta produção
00:08:27
literária mas sobretudo eh eh quarto do
00:08:30
despejo vai mencionar ali né
00:08:32
perspectivas de cuidado de tratamento
00:08:34
que de novo que não estão nos moldes
00:08:36
tradicionais mas dentro da própria
00:08:37
psiquiatria podemos mencionar eh D ní da
00:08:40
Silveira eh que tenta o movimento de
00:08:43
fato de questionar os ditames
00:08:45
tradicionais do manicômio da psiquiatria
00:08:48
podemos mencionar pessoas e movimentos
00:08:50
de outras realidades mas que influenciam
00:08:52
na realidade brasileira é um grande
00:08:54
exemplo por mais que não seja tão
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mencionado quanto deveria mas que é
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extremamente infl doente é a perspectiva
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da psiquiatria anticolonial de franç
00:09:02
fanon na Argélia em África o movimento
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da psiquiatria democrática na Itália que
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tem como principais nomes né Franco e
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Franca basala também posso mencionar o
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movimento da antipsiquiatria que se
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desenvolve sobretudo eh na Inglaterra e
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que tem nomes como David Cooper eh
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dentre outros que ganham uma atração
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histórica
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sobretudo já existiam nos seus
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primórdios mas sobretudo a partir do fim
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da segunda guerra mundial onde se teve o
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clique de que Opa os manicom estão muito
00:09:37
parecidos com os campos de concentração
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uhum acho que a gente tá errando em
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bastante coisa aqui e aí a liberdade sim
00:09:45
emerge nesse nesse sentido entendendo
00:09:47
saúde mental como produção de vida como
00:09:49
algo constitutivo de qualquer processo
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de Cuidado existe uma uma relação Clara
00:09:53
aí pela sua fala por todo esse histórico
00:09:56
entre a psiquiatria o cuidado com a com
00:09:59
a saúde mental ah vendo por uma
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perspectiva mais inclusive mais
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multiprofissional né mais
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multidisciplinar eh com há uma ligação
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política também e de fato no caso
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brasileiro da reforma psiquiátrica tem
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um viés político eh bem demarcado um
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grupo de de profissionais que começa ali
00:10:18
na década de 70 a questionar eh a forma
00:10:21
como estava sendo tratado da Saúde
00:10:23
Mental brasileira eles acabam sendo
00:10:25
inclusive demitidos do do Ministério da
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Saúde e da aí vem com todo esse
00:10:30
movimento a gente vai avançar um pouco
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aqui no tempo até que a gente chega em
00:10:34
2001 quando é aprovada a a lei
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10.216 considerada a lei antimanicomial
00:10:40
ou a lei da reforma psiquiátrica
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brasileira que conquistas essa lei que
00:10:46
hoje tá com mais de 20 anos na
00:10:48
implementação dela completando 20 anos
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em em 2023 quais são as conquistas dessa
00:10:55
dessa legislação na sua opinião como é
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que você enxerga hoje né passados 20
00:11:02
anos a atualidade dessa lei Olha antes
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de tudo ela é uma conquista né ela já é
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um resultado desse percurso dessa luta
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Histórica de usuários da saúde mental né
00:11:14
de profissionais de familiares de
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usuários dentre outros atores e sujeitos
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políticos no termo Mais amplo do termo
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não apenas político partidários mas
00:11:24
também políticos partidários
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institucionais não por acaso Se vem em
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termos de um projeto de lei Então por si
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por si própria ela já é um avanço uma
00:11:34
conquista frente ao que se tinha até
00:11:36
então e ela traz consigo inúmeras outras
00:11:38
né uma delas é justamente essa ideia
00:11:42
fundamental pra gente da Liberdade como
00:11:45
substância como conteúdo e como
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Horizonte de um cuidado em liberdade e
00:11:50
de um cuidado libertário que se oriente
00:11:54
de fato a liberdade dos indivíduos não
00:11:57
importe as suas condições não importe as
00:11:59
suas necessidades nesse processo ela
00:12:02
também junto de outras normativas né a
00:12:05
gente poderia pensar em 2003 o programa
00:12:07
de Volta Para Casa dentre outras a
00:12:09
política do Ministério da Saúde e de
00:12:11
saúde mental então ela vai conformando
00:12:13
toda uma rede
00:12:15
substitutiva que que é uma rede
00:12:17
substitutiva substitutiva é um Manicômio
00:12:19
Eu costumo falar que para produzir morte
00:12:21
é muito simples é muito fácil
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infelizmente basta eu ter um Manicômio
00:12:26
basta eu ter uma prisão eles são
00:12:28
instituições de produção de morte o
00:12:30
difícil é produzir vida o difícil é
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produzir vida naquilo que ela tem de
00:12:35
mais substantivo Então se para
00:12:37
mortificar física e subjetivamente a
00:12:40
gente precisa do manicômio para produzir
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vida em Saúde Mental a gente precisa de
00:12:43
toda uma rede só um serviço não vai dar
00:12:46
conta e aí então ela dá lastro normativo
00:12:49
impulsiona o desenvolvimento dessa rede
00:12:51
por meio dos centros de atenção
00:12:53
psicossocial os caps que tem várias
00:12:55
modalidades para álcool e Outras Drogas
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para criança e adolescente os infanto
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juvenis ela depois vai possibilitar né
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outros níveis de atenção e dispositivos
00:13:05
que aí eu poderia ficar muito tempo
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mencionando mas só para resumir aqui né
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como se precisar de algum tipo de
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internação não é em Hospital
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Psiquiátrico não é Manicômio é em
00:13:15
Hospital Geral até para que isso seja de
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curta ou curtíssima duração para que a
00:13:19
pessoa após o procedimento Volte pro seu
00:13:22
contexto de vida para que o cuidado
00:13:24
Continue em parceria com scaps com
00:13:26
atenção básica com as unidades básicas
00:13:28
de saúde então tudo que advém nesse
00:13:31
processo de conformação dessa tentativa
00:13:33
de cuidado integral em rede em
00:13:36
comunidade e em liberdade é muito
00:13:40
obviamente na esteira dessa lei da lei
00:13:44
10.216 que de novo diz de uma das
00:13:46
conquistas dessa luta muito Ampla que é
00:13:49
a luta antimanicomial e aí por fim só um
00:13:51
ponto que eu queria também ressaltar que
00:13:53
uma grande dificuldade de desafio já até
00:13:55
dialogando com o que você começa falando
00:13:57
que a gente tem é o é o cumprimento
00:13:59
dessa lei é que ela seja integralmente
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cumprida por exemplo a gente tem uma
00:14:04
resolução do Conselho Nacional de
00:14:06
Justiça desse ano com relação ao
00:14:09
fechamento dos ditos manicômios
00:14:11
Judiciários chamados hospitais de
00:14:13
Custódia que é basicamente né uma
00:14:15
resolução que orienta o cumprimento da
00:14:18
lei
00:14:18
10216 e em que ponto que tá isso
00:14:21
chegamos a eliminar esses manicômios
00:14:23
Judiciários Ainda temos essa esse tipo
00:14:26
de instituição eh dentro do da nossa
00:14:29
rede de hoje agora não vou chamar de
00:14:32
rede de atenção psicosocial que completa
00:14:34
com todo esse sistema que você colocou
00:14:36
esses manicom Judiciários enfim a isso é
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um dos Desafios que a esse movimento
00:14:43
pela reforma psiquiátrica que é o
00:14:44
movimento vivo ainda né Falando em vida
00:14:47
é um dos Desafios perfeito um dos um dos
00:14:50
principais e não só os manicômios
00:14:51
Judiciários Mas qualquer forma de
00:14:54
Manicômio até porque de novo o Manicômio
00:14:56
não é só uma instituição ele se
00:14:57
materializa de de maneira mais
00:14:59
pronunciada mais bem acabada nas
00:15:02
instituições manicomiais mas ele está
00:15:04
presente na nossa sociedade ele tá
00:15:05
presente não só no campo da Saúde Mental
00:15:08
ele tá presente na forma como eu lido
00:15:10
com a tal da criança problema ele tá
00:15:12
presente como eu a gente lida com as
00:15:14
contradições que nossa nossa própria
00:15:17
sociedade produz poderia mencionar uma
00:15:20
outra nova velha forma de Manicômio cada
00:15:23
vez mais presente na nossa sociedade
00:15:25
atual que são as comunidades
00:15:26
terapêuticas que inclusive não estão eh
00:15:29
por mais que estejam no Decreto 3088 que
00:15:32
é da rede de atenção psicossocial de
00:15:34
2011 que você mencionam né Eh mas assim
00:15:37
formalmente Elas têm ganhado dinheiro de
00:15:39
outros âmbitos de outros níveis né
00:15:41
estatais dos mais variadas hierarquias
00:15:44
mas que não necessariamente do da Saúde
00:15:47
então poderia mencioná-las e os
00:15:49
manicômios das suas formas mais
00:15:51
clássicas que são só serão de Fato
00:15:53
derrubados né eliminados assustados que
00:15:56
é até Talvez uma limitação da Lei 1016
00:15:59
porque ela não coloca de maneira
00:16:01
taxativa não temos que acabar com os
00:16:03
manicom algo progressivo gradual e a
00:16:07
gente sabe que nesse sentido né a
00:16:09
eliminação superação dessas instituições
00:16:12
mas ainda mais dessa lógica implica uma
00:16:15
perspectiva de transformação radical
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substancial da nossa sociedade como um
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todo quando você fala dessas
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instituições e me traz a também uma
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questão que é um conceito próprio da
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reforma psiquiátrica dessa eh luta antim
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ial desse toda essa política pela saúde
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mental desse movimento né Eh por essa
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por uma política de saúde mental
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realmente efetiva que é a chamada
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desinstitucionalização o que significa
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desinstitucionalizar no âmbito da Saúde
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Mental Prim que a gente costuma brincar
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no campo que é um trava língua antes de
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tudo a
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desinstitucionalizar difícil né tanto
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que a gente costuma falar de desin até
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para facilitar e não não engolar o a a
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nossa fala mas como você muito bem
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coloca dentro dessa dessa esteira a
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gente entende então que não nos serve
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apenas retirar as pessoas dos manicômios
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isso é fundamental é fundamental é
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necessário que os manicômios sejam
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findados enquanto instituições e num
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processo de fim da lógica ailar
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manicomial Mas e aí a gente tem que
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prestar cuidado e tem que prestar um
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cuidado que seja antagônico que seja
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diferente daquele que supostamente Como
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Eu mencionei Manicômio não é Cuidado não
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é tratamento mas que supostamente estava
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sendo colocado lá então a gente precisa
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de toda uma
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rede plural diversa de vários níveis de
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atenção de assistência porque as pessoas
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são plurais elas são diversas então para
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atender as suas necessidades
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assistenciais de produção de vida é
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necessário que a
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desinstitucionalização seja pessada em
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rede integrada o que a gente chama não
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caráter territorial comunitário então um
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dispositivo e mecanismo fundamental para
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isso é o que a gente chama de
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residências terapêuticas ou serviços
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residenciais terapêuticos que é
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totalmente diferente das Comunidades
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terapêuticas como é que acontece esse
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então eles são para pessoas que foram
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cronificada que ficaram tanto tempo nos
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manicômios ou qualquer tempo nessas
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instituições que chegou um momento uma
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condição na qual sua autonomia foi toida
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seus os vínculos familiares sociais
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foram tolhidos de tal forma né que a
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gente precisa que elas não apenas sejam
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retiradas dos Manic é um tempo de
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permanência fora do que seria o ideal
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para um tratamento ao invés de cuidar ao
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invés de melhorar saúde mental dessas
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pessoas quando você fala em cronificar
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São pessoas que passaram do tempo e
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agravaram uma situação de transtornos
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mentais é isso isso um pouco nessa
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direção assim e às vezes a gente não
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precisa nem por mais que na lei isso
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seja quantificado mas às vezes um
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Manicômio um dia pra pessoa lá já seja
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algo deletério até porque como eh eh
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como um outro teórico que Eu mencionei o
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Fran só não fala né eles são
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instituições de eh piora de agudização
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de de adoecimento né mas então essas
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pessoas que ficaram nos manicômios e que
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essa estadia nos manicômios foi
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suficiente para tolhas da sua própria
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vivência autônoma dos seus vínculos
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Então a gente tem as residências
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terapêuticas nas quais as pessoas o nome
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já diz Elas moram lá Mas moram lá com
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quê com todo um apoio de Equipe técnica
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lá com elas nessas residências e elas
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estão em liberdades em liberdade então
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assim elas inclusive podem ter acesso ao
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benefício o direito do programa de volta
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para casa que é uma renda que elas têm
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para ir no mercado para fazer suas
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compras para comprar o que elas ou seja
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para viverem E aí nisso elas vão ter
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toda uma retaguarda dos Caps das
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unidades básicas de saúde de acordo com
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as suas necessidades então Tô dando um
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exemplo de uma possibilidade que as
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próprias normativas que a reforma
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psiquiátrica coloca de
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desinstitucionalização que muitas das
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pessoas tomam erroneamente algumas com
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mal mais más intenções como sinônimo de
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desospitalização não é apenas retirar do
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manicômio é retirar e justamente colocar
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em vogga toda essa lógica assistencial
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que permita uma produção de vida o mais
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autônoma possível não é confundir a
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ideia de institucionalização com a ideia
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de desfazer as instituições no caso do
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manicômio é para de fato acabar mas aí o
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que que a gente dá em troca o que que a
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gente fornece substituição como
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substitutivo a isso aí temos que pensar
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em toda uma rede e essa rede hoje a rede
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formada pelo SUS que tem os caps né o
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Centro de Atenção psicossocial tem e os
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são são os serviços residenciais
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terapêuticos unidades de acolhimentos
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leitos em em hospitais eu tenho alguns
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números aqui do Ministério da Saúde 2020
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são
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2661 centros de apoio psicossociais
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686 serviços residenciais terapêuticos
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65 unidades de acolhimento e 1622 leitos
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em hospitais dados de 2020 atualizando
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isso deve estar um pouco melhor espero
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esperamos essa rede hoje ela é
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suficiente para atendimento da população
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como é que tá esse quadro hoje como é
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que tá esse
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hoje
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2023 ela precisa avançar demais assim
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mas a gente tem que ter todo cuidado de
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fazer essa crítica pra gente não
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reproduzir certos discursos que buscam
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justamente deslegitimar como se o
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problema fosse dela como se o problema
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fosse do SUS do Sistema Único de Saúde a
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questão é que o seu processo de
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implantação e aí remete aos Desafios que
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você muito bem coloca né ele passou por
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uma série de
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de estagnações de recuos a gente vive o
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que eu e outros pessoas têm denominado
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sobretudo a partir de 2015 2016 um
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período de
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contrarreforma psiquiátrica na qual a
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gente tem uma certa um certo tolhimento
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por exemplo da expansão de caps o número
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de caps que a gente tem que você
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menciona é bastante insuficiente é muito
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quem do que a gente gostaria assim como
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de unidades de acolhimento assim como a
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gente precisaria de muito mais mas no
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sentido de fortalecimento também disso
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então o problema não é a raps O problema
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não é o SUS Um dos problemas que
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atravessa rápidos o SUS é a falta de
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orçamento é a falta de dispêndio de
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verbas públicas e essa cont
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contrareforma eh seria mais uma questão
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orçamentária ou existem outras questões
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aí por exemplo nós tivemos um um Boom né
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um aumento do consumo de craque que gera
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problemas de saúde mental na na
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população especial princialmente na
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população mais vulnerável é o caso grave
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que a gente tem em São Paulo nós temos
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lá a chamada
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Cracolândia e esse problema se tornando
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um problema social ele leva também
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algumas decisões políticas no sentido de
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eh segmentar eh as pessoas nesse com com
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transtornos mentais adivinos ou então
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com vício em craque para para esses
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tratamentos específicos essa segmentação
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né por tipos de transtornos m nas formas
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de tratamento Isso faz parte dessa contr
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contrarreforma é um problema ou é uma
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questão que ajuda na política nacional
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de saúde mental então Eh antes de tudo a
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cont contrarreforma não é só
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orçamentária se eu puder bem ser bem
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sintético aqui ela tem alguns Pilares
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constitutivos tá o primeiro diz respeito
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à questão do orçamento que ela é um
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processo de reprivatização ou de
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privatização das perspectivas de cuidado
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então o saqueio do fundo público da
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verba pública que deveria para caps para
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sus para instituições não governamentais
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como as comunidades terapêuticas que não
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são apenas não governamentais mas são
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asilares e manicomiais e o segundo ponto
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portanto é isso não é apenas privatizar
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não é apenas mercantilizar Como é
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manicomial o cuidado por isso que é uma
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contrareforma ela vai na contramão do
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que a reforma psiquiátrica tava propondo
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e um outro Pilar constitutivo que é
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fundamental da a gente mencionar ela tá
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atrelada a um aprofundamento uma
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ascensão conservadora de um
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conservadorismo de várias frentes que aí
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dialoga diretamente com isso que você tá
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falando na minha avaliação
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eh a o campo da de álcool e Outras
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Drogas ele tem sido uma das principais
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brechas que estão sendo utilizadas para
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contrarreforma psiquiátrica para esses
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retrocessos no campo da Saúde Mental de
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modo geral até porque tem uma
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perspectiva assistencial álcool Outras
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Drogas tá dentro do guarda-chuva do
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campo da Saúde Mental e uma delas é
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justamente esse Pânico moral e aí remete
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a sua pergunta lá do início de como que
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o manicom essa lógica segregação Tem sim
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um fundo moral é um Pânico moral
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vinculado à suposta epidemia do craque
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que não não que não seja um problema mas
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que os próprios estudos científicos né
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comprovam de maneira sem deixar né Eh
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nenhum tipo de dúvida que não se tratou
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necessariamente de uma epidemia de que é
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um problema mas que De tudo um problema
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social de pobreza de uma série de outras
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coisas de desigualdade social de fome de
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falta de acesso às políticas esses
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fatores de desigualdade social que são
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eh bastante graves no Brasil eles acabam
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de alguma forma hoje ainda promovendo a
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os problemas de saúde mental sim se
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Saúde Mental é produção de vida é isso
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eu tô comendo como meu como onde eu moro
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eu moro como eu trabalho como é que is
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se dá é obviamente que é complexo a
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gente trabalha numa lógica aqui de
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múltiplas determinações e mediações mas
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evidentemente assim se eu entendo saúde
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mental como produção de vida tudo isso
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tá de fato conjugado E aí qual que é o
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problema nessas perspectivas que a gente
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tá aqui tratando enquanto retrocessos
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Esquece tudo isso vamos segregar e
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asilar ainda mais as pessoas como se o
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problema fosse o craque ou a relação que
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a pessoa estabelece com a droga ou mesmo
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o seu transtorno dito transtorno mental
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indo na contramão daquilo que a própria
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reforma defende a gente vai deixar a
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doença entre parênteses e olhar pra
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pessoa como é que esse sujeito se produz
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onde Em qual contexto em qual realidade
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né Então essas perspectivas de
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retrocesso que tem não só alco Outras
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Drogas mas que tem na saúde mental de um
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modo geral higienistas racistas como a
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gente vê em perspectivas de internação
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compulsória Como tem sido aventada em
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várias realidades elas descaracterizam
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toda essa complexidade que a gente tá
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justamente aqui querendo colocar sob o
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olhar da Saúde Mental bom Pedro Costa Eu
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Quero Agradecer mais uma vez a sua
00:27:08
participação em nosso programa Obrigado
00:27:10
pela sua presença obrigado Eu que
00:27:12
agradeço aí parabenizo novamente pela
00:27:14
iniciativa e eu agradeço também a você
00:27:16
que acompanha a programação da TV Senado
00:27:18
assine o canal da TV Senado no YouTube
00:27:21
ative as notificações e acompanhe toda a
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produção do Poder Legislativo
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diretamente da fonte na TV cen
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democracia todo
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[Música]
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dia