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Olá pensadoras eu me chamo Ana Manuela
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caripuna sou indígena do Povo caripuna
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atualmente eu faço doutorado em
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sociologia e antropologia na
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Universidade Federal do Pará
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minha temática de pesquisa com mulheres
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indígenas
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pesquisas especialmente com as mulheres
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do meu povo de origem e esse ano eu
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participo do curso de aperfeiçoamento
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das pensadoras em abril eu irei me
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iniciar a disciplina indígenas mulheres
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territórios direitos movimentos e
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políticas essa aula introdutória do
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curso vai ser dividida em dois momentos
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em um primeiro momento eu vou apresentar
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brevemente a ementa da disciplina e um
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segundo momento eu vou articular
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proposta da disciplina com o tema da
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nossa aula o tema da nossa aula é porque
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estudar o feminismo E aí a gente vai
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pensar Quais são as interpretações quais
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são as diferenças entre o movimento
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feminista né vários movimentos e os
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movimentos de mulheres indígenas no país
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não é para comparar ambos mas para
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entendermos que são movimentos
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diferentes Então a nossa primeira aula
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se chama Mulheres indígenas violências
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de gênero e a luta por direitos essa
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aula vai ter atar sobre as consequências
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da colonização na violação dos corpos de
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meninas e mulheres indígenas e como isso
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até hoje refletes nas violações de
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direitos humanos e violências de gênero
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para com as originárias então quando eu
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falo originárias eu tô falando
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especificamente das meninas e mulheres
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indígenas porque nós povos indígenas
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somos os povos que damos origem ao
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Brasil
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nessa aula a gente também vai debater
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sobre o silenciamentos as
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invisibilizações dos protagonismos das
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mulheres indígenas e também sobre as
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ausências de políticas públicas eficazes
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que combatam racismo e a violência de
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gênero para conosco e eu falo para
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conosco porque eu também me coloco nesse
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lugar de mulher indígena já que sou
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mulher do Povo caripuna mas outro foco
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da aula também a gente pensar as
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visibilizações pensar os enfrentamentos
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esse agenciamento das mulheres então a
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gente pensar o protagonismo das mulheres
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no movimento indígena e nas lutas por
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direitos em tempos de retrocesso
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já na aula 2 que se chama Mulheres
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indígenas gênero e agência feminina a
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gente vai tratar sobre estudos
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destemólogas antropólogas que pesquisam
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com mulheres indígenas não antropologia
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e como a partir das suas perspectivas o
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gênero é vivenciado em diferentes povos
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especialmente as mulheres indígenas a
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terceira aula é mulheres indígenas
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protagonismo desde Os territórios O
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objetivo dessa aula é pensar o
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protagonismo e a relação das mulheres
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originárias dentro dos papéis de
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liderança pajés parteiras pesquisadoras
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mães avós e mais velhas
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a gente tem mais três aulas a quarta
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aula é mulheres indígenas nas
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universidades na antropologia
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nela abordarei sobre as pesquisas que as
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mulheres indígenas desenvolvem
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concentrando uma Especialmente na
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produção científica das indígenas
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pesquisadoras antropólogas eu busco
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compreender Quais são as vivências
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dessas mulheres até a universidade desde
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Aldeia até esse espaço acadêmico Quais
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são as dificuldades de acesso e
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permanência que essas mulheres têm os
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cursos Quais são as expectativas não
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somente delas mas também das suas
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comunidades com relação a esse curso que
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elas estão vivenciando O que é eficiente
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o que falta nas políticas de ações
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afirmativas para que nós mulheres
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indígenas
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tenhamos acesso ao curso e possamos
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concluir ele com êxito Quais são as
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relações que a gente tem com a escrita
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quais são os lugares que os
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conhecimentos que as mulheres realizam
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na produção acadêmica tem quais os
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desafios que enfrentamos Então a gente
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vai ver o que essas parênteses né o que
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essas mulheres indígenas enfrentaram de
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dificuldades para realizar essa pesquisa
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o que vem enfrentando no momento
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a gente também vai pensar se os
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conhecimentos das indígenas Estão
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realmente sendo reconhecidos
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académicamente como elas se expressam
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nas publicações e como elas também se
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expressam no lugar da oralidade a quinta
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aula a gente vai retomar o movimento das
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mulheres indígenas né então é movimentos
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organizados e protagonizados por
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mulheres indígenas o objetivo da aula é
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compreendermos o histórico de luta do
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movimento indígena no Brasil então
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pensar década de 70 década de 80 e
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especialmente os movimentos organizados
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e protagonizados pelas mulheres
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originárias porque lá na década de 80
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que Começam a surgir as primeiras
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associações e as das articulações
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exclusivas de mulheres indígenas Então
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como é que essas associações surgem e
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quais que são as suas principais
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demandas naquela época e atualmente
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a sexta aula é uma aula de um tema que
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tá bastante
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na mídia no momento que são as mulheres
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indígenas na política então a aula
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mulheres indígenas no aldear a política
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nele eu vou até ser uma reflexão sobre
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estejetórias e protagonismos de
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lideranças mulheres nas políticas
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externas internas aos seus territórios a
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gente vai pensar um pouquinho as
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candidaturas delas os mandatos as
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participações do movimento indígena e a
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gente vai ter também uma cronologia das
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mulheres originárias na política
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partidária a partir disso eu busco
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compreender Quais são as alianças as
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demandas e as participações dessas
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mulheres no cenário político mais
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recente
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toda a bibliografia disciplina conta com
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pesquisas desenvolvidas por mulheres
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indígenas em que nós somos as autoras e
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conta também com pesquisas desenvolvidas
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por mulheres não indígenas mas que se
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dedicaram pesquisar coisas originárias a
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disciplina é como vocês podem perceber
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pensada a partir de uma perspectiva
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antropológica muito também por conta da
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minha formação né são antropóloga e nas
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universidades nos cursos de Antropologia
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a gente vive as bibliografias escritas
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por indígenas pesquisadoras são pouco
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lidas e pouco referenciadas nós
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dificilmente lemos o que os povos
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indígenas realizam na academia e
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invisibilizar e não permitir que as
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pessoas tenham acesso ao que é realizado
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pelos povos originários como
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pesquisadores pesquisadores é uma forma
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de violência sistêmica desacademias para
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conosco os povos indígenas
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Então as mulheres indígenas Elas têm uma
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produção extensa de pesquisa no Brasil e
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essas pesquisas elas demonstram que nós
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não somos mais os objetos né os objetos
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de pesquisa mas que nós passamos a ser
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as protagonistas as pesquisadores e
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nessas pesquisas a gente vai articulando
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a antropologia mas introduzindo a
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Cosmologia dos nossos povos tanto na
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teoria quanto na disciplina
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antropológica
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Mas a partir de apresentar para vocês o
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que a gente vai estudar na disciplina
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Quais são os contextos em que as
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indígenas mulheres estão e exercem esse
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protagonismo é como elas desenvolvem né
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os seus movimentos é esse enfrentamento
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também a gente passa a pensar o porquê
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de ser estudadas epistemologias das
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mulheres indígenas e também o porquê de
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se pensar dentro de um curso de
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feminismo então é para isso eu começo a
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dizer importante estudar os movimentos
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feministas nas demais disciplinas né
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porque tem outros colegas que também vão
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participar do curso
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é importante estudar nas outras
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disciplinas o movimento feminista e
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estudar o movimento de mulheres
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indígenas especificamente nessa
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disciplina Primeiro para que a gente
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possa compreender que são movimentos
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diferentes que se constituem de uma
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maneira diferente que tem demandas
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diferentes uma história diferente o
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movimento articulado e protagonizado por
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mulheres indígenas no país é
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frequentemente nomeado pela academia e
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pela mídia como feminismo indígena só
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que o próprio movimento organizado pelas
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mulheres originárias no país não se auto
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determina dessa forma então a gente não
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pode confundir
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movimentos de mulheres indígenas por
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serem movimentos de mulheres na luta por
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direitos são automaticamente feminismo
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porque se a gente for esmiuçar as faltas
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né tanto num contexto macro né Se a
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gente for pensar articulação Nacional de
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mulheres indígenas
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a gente vai perceber que são demandas
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bastante específicas E se a gente for
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esmiuçar o que as mulheres estão fazendo
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nas bases né então quando eu falo base
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são as demandas específicas de cada
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Aldeia de cada Associação a gente vai
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ver que ele se tornam mais específicos
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ainda então por isso que é importante a
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gente estudar o feminismo e estudar
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também os movimentos de mulheres
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indígenas dentro desse curso incluindo
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debate sobre mulheres indígenas no curso
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é uma forma de incorporada dentro do
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debate feminista que ocorre dentro das
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pensadoras as teorias e o movimento de
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mulheres originárias é uma forma de
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ampliar o debate sobre as articulações
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as articulações de mulheres indígenas
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dentro de um espaço feminista e isso é
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muito importante
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mas é complicado falar de feminismo
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indígena em um país em que existem 305
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povos originários
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e de São povos que habitam territórios
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diferentes que possuem costumes
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diferentes povos em que há várias
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possibilidades de se vivenciar O que é
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ser mulher visto que dentro de cada povo
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a gente tem uma multiplicidade de papéis
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e vozes e conhecimentos que as mulheres
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vão ocupar
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a liderança indígena Valéria paiê que
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essa senhora é com a imagem mais acima
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ela explica que muitas vezes nós
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mulheres indígenas falamos o tempo todo
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nos relacionando ao próprio povo então
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no meu dia a dia Muitas vezes as coisas
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que eu conto é sempre articulando ao
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fato de eu ser caripuna e a fala da
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Valéria paiê se articula bastante a uma
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fala da liderança Sônia Guajajara quando
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ela explica que as lutas das mulheres
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indígenas não se dissociam das lutas
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contra O Extermínio dos povos indígenas
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e contra O Extermínio dos seus
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territórios
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no documento final da primeira marcha
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das mulheres indígenas de 2019 que é um
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documento redigido por lideranças
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mulheres de vários povos de vários
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regiões do país foram colocadas algumas
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demandas né que
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são demandas específicas do movimento
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das originárias E aí para vocês
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conhecerem um pouquinho essas demandas
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eu coloquei alguns pontos aqui
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que são sobre a demarcação de proteção
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das terras indígenas então muitas vezes
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as lideranças falam a mãe de todas as
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lutas para os povos indígenas é a luta
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pelo território então que tem de mais
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importante para a gente é a demarcação e
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a proteção das terras outros pontos que
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tem esse documento da primeira marcha é
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o combate à exploração mineratória
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as discussões sobre as emergências
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climáticas ou acesso à saúde o acesso a
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uma alimentação saudável e livre de
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agrotóxicos o acesso à educação
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informação qualificada a proteção ensino
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e o conhecimento né a proteção do
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conhecimento das línguas indígenas dos
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conhecimentos indígenas o combate ao
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racismo Combate à violência de gênero e
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o aumento da representatividade indígena
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nos espaços de tomadas de decisão
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principalmente o aumento da
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representatividade das mulheres
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originárias então esses são alguns
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pontos em comum entre as mulheres
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indígenas do país Então essas são pontos
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né são demandas do movimento das
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mulheres indígenas é então ao explicar
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Quais são as demandas das mulheres
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indígenas percebe-se demandas que se
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interseccionam com debate de gênero e aí
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retomando ainda Valéria payer sobre o
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gênero a palenta aparenta Valéria paiê
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entrevista para eles antropólogas
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Angela Starter e Márcia grancou afirma
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que a palavra gênero é um conceito que
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vem de fora dos povos originários e que
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se as mulheres
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passam a trazer discussões sobre gênero
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para dentro das organizações indígenas é
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porque os conjunturas sociais os povos
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indígenas se modificaram ao longo do
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tempo se Antigamente os lideranças
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mulheres não debatiam gênero hoje um
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marcador importante nas discussões do
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movimento então tal como trata o gênero
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em algumas publicações Eu também venho
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trabalhando o conceito de feminismo que
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é algo que vem de fora do movimento
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indígena é algo que vem de fora do
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território então em muitas pesquisas eu
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me apropria do conceito feminismo
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indígena e a realizar uma análise
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crítica das possíveis intersecções das
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possíveis diferenças que existem entre
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os nossos movimentos e os movimentos
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feministas e muitas reuniões que eu
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participei tanto como mulher caripuna
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como pesquisadora quando conversava com
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as mulheres indígenas com relação ao
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feminismo ela geralmente justificava mim
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que não não são feministas muitas vezes
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diziam que não conheciam esse conceito
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feminismo E aí geralmente elas
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explicavam que é algo que é distante da
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nossa realidade que é distante do nosso
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território falar sobre feminismo e a
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partir disso eu também concordo com a
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indígena e socióloga Fabiane Medina Cruz
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quando ela afirma que se definir como
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feminista deve caber a cada 40 então o
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individualmente os feminismos eles podem
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atravessar a trajetórias de uma mulher
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indígena de uma maneira significativa
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por exemplo eu sou caripuna e muitos
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momentos eu me identifico como feminista
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sou indígena sou feminista mas eu tenho
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que compreender que as mulheres no meu
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povo coletivamente não se auto
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determinam dessa forma Então
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esse contexto Pode ser que existam
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indígenas Mas falar de movimento
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indígena no Brasil não é possível falar
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disso no momento
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o interessante dessa disciplina né é a
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gente compreender essa histórico de como
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vencer caracterizando se desenvolvendo
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um movimento de mulheres indígenas no
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país como eu relatei como surgiram as
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primeiras associações nos anos 80 e
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também como são as histórias dos povos
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indígenas contadas pelas próprias
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mulheres desses povos como elas explicam
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esses movimentos essas demandas e como
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elas próprios percebem o feminismo Então
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isso é um pouquinho do que a gente vai
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trabalhar no curso aqui são algumas
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referências que a gente vai ler né que a
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gente vai utilizar mas também existem
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outras