Glossário político: O que é ser fascista?

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Sintesi

TLDRO vídeo analisa o uso da palavra "fascista" na política brasileira, destacando sua origem e evolução. A palavra foi utilizada mais de 400 vezes na Câmara dos Deputados nos últimos cinco anos, muitas vezes como um insulto sem relação com a ideologia original. O fascismo, criado por Mussolini na Itália, e o nazismo de Hitler são discutidos em relação às suas características comuns, como autoritarismo e nacionalismo. O vídeo também aborda o integralismo no Brasil e o bolsonarismo, questionando a validade do uso do termo "fascista" na política atual e sua polarização. A discussão inclui a ambiguidade do termo e seu uso como arma política, refletindo sobre os perigos que a democracia pode enfrentar.

Punti di forza

  • 📜 O termo "fascista" é amplamente utilizado na política brasileira.
  • 🇮🇹 Mussolini foi o criador do fascismo na Itália.
  • ⚔️ O fascismo e o nazismo compartilham características autoritárias.
  • 🇧🇷 O integralismo foi o movimento fascista no Brasil.
  • 📈 O bolsonarismo é considerado por alguns como um movimento neofascista.
  • 🤔 O uso do termo "fascista" na política atual é debatido.
  • 📚 O fascismo é um fenômeno complexo e difícil de definir.
  • 🗣️ O messianismo é uma característica de líderes populistas.
  • ⚖️ O uso excessivo do termo pode banalizar o fascismo histórico.
  • 🔍 A polarização política é um desafio contemporâneo.

Linea temporale

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    Nos últimos cinco anos, a palavra 'fascista' foi amplamente utilizada em discursos políticos no Brasil, especialmente na Câmara dos Deputados, onde se tornou um insulto comum, muitas vezes desvinculado de sua origem ideológica. O fascismo, que surgiu na Itália sob Benito Mussolini, foi um movimento que buscou combater o socialismo e se caracterizou por sua violência e autoritarismo, culminando na ascensão de regimes totalitários que levaram à Segunda Guerra Mundial.

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    O fascismo e o nazismo, considerados de extrema direita, compartilham características como militarismo, racismo e controle social. Apesar de algumas tentativas de associar o fascismo ao socialismo, a maioria dos estudiosos concorda que essas ideologias são opostas. O fascismo é visto como uma resposta a crises sociais e políticas, promovendo uma agenda nacionalista e autoritária que rejeita as liberdades democráticas.

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    Atualmente, o uso do termo 'fascista' para descrever movimentos contemporâneos é debatido. Líderes como Giorgia Meloni na Itália e Jair Bolsonaro no Brasil são frequentemente associados a ideologias fascistas, embora neguem essa conexão. A polarização política e o uso de rótulos como 'fascista' para deslegitimar adversários são comuns, mas podem banalizar o significado histórico do fascismo, dificultando um debate político mais construtivo.

Mappa mentale

Video Domande e Risposte

  • O que é fascismo?

    Fascismo é uma ideologia política que surgiu na Itália no início do século 20, caracterizada por um regime autoritário e nacionalista.

  • Quem foi Benito Mussolini?

    Benito Mussolini foi o líder do movimento fascista na Itália e governou como ditador entre 1925 e 1943.

  • Como o fascismo se relaciona com o nazismo?

    O fascismo inspirou o nazismo, que se desenvolveu na Alemanha sob Adolf Hitler, ambos compartilhando características autoritárias e nacionalistas.

  • O que é integralismo no Brasil?

    Integralismo foi um movimento político brasileiro inspirado no fascismo, ativo principalmente na década de 1930.

  • O que caracteriza o bolsonarismo?

    O bolsonarismo é um movimento político no Brasil associado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, caracterizado por nacionalismo e retórica populista.

  • O termo 'fascista' é usado corretamente na política atual?

    O uso do termo 'fascista' na política atual é debatido, com muitos argumentando que ele é usado de forma exagerada e imprecisa.

  • Qual é a relação entre fascismo e extrema direita?

    O fascismo é amplamente considerado um movimento de extrema direita, oposto ao comunismo.

  • O que é o 'messianismo' no contexto político?

    Messianismo é a crença em um líder que promete salvar a nação e resolver seus problemas.

  • Como o fascismo é visto na academia?

    Na academia, o fascismo é estudado como um fenômeno complexo, com muitos debates sobre suas definições e características.

  • Por que o uso do termo 'fascista' pode ser problemático?

    O uso do termo pode banalizar o fascismo histórico e dificultar a compreensão dos movimentos políticos contemporâneos.

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    Nos últimos cinco anos, a palavra “fascista” foi usada mais de 400 vezes em discursos de
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    deputados brasileiros na Câmara.
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    (Carla Zambelli) Eu fui chamada de fascista indiretamente por uma parlamentar...
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    (André Figueiredo) Todos nós da bancada
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    que defende a democracia e que se opõe a um governo antidemocrático e fascista...
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    Na forma como ele é usado hoje para xingar adversários políticos, tem pouco ou às
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    vezes nada a ver com a ideologia criada na Itália do início do século 20 por Benito
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    Mussolini.
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    Essa ideologia inspirou outros extremismos — como o nazismo — e foi o catalisador
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    para o mais sangrento conflito na história, a Segunda Guerra Mundial.
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    Aliás, o tema voltou aos holofotes na Itália com a chegada ao poder da primeira-ministra
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    Giorgia Meloni, cujo partido tem raízes no fascismo.
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    Mas como fascista virou um insulto tão comum?
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    Precisamos voltar no tempo.
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    O cenário é a Europa logo depois da Primeira Guerra Mundial.
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    O conflito sangrento deixou cerca de 20 milhões de mortos, 20 milhões de feridos e uma Europa
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    destruída.
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    Também sacudiu as instituições políticas da região.
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    Na Rússia os bolcheviques implantavam a primeira experiência comunista com a revolução de
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    1917.
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    Ao mesmo tempo, na Itália, Benito Mussolini, um ex-socialista, criava o movimento que ficaria
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    conhecido como fascismo.
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    O objetivo principal era combater o socialismo.
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    O nome se baseava na palavra de origem latina fasces.
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    Uma espécie de machado com gravetos amarrados usado na Roma antiga como símbolo de autoridade
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    e unidade do Estado.
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    Mussolini e seus aliados eram conhecidos como os “camisas-negras”.
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    Passaram a atuar como um partido na política italiana, mesmo que suas propostas não fossem
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    muito claras e que, por vezes, não passassem de atos de violência.
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    Para se ter uma ideia, Mussolini foi questionado certa vez pelo jornal italiano Il Mondo sobre
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    quais seriam suas principais propostas políticas.
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    Em resposta, o líder fascista disse: "Nosso programa é quebrar os ossos dos democratas
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    do Il Mondo, e quanto antes, melhor".
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    Em 1921, com poder crescente, o Partido Fascista foi convidado a integrar a coalizão do governo
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    italiano.
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    No ano seguinte, num momento de caos político na Itália, os camisas-negras marcharam por
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    Roma.
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    Mussolini se apresentou como o único homem capaz de restaurar a ordem.
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    Foi assim que ele chegou ao poder, com apoio de grandes empresários e do Vaticano.
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    Aos poucos desmontou todas as instituições democráticas.
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    Em 1925, virou ditador e assumiu o controle de todos os poderes do Estado.
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    O regime parlamentar e democrático italiano daria lugar a um Estado totalitário, sem
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    liberdades individuais ou políticas.
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    Depois do início do movimento fascista italiano, seria a vez do líder nazifascista Adolf Hitler
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    chegar ao poder na Alemanha em 1933.
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    Hitler propunha remédios extremistas para os problemas do pós-guerra e culpava abertamente
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    comunistas, judeus, ciganos e minorias religiosas por essas mazelas.
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    Em 1920, ele fundou o movimento nazista com bandeiras nacionalistas, antissemitas, anticomunistas
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    e anticapitalistas.
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    Em 1932, com a Alemanha em frangalhos política e economicamente, os nazistas viraram o maior
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    partido do Parlamento.
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    No ano seguinte, Hitler virou chanceler da coalizão de governo e, como Mussolini, desmontou
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    as instituições democráticas.
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    Virou um ditador.
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    Em 1939, os fascistas italianos e os nazistas alemães assinaram um pacto militar, e a Alemanha
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    invadiu a Polônia, dando início à Segunda Guerra Mundial.
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    A ascensão de Mussolini e Hitler fez com que analistas no mundo todo passassem a tentar
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    entender a ideologia responsável pelo genocídio de milhões de pessoas e por uma guerra que
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    abalaria as estruturas do mundo todo.
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    Ao longo de décadas, estudiosos conseguiram identificar alguns ingredientes típicos do
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    caldeirão fascista.
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    Vou listar alguns: um líder forte,
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    um contexto de crise socioeconômica, algum apoio das elites capitalistas,
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    o militarismo, o racismo,
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    o pragmatismo, ou seja, adotar e abandonar ideias a depender das circunstâncias,
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    o Anti-intelectualismo, o controle da sociedade,
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    as paixões mobilizadoras, a propaganda,
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    a mentira, o medo generalizado,
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    a violência, a religião,
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    o anticomunismo e o nacionalismo
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    Há dezenas de milhares de livros e artigos em torno do tema.
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    Mas, nas palavras do historiador americano Robert Paxton, "no final das contas, nenhuma
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    interpretação do fascismo parece ter conseguido satisfazer a todos de forma conclusiva".
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    É que o fascismo tem muita coisa em comum com outras formas de poder totalitárias,
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    ditatoriais, populistas, autoritárias e tirânicas.
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    Para Robert Paxton, o fascismo vem da preocupação obsessiva de um determinado grupo social com
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    a decadência e a humilhação.
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    Disso surge um partido de base popular formado por militantes nacionalistas, que recebe algum
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    tipo de cooperação, mesmo que ambígua, das elites tradicionais.
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    O avanço do fascismo se dá com a rejeição às liberdades democráticas; a limpeza étnica,
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    uma expansão internacional violenta; e desrespeito às leis e à ética.
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    No mundo acadêmico e político — inclusive na Itália e na Alemanha —, há praticamente
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    um consenso de que o fascismo e o nazismo são de extrema direita.
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    Ou seja, estão no lado completamente oposto do comunismo nessa espécie de escala ideológica.
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    O próprio Museu do Holocausto em Israel, fundado em homenagem aos mais de 6 milhões
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    de judeus mortos pelo regime liderado por Hitler, classifica o nazismo como de direita.
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    O museu avalia que o clima de frustração após a Primeira Guerra Mundial e a percepção
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    de ameaça do comunismo, “criou solo fértil para o crescimento de grupos radicais de direita
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    na Alemanha, gerando entidades como o Partido Nazista".
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    Para Kevin Passmore, autor de Fascismo: Uma Breve Introdução, o fascismo é um movimento
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    de extrema direita justamente porque se opõe com hostilidade extrema ao socialismo e ao
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    feminismo.
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    O fascismo alega que esses movimentos priorizam, entre aspas, "classes ou gêneros em vez da
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    nação".
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    Essa oposição aproxima os fascistas a setores conservadores no campo da direita, que são
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    contrários a mudanças econômicas, sociais, políticas, morais ou culturais.
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    Mas os fascistas estão dispostos a ir bem além e atropelar os interesses conservadores
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    – inclusive família, propriedade e religião – se isso for necessário para garantir
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    o que enxergam como os interesses da nação.
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    Por outro lado, um grupo bem pequeno de especialistas elenca semelhanças entre o fascismo e o comunismo.
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    E parte desses especialistas (e alguns políticos) se baseia nisso para alegar que o fascismo
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    é de esquerda.
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    O argumento é que tanto o comunismo quanto o fascismo contestam o capitalismo liberal
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    e são totalitários, ou seja, controlam todos os aspectos da vida das pessoas.
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    O "socialista" no nome do partido liderado por Hitler, Partido Nacional-Socialista, é
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    frequentemente citado nos debates de internet que falam no nazismo como um movimento de
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    esquerda.
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    O próprio Hitler comentou o tema em uma entrevista a George Sylvester Viereck, em 1923.
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    Hitler explicou por que se declarava um “Nacional Socialista” uma vez que o programa de seu
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    partido era a antítese do que era comumente associado ao socialismo.
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    Ele respondeu que queria tomar a expressão ‘socialismo’ dos socialistas.
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    Estudiosos concordam que associar Hitler ao socialismo não faz sentido.
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    O linguista brasileiro Izidoro Blikstein, especialista na análise do discurso nazista
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    e totalitário, explica que a base do nazismo está no termo ‘nacional’, não no ‘socialista’.
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    Ou seja, o mais importante era a defesa do que eles enxergavam, entre aspas, como ‘próprio
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    dos alemães’.
  • 00:08:51
    É a chamada teoria do arianismo.
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    "Dizer apenas que Hitler era um político de direita é apequenar o nazismo.
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    Foi mais do que direita ou esquerda.
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    Foi uma doutrina arquitetada para defender uma raça, embora esse conceito seja discutível
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    e pouco científico.", avalia Bilkstein.
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    Já a historiadora Denise Rollemberg diz que é bastante complicado classificar o nazifascismo
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    no espectro político atual.
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    Ela explica: "O nazismo nasce no meio de uma crise de referências
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    muito grande após a Primeira Guerra.
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    Os valores muitas vezes vão se embaralhar, e esses conceitos de direita e esquerda atuais
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    não resolvem bem o problema.
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    (...) Eles rejeitavam o que era a direita tradicional da época e também a esquerda
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    que estava se estabelecendo.
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    Eles procuravam se mostrar como um terceiro caminho."
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    Isso nos leva a outro grande debate: dá para chamar de fascista pessoas ou movimentos extremos
  • 00:09:47
    dos dias de hoje?
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    Ou será que o termo só serve para se referir àquele contexto do início do século 20?
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    É algo em discussão no próprio berço do fascismo.
  • 00:09:58
    A Itália elegeu em 2022 como premiê Giorgia Meloni, a primeira líder de extrema direita
  • 00:10:04
    ali desde a queda de Mussolini.
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    Meloni rejeita veementemente essa conexão e diz que a ideologia fascista ficou para
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    a história.
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    Mas ela pertence ao Irmãos da Itália, partido que tem raízes no movimento fascista e tem
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    como símbolo as chamas tricolores, associadas a Mussolini.
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    O cientista político Gianlucca Passarelli explicou essa aparente ambiguidade à BBC:
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    “O partido dela não é fascista.
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    Fascista significa chegar ao poder e destruir o sistema.
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    Ela não fará isso, nem poderia.
  • 00:10:53
    Mas há alas do partido ligadas ao movimento neofascista.
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    Ela sempre ficou no meio desses dois lados”.
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    O historiador Emilio Gentile é considerado o maior especialista vivo em fascismo na Itália.
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    Para ele, os termos fascismo ou fascista só devem ser adotados para descrever os movimentos
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    de massa organizados militarmente que tomaram o poder entre a Primeira e a Segunda Guerra,
  • 00:11:17
    que negaram a soberania popular e transformaram completamente a sociedade com objetivos imperialistas.
  • 00:11:24
    Ou seja, promoveram a dominação política, econômica e cultural de outros países e
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    territórios.
  • 00:11:31
    Seria um erro, na visão de Gentile, usar essas palavras para falar dos movimentos violentos
  • 00:11:37
    de extrema direita de hoje.
  • 00:11:39
    O motivo é que isso nos impediria de entender o que há de novo nesses movimentos atuais
  • 00:11:44
    e o perigo que eles representam, argumenta o historiador italiano.
  • 00:11:49
    Ele disse: "O problema hoje não é o retorno do fascismo,
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    mas quais são os perigos que a democracia pode gerar por si só, quando a maioria da
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    população — ao menos, a maioria dos que votam — elege democraticamente líderes
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    nacionalistas, racistas ou antissemitas."
  • 00:12:08
    Isso não é um consenso.
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    O especialista em radicalismo e populismo Federico Finchelstein enxerga vários paralelos
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    entre o fascismo histórico do início do século 20 e líderes que ele classifica como
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    populistas no século 21.
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    Esses líderes costumam se apresentar como solução messiânica dos problemas nacionais
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    e como representantes autênticos da vontade do povo.
  • 00:12:33
    Finchelstein argumenta que o populismo é uma forma autoritária de democracia que reformulou
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    o fascismo depois do fim da Segunda Guerra, em 1945.
  • 00:12:43
    Ele, inclusive, cita como exemplos desse "novo populismo" o trumpismo nos Estados Unidos
  • 00:12:49
    e o bolsonarismo no Brasil.
  • 00:12:51
    Já que estamos falando de Brasil, vamos relembrar a história do fascismo no país.
  • 00:12:57
    Aqui, esse movimento era chamado de integralismo.
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    Inspirada em Mussolini, a Ação Integralista Brasileira, a AIB, surgiu em 1932 com um discurso
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    marcado por anticomunismo, nacionalismo, antiliberalismo, defesa do cristianismo, conservadorismo, corporativismo,
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    antissemitismo e culto ao seu líder e fundador, o escritor Plínio Salgado.
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    Para ele, o liberalismo político-econômico e o comunismo eram faces da mesma moeda.
  • 00:13:29
    O Brasil chegou a ter quase 200 mil filiados ao movimento integralista, chamados de camisas-verdes,
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    em alusão aos camisas-negros italianos.
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    Todas as sedes do movimento eram decoradas com fotos de Plínio Salgado, e cartazes com
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    os dizeres: "O integralista é o soldado de Deus e da pátria, homem novo do Brasil que
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    vai construir uma grande nação".
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    Para Robert Paxton, a AIB "foi a coisa mais próxima a um partido de massas fascista nativo
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    da América Latina".
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    Mesmo depois que o partido foi extinto por Getúlio Vargas, que Plínio Salgado perdeu
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    uma eleição presidencial e morreu, em 1975, o integralismo não acabou.
  • 00:14:13
    O historiador brasileiro Leandro Pereira Gonçalves explica que o movimento se pulverizou nos
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    anos 1970 e fez nascer vários pequenos grupos neofascistas.
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    Um deles reivindicou a autoria de um ataque a bomba contra a sede do grupo humorístico
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    Porta dos Fundos, no Rio de Janeiro, em 2019.
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    Além disso, o lema do integralismo, "Deus, Pátria, Família", voltou à tona como lema
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    da Aliança Pelo Brasil, partido que o presidente Jair Bolsonaro tentou criar, sem sucesso.
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    O bolsonarismo, por sua vez, é caracterizado por alguns pesquisadores como um movimento
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    neofascista ou pós-fascista.
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    Veja a descrição do historiador argentino Federico Finchelstein:
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    "No Brasil, uma ideologia com propagandas golpistas, muito próxima do fascismo, tem
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    se intercalado com o nacionalismo e o messianismo".
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    Messianismo, nesse caso, seria a crença em um líder que chegaria para salvar a todos
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    e tornar a vida melhor.
  • 00:15:14
    A associação do bolsonarismo com o fascismo, no entanto, é fortemente negada por apoiadores
  • 00:15:20
    de Bolsonaro.
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    Veja o que escreveu no Twitter o filho dele e deputado federal Eduardo Bolsonaro:
  • 00:15:26
    "Qualquer um que se oponha ao PT será chamado de nazista, fascista.
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    Não se trata de um conceito, mas sim uma tentativa de caluniar o oponente.
  • 00:15:36
    Tática do vale-tudo!
  • 00:15:37
    Os rótulos (fascista, negacionista etc) não fazem qualquer sentido, não têm conexão
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    com a realidade, apenas servem para controlar a narrativa."
  • 00:15:48
    Segundo o autor Wilson Gomes, a estratégia política de chamar adversários de fascistas,
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    genocidas ou comunistas busca o pânico moral e satanizar os adversários.
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    Abre aspas: "Você transforma o adversário, em termos discursivos, em uma posição inaceitável
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    de um ponto de vista moral”.
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    Será que isso banaliza o fascismo e o nazismo?
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    É um debate recorrente.
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    O historiador americano Stanley Payne, um dos maiores estudiosos do movimento fascista,
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    diz que o fascismo "continua sendo o mais indefinido dos termos políticos mais importantes".
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    Aliás, essa indefinição é ideal para impulsionar o uso indiscriminado do termo – parecido
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    ao que ocorre com outros termos políticos de difícil definição, como liberal, conservador
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    e comunista.
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    Em seu livro Antifascismo, o jornalista e escritor conservador americano Paul Gottfried
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    argumenta que termos como fascista e nazista são usados atualmente pela esquerda como
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    instrumento de propagação do medo.
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    Mas a acusação de fascista não se restringe a políticos ou personalidades de direita.
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    Até mesmo Lula já foi chamado de fascista por adversários da direita ou mesmo da esquerda,
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    como Ciro Gomes na campanha presidencial de 2022.
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    O curioso é que essas referências ao fascismo ou ao nazismo, além de muitas vezes serem
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    exageradas, academicamente imprecisas e falaciosas, têm pouco poder de convencimento, na opinião
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    da English Speak Union, ONG britânica que promove a comunicação e o pensamento criativo.
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    Amanda Moorghen, pesquisadora da ONG, concluiu que, entre aspas:
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    "Adotar acusações de fascismo como insulto não ajuda a se aproximar do público nem
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    favorece seu ponto no argumento.
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    Em vez disso, você aumenta o nível de agressividade do debate, forçando uma polarização entre
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    'bom' e 'mau' numa discussão que, por outro lado, poderia ter posições mais razoáveis
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    dos dois lados".
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    Por hoje é só, mas fique de olho em mais vídeos do nosso glossário da política no
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    canal da BBC News Brasil no YouTube.
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    Obrigada pela audiência, tchau!
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