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[Música]
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Oi, pessoal. Hoje o assunto esquentou.
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Sabe essa história de uma possível
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tarifa de 50% dos Estados Unidos sobre
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produtos brasileiros? Bom, a BRA sentiu
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na hora. As ações nossas chegaram a cair
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mais de 8%. A primeira leitura foi:
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"Hum, a Imraer tá muito vulnerável, né?
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Mas será que é só isso ou tem mais coisa
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aí? A gente vai fazer uma análise mais a
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fundo aqui, baseada num artigo que saiu
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sobre tarifa Trump em Braer e as aéreas
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americanas. A ideia é entender as
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camadas por trás dessa reação inicial,
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porque assim, colhando rápido, a
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preocupação faz sentido. Os Estados
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Unidos compram quanto? Acho que uns 60%
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do que a Embraer vende é muito. E aí tem
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dois medos principais circulando. O
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primeiro é hum aumentar o custo pra
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própria Embraer, né? Especialmente
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naqueles jatos executivos que ela manta
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lá na Flórida, os Prators, os Phanoms,
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eles usam um monte de peça que vem do
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Brasil. Uma análise da XP Investimentos
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até calculou, olha só, que cada 10
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pontos percentuais de tarifa podiam
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cortar o EBIT da Embraé, que é o lucro
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operacional, né? Podia cortar em até 95
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milhões de dólares. Isso lá para 2026 é
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bastante dinheiro. E o segundo medo é
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com os jatos comerciais regionais. A
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ideia é que a demanda poderia cair
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porque a tarifa teoricamente iria pro
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cliente final, quer dizer, paraa
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companhia aérea americana, deixaria o
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avião mais caro. Parece ruim paraa
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Embraer, né?
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>> Sim, parece. Mas o que é fascinante
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aqui, sabe? É um detalhe bem específico
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do mercado de aviação regional
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americano, a tal da cláusula de escopo
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ou scope clause, como eles chamam. Essa
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cláusula ela é ela é a chave para
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entender porque que a Embraer tá numa
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posição diferente. Basicamente é um
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acordo entre as grandes companhias
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aéreas e os sindicatos de pilotos delas.
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E esse acordo limita muito o tamanho e o
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peso dos aviões que podem voar nas rotas
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regionais, aquelas operadas por empresas
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menores parceiras. Geralmente o limite é
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umas 39 toneladas. A ideia original era
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proteger o emprego dos pilotos mais
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experientes das linhas principais.
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>> Ah. Ah, entendi. E aí, aqui é que a
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coisa fica interessante mesmo. A linha é
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um da Embraer, especialmente o E175, que
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é o mais vendido deles, foi feito quase
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que sob medida para essas regras. Ele se
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encaixa direitinho nos limites de peso,
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de capacidade. Ouvi um analista da XP
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dizer que nesse início específico criado
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pela Scope Close, a Embraer quase não
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tem concorrente direto. É isso mesmo?
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Exatamente. É quase um encaixe perfeito.
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E a dependência das aéreas americanas
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fica muito clara quando a gente olha os
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pedidos firmes da Embraer. Pensa só, dos
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336
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jatos comerciais que eles têm
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encomendados,
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181 são para empresas dos Estados Unidos
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e não são empresas pequenas, não.
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American Airlines pediu 90 e 175.
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Republic Airlines 40, Skywest 16.
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Horizoner, que é do grupo Alaska, mais
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cinco. A lista é grande e o ponto
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crítico é não tem muita alternativa
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fácil no mercado para elas.
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>> Mas espera aí, como assim não tem
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alternativa? E a Boeing e a Airbus, elas
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não poderiam, sei lá, adaptar o modelo,
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acelerar a produção para pegar essa
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fatia sem brechecas cara demais?
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>> Então, é mais complicado do que parece.
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O A220 da Airbus, por exemplo, que era
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um projeto da Bombardier, né,
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concorrente histórica da Embryer, ele é
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maior, tem uns 135 assentos contra os 88
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do E175 padrão. Muitas vezes ele já fica
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fora dos limites da scope clause. E tem
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outra coisa, tanto a Boeing quanto a
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Airbus, nossa, elas estão com as
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carteiras de pedidos lotadas, coisa de
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mais de 5600 para Boeing, 8600 para
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erbas. Ela simplesmente não tem como
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absorver essa demanda específica por
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jatos desse tamanho da Embraer sem criar
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um gargalo gigantesco nas próprias
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fábricas que já estão no limite. Para
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essas aéreas regionais americanas, a
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Embraer acaba sendo, em muitos casos, a
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única opção viável, pelo menos no curto
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e médio prazo, para manter e renovar a
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frota dentro das regras do sindicado.
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>> Entendi. Então, se a gente junta as
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peças, essa ameaça de tarifa pode acabar
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virando um tiro no pé, né? prejudicar a
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Embraer nesse segmento poderia, na
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prática, travar uma parte importante da
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malha aérea regional lá nos Estados
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Unidos. Um estrategista da RB
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Investimentos falou algo nessa linha.
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Mexer com a Embraé é mexer com o
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funcionamento de dezenas de aéreas
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americanas, afetar a cadeia toda da
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aviação por lá. É curioso pensar como
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uma regra interna de sindicato acaba
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pesando tanto assim no comércio
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internacional, né? Talvez essa ameaça de
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tarifa seja mais uma tática de
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negociação mesmo.
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>> Pode ser. E a reação da Imbraer e do
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próprio mercado parece que começou a
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refletir essa complexidade toda. A
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empresa já disse que tá conversando,
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buscando restabelecer a alíquota zero
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com as autoridades americanas. E as
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ações, lembra daquela queda inicial de
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mais de 8%, elas recuperaram boa parte
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no mesmo dia. Fecharam com uma baixa bem
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menor, de 3,7%.
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Isso meio que sugere, né, que o mercado
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começou a sacar que a história não é tão
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simples assim, que não é só a Embraer
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que perde.
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>> Então o que a gente tira disso tudo? Que
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sim, a tarifa é um risco, claro, mas mas
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essa dependência forte das companhias
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regionais americanas pelos atos
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específicos da Imbraer, muito por causa
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da scope clause e da falta de outras
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opções rápidas, isso cria uma
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interdependência muito forte. O impacto
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da tarifa poderia ser sentido e talvez
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até mais forte dentro da própria
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economia americana. Aquela
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vulnerabilidade que parecia óbvia no
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começo, na verdade, esconde uma posição
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de hum bastante força da Embraer nesse
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nicho específico que é vital para eles.
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>> Exatamente. E isso levanta uma questão
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importante pra gente pensar, né, para
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deixar no ar. Se essa interdependência é
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tão crítica assim, quais seriam os
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efeitos em cascata lá nos Estados Unidos
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mesmo, para aquelas cidades menores, as
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comunidades que dependem totalmente
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dessas rotas aéreas regionais para se
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conectar. O que aconteceria se o
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fornecimento desses jatos da Embraer
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fosse realmente interrompido ou muito
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prejudicado por uma tarifa dessas? Fica
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aí a reflexão sobre as consequências
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inesperadas, né?
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A Flexjet Jet, que é uma gigante
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americana de jatos particulares, parece
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que não piscou. Eles têm aquele acordo
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enorme com a nossa Embraer.
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>> Sim, o acordo bilionário.
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>> E mesmo com essa ameaça de tarifa, eles
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sinalizam que vão manter. A pergunta é:
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como assim? Por quê? O que que tá
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rolando nos bastidores? Vamos tentar
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entender isso melhor hoje.
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>> É uma é uma dinâmica bem interessante
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mesmo. Esse acordo, só para lembrar, foi
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fechado em fevereiro, né?
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>> Isso.
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>> Prevê até 212 jatos. É muita coisa. O
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valor pode chegar a 7 bilhões de dólares
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se a gente considerar preço de tadela.
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>> Puxa vida.
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>> E as entregas nem começaram, são para
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2026 em lente,
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então é um compromisso de longuíssimo
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prazo.
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>> E a Flexchet logo de cara tentou jogar
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água na fervura, né? falou que os aviões
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já contratados estariam tipo protegidos
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por acordos anteriores.
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>> Exatamente. Foi aquela mensagem de calma
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pessoal, o que tá no papel tá seguro. Só
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que
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>> sempre tem o né?
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>> Sempre tem.
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>> Qual foi o dessa vez?
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>> Eles deixaram bem claro que pra frente
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ou dependendo de como a regra for
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aplicada, custos adicionais poderiam sim
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ser repassados pros compradores finais.
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>> Ah, então a segurança não é tão
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garantida assim. É tipo, tá seguro por
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enquanto, mas
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>> isso, mas segurança meio condicional,
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sabe? E a coisa fica mais complexa
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ainda, porque mesmo que a montagem final
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seja feita lá nos Estados Unidos,
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>> sim, eles têm fábrica lá, né, na
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Flórida, eu acho.
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>> Isso, mas partes cruciais do avião vem
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do Brasil. A fuzelagem do Finon, por
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exemplo.
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>> Um componente chave.
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>> Entendi. Então não adianta montar lá se
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a peça principal vem daqui. A origem do
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componente é que manda pra tarifa.
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Precisamente é a tal da cadeia de
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suprimentos global, né? Você otimiza a
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produção, fabrica partes em lugares
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diferentes, mas aí fica vulnerável a
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essas políticas comerciais.
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>> Faz todo sentido. E parece que essa
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vulnerabilidade não é igual para todos
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os modelos da Embraer que a Flexjet
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compra, né? Tem uns que sofrem mais.
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>> Exato. Tem análises como a do Brian
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Fley, que é um especialista conhecido no
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setor, apontando que os jatos executivos
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mais, digamos, acessíveis da Embraer são
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os que mais sentiriam impacto.
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>> Hum. mais baratos. Por quê?
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>> Margem menor
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>> a briga por preço costuma ser mais
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acirrada. Qualquer aumento de custo,
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ainda mais um de 50% em cima de partes
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importantes, fica difícil de absorver
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sem perder cliente, né?
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>> Entendi. Então, pera aí. A Flexjet
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mantém o acordo bilionário, mesmo
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sabendo que os modelos mais baratos, que
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talvez sejam uma parte importante do
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volume deles, são os mais vulneráveis a
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essa tarefa potencialmente devastadora,
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>> é o que parece. Isso sugere algumas
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coisas, né? Ou eles apostam muito na
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qualidade, na adequação desses jatos da
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Embraer pro negócio deles,
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>> tipo, mesmo mais caro ainda vale a pena.
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é uma possibilidade. Ou talvez eles
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estejam apostando que essa tarifa, no
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fim das contas, vai ser negociada, vai
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cair ou nem vai ser implementada de
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fato. É um jogo de xadrez,
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>> um xadrez bem arriscado, diga-se de
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passagem. Então, resumindo a situação,
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temos um negócio gigante mantido, mas
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com uma pressão de custo enorme no
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horizonte.
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>> Isso, uma proteção contra troque
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funciona agora, mas com alerta já dado
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sobre repasse de custos futuros. e uma
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vulnerabilidade maior justamente nos
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aviões mais acessíveis que são
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importantes pro mercado. A Flexjet tá
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tipo andando na corda bamba aqui.
00:10:48
>> E se a gente olhar pro cenário maior,
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isso é um exemplo perfeito do desafio
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que as empresas globais enfrentam hoje,
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né? Como você planeja a longo prazo com
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contratos de décadas, cadeias de
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suprimento complexas.
00:11:01
>> É quando as regras do jogo comercial
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podem mudar assim de uma hora para
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outra. Exatamente. A Flexjet e a Embraer
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estão bem no meio desse furacão. É um
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caso pra gente acompanhar de perto,
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>> sem dúvida. Recapitulando rápido, então,
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Flexjet segura o Megaacordo com a
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Embraer, apesar da ameaça tarifária.
00:11:18
Contratos atuais dão uma proteção
00:11:20
inicial, mas custos futuros podem ser
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repassados.
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>> Peças chave vindo do Brasil criam a
00:11:26
vulnerabilidade e os jatos mais baratos
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são os mais expostos a esse risco.
00:11:31
>> É isso.
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>> E fica a reflexão, né? Além desse caso
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específico da Flexjet em RAER, o que que
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tarifas assim tão altas e repentinas
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podem causar nas estratégias de longo
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prazo das cadeias de suprimentos
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globais? Como isso mexe com as decisões
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de investimento em setores de altíssimo
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valor, como aeroespacial, onde tudo é
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pensado para décadas? Fica aí a questão
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sobre o futuro da indústria global nesse
00:11:55
cenário de incertezas.
00:12:00
오
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[Música]