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Ela já foi chamada de Taylor Swift da
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literatura contemporânea jovem afiada
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com capacidade para narrar as dores da
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geração millennial os nascidos entre
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1980 e
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1996 eu sou dessa geração já o jornal
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The New York Times disse que ela é a
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maior escritora dessa geração verdade ou
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puro marketing se você não tem ideia de
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quem eu estou falando fica até o final
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porque no vídeo de hoje eu vou te
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apresentar a irlandesa Cell Rooney
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bestseller em vários
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países Sally Rooney ganhou muita atenção
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com seu romance pessoas normais lançado
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em 2018 Esse livro foi adaptado para uma
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série e fez muito sucesso principalmente
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entre os jovens a história acompanha a
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jornada dos jovens connel e maryanne
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desde o momento em que eles saem da
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escola até o término dos estudos da
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faculdade pessoas normais foi muito
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elogiado pela sua capacidade de capturar
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as nuances dos relacionamentos
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contemporâneos e as complexidades
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emocionais dos jovens adultos dos
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millennials a obra rapidamente se tornou
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um fenômeno literário e conquistou
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leitores em vários países a abordagem
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honesta da Sally Rooney sobre sexo e
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intimidade foi vista como um retrato
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realista Mesmo que às vezes
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desconfortável das relações afetivas
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contemporâneas entre outros temas a cé
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Rooney fala da dificuldade de se
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conectar verdadeiramente com as pessoas
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ela tá falando um pouco desse mundo onde
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a gente baixa um aplicativo de
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relacionamento e escolhe as pessoas como
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se a gente estivesse escolhendo produtos
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numa prateleira e isso de fato foi o que
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mais me chamou a atenção tanto no livro
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pessoas normais quanto na série A Série
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Rooney é muito habilidosa para narrar
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situações onde os personagens estão
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descobrindo como eles constróem
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confiança e intimidade uns com os outros
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as cenas íntimas de sexo de amor de
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confiança vulnerabilidade são realmente
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muito tocantes e vários jovens se
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identificaram tanto com conel quanto com
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a maryanne saúde mental autoestima e as
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diferenças sociais também são temas que
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a autora abordou em pessoas normais em
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intermo o seu quarto romance Eu terminei
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de ler esse livro no final do ano
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passado essa habilidade para narrar a
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intimidade dos personagens e as Suas
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Emoções continua bem afiada mas aqui nós
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temos dois irmãos que estão estão
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vivendo o luto por conta da morte do pai
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e novamente a história se passa na
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Irlanda dessa vez em Dublin e no
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interior do país Peter kubeck é um
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advogado bem-sucedido de 32 anos que tem
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dificuldades para equilibrar a sua vida
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profissional e os seus relacionamentos
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pessoais em especial com a sua
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ex-namorada Silvia que a gente vai
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descobrir que sofreu um acidente e com a
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sua atual namorada a jovem Universitária
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Naomi que parece às vezes bem avoada e
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despreocupada ada com as questões
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práticas da realidade já o seu irmão
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mais novo Ivan kubeck tem 22 anos e é um
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prodígio do xadrez Se bem que ele não
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está no momento muito bom não está
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conseguindo ganhar partidas importantes
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e avançar ele começa um relacionamento
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com Margaret a diretora de uma espécie
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de espaço cultural Ela é bem mais velha
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que ele tem 36 anos intermo a sell
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Rooney dá continuidade a questões que
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ela apresenta em pessoas normais por
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exemplo a dificuldade nos
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relacionamentos interpessoais questões
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de autoestima e também apresenta novas
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questões por exemplo religião em muitos
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momentos os personagens se perguntam e
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conversam sobre se eles acreditam ou não
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em Deus e afinal o que Deus significa
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Vale lembrar que a Irlanda é um país
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profundamente católico intermo não me
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impactou como pessoas normais mas eu
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gostei da Leitura mesmo assim é um livro
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que eu recomendo e para entender melhor
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por a Cell Rooney foi incensada com a
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grande voz da geração millennial eu
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convidei a jornalista e pesquisadora
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Bárbara Bon Angelo para um papo a
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Bárbara pesquisa a cally Rooney na sua
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dissertação de mestrado e o papo foi bom
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demais eu espero que vocês gostem tudo
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bom Babi tudo bem feliz de estar aqui
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com vocês obrigada por topar o convite
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noss uma alegria para mim Babi eu quero
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começar te perguntando sobre o elogio
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que a Cell Rooney recebeu um elogio
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rasgado né se não me engano foi do
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jornal The New York Times uns anos atrás
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ela foi chamada de a maior escritora
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millennial né a maior escritora voz da
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geração millennial é a voz da geração
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Pois é e aí é exagerado né esse elogio a
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gente pode questionar um pouco mas na
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sua visão de que forma ela narra as
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experiências dos millennials Pois é
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Lívia eu sempre penso isso como essa
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esse título que ao mesmo tempo vendeu
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ela muito né nesse primeiro momento fez
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com que ela fosse lida e as pessoas
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fossem procurar saber o por que é a voz
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da geração Milênio também também deve
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ser uma coisa que assombra ela né porque
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é um título muito pesado É muito difícil
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você dar cont de uma geração inteira
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sendo que quando a gente fala de geração
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a gente tá falando de um grande período
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de tempo então a gente fala da geração
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milennium do começo dos anos 80 até mais
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ou menos o meio dos anos 90 então é
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muita gente muita coisa muitos lugares
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diferentes então a gente tá falando da
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geração Milênio no mundo né Então muitos
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países com condições sociais econômicas
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completamente diferentes questões de
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raça questões de classe Então o que eu
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acho é que ela consegue sim registrar
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algo dessa geração Milênio mas de uma
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certa arte da geração Milênio ou de
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certos aspectos dessa geração Milênio né
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e eu acho que uma coisa que ela consegue
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tocar muito bem é a questão da
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precarização do trabalho então a gente
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foi uma geração para quem se prometeu
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muita coisa né a gente estudou mais que
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os nossos pais então a gente achou que a
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gente ia ter uma condição melhor de vida
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o mercado do trabalho tava mudando
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criando novas profissões então a
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sensação que a gente tinha Pelo menos eu
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tinha porque eu sou dessa geração e Eu
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me formei em 2008 bem na crise econômica
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Então tava me formando and muito feliz
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quando vem um banho né de Água Fria
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então a minha sensação era essa que me
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prometeram muita coisa e quando eu
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cheguei lá não era bem assim né Então
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você já não tinha mais essa condição de
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ficar muitos anos numa mesma empresa
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isso foi deixando de existir os jovens
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foram procurando outra coisa e o que
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parecia ser uma procura pela Liberdade
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por melhores formas né de Ah eu quero
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uma uma qualidade de vida melhor
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trabalhar menos horas ganhar melhor a
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gente foi vendo que na verdade isso não
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necessariamente É verdade é mais uma
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precarização a gente foi deixando de ter
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direitos trabalhistas né o salário foi
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diminuindo os benefícios foram
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diminuindo também e a gente De repente é
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um empreendedor de si mesmo tudo virou
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uma grande coisa assim sozinha e sem
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amparos sociais né E ela traz muito
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disso Nos romances dela quase todos os
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romances dela a gente tem essas
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personagens muito insatisfeitas com o
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mercado de trabalho que não acred nem
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tentam assim nem querem se esforçar para
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conseguir outras coisas porque acham que
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não tem saída Uhum E quando a gente fala
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dessa questão tamb do mercado de
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trabalho a gente tá sempre falando de
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uma questão Econômica que é essa também
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impossibilidade da gente atingir certos
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patamares que os nossos pais conseguiram
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então nas coisas mais básicas que é por
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exemplo conseguir uma moradia a questão
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de não ter casa não ter apartamento não
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conseguir comprar é sempre tratada nos
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livros dela a gente sempre tem uma
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descrição da casa de certas pessoas que
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é muito boa muito bonita e um comentário
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de como é que eles conseguiram isso se
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eu nunca mais vou conseguir né então
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isso é uma coisa que passa pela Ger
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Milênio como um todo por todos os países
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a gente vê que tá tendo essa condição e
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eu acho que um último ponto que ela
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trata muito bem são as relações amorosas
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né a gente veio né A Nossa geração
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quebrando vários padrões aumentando as
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possibilidades de relacionamento mas não
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necessariamente a gente resolveu certas
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angústias e certas dores né então ela
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trata muito desses romances que as
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pessoas se encontram e até se dão muito
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bem parece que querem ficar juntas mas
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não conseguem comunicar isso não
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conseguem encontrar um formum mato
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porque tem muito medo também de se
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mostrar muito emocionadas não sei se
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você percebe isso assim parece que tá
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todo mundo escondendo muito sentimento e
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eu sinto um pouco isso na nossa geração
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quando eu converso com minhas amigas
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porque ninguém quer mostrar muito que
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quer algo sério porque o O Bacana agora
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é essa liberdade tem muita coisa mas a
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gente parece que vai engolindo certos
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certos sentimentos certas vontades
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porque não sabe muito bem Como encaixar
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né esse afeto esse amor essa amizade S
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parece para mim que está investigando
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como fazer isso por várias personagens
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normalmente por personagens mulheres né
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que estão lidando com esses homens e o
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que que a gente faz com esses homens
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alguns já são mais progressistas outros
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não né nesse novo livro A gente vai ter
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um embate entre dois irmãos ali que um
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parece bem Progressista o outro já mais
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conservador Mas eles vão se invertendo
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nessa posição e quais são as formas de
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relacionamento que ela vai apresentar
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nesse romance que já é diferente de
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algumas que apresentou Então ela tá
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investigando esses temas que me parece
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que essa geração investiga Então eu acho
00:08:56
que tá mais aí nessas nesses três tem
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temas que ela seria a voz de uma geração
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mas é um título que por exemplo eu tento
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evitar quando eu tô falando da pesquisa
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eu conto que ela é chamada assim mas eu
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não acho que ninguém nenhum escritor
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nenhum pesquisador nenhum teórico é é
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passível de ser a voz de uma geração Eu
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Fico impressionada como ela narra bem as
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emoções assim o que os personagens estão
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sentindo porque num primeiro momento e
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até parece que ela tá falando mais só do
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íntimo mas ela sempre vai trazendo
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também né o o momento histórico o que tá
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fora sociedade as pressões da sociedade
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Você tocou num ponto muito importante eu
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acho que ela consegue fazer um jogo
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muito interessante entre fora e dentro
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né a gente não tá falando de livros que
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são só romancezinho né entre até poderia
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ser nada contra a gente adora esses
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livros também mas não são só romances
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superficiais um dilemas superficiais a
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gente sempre vai entrar em camadas assim
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né de questões de saúde mental de
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problemas familiares né de enfim de
00:09:54
sentimento Assim de falta de lugar no
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mundo né esses personagens todos dela eu
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sinto que eles não sentem que eles
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pertencem aquele lugar e ela consegue
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trazer esse sentimento pra gente de um
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jeito que até a gente se identifica e eu
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gosto especialmente do que acontece em
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pessoas normais que a gente por exemplo
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tem aquele personagem que é o conel que
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é o protagonista né junto com a maryanne
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e o conel ele é um no começo do livro Um
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menino popular um atleta com muitos
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amigos assim parece um um homem padrão
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ali naquela sociedade mas a gente tá
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sempre acompanhando o quanto ele não se
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sente dessa maneira como ele está sempre
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se sentindo inadequado como aqueles
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amigos não s muito bem o que ele
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esperava né da vida ele queria umas
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pessoas que tivessem interesses mais
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parecidos com ele como ele não sabe o
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que fazer com o amor que ele sente pela
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maryanne porque ela é uma pessoa tida
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como estranha mas ele ainda tem uma
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atração por ela então como é que eu lido
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com isso como é que eu lido com o fato
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de quando eu faço coisas horríveis com
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alguém né porque a gente tem um
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personagem que é muito bom que quer ser
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uma pessoa boa mas que comete certas
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ações sacanas né E aí ele tem que lidar
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com isso a gente acompanha essa forma de
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lidar Então eu acho que ela com consegue
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narrar isso muito bem ainda que ela seja
00:11:01
muito Econômica na linguagem né a Roney
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ela tem uma linguagem assim objetiva eh
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às vezes distanciada ela não usa muitos
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adjetivos assim Mary Anne se desesperou
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não ela ela sempre diz assim Mary Anne
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disse quando eu disse o Ivan disse são
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às vezes verbos e adjetivos muito
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neutros eu diria e
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El ela meio que narra ali o que tá
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acontecendo mas cabe a você leitor eh
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hierarquizar entender a onde ela quer
00:11:29
chegar com aquilo Qual que é o ponto de
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profundidade daquele trecho porque às
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vezes ela não vai retomar Mas é uma
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coisa que você vai vai ter que pescar
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vai ter implícito né então eu acho isso
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assim tem gente que não gosta né Tem
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gente que acha Ah é muito seco Eu gosto
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de uma escrita mais trabalhada mas eu
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acho bacana eu acho até generoso com o
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leitor você acreditar que ele vai
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entender essas dicas e na verdade ele
00:11:50
vai digerir da forma que ele for capaz
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de digerir com as ferramentas dele babi
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vamos falar então agora do intermo que é
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o quarto romance né da ele fala da
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relação entre o Ivan e o seu irmão o
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Peter eles estão passando pelo luto
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acabaram de perder o pai e eles lidam
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com luto de formas muito diferentes
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Então queria saber e como que essa
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leitura te afetou E como que você
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enxerga esse livro na trajetória da
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Sally Rooney sabe Liv eu acho que
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intermo é um livro onde a gente vê uma
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sell Rooney tentando experimentar mais
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coisas né Ela é uma autora que desde o
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primeiro romance então o primeiro
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romance foi narrado em primeira pessoa
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né Por uma personagem contando a própria
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história e aí a gente tem pessoas
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normais que tem que é narrado em
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terceira pessoa por esse narrador que se
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revesa entre o con e a maryanne então a
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gente acompanha o con maryanne bem de
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perto no terceiro livro A gente vai ter
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uma coisa diferente de novo que a gente
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vai ter o narrador em terceira pessoa
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mas o romance ele é entrecortado por
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e-mails que são trocados entre as
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protagonistas então eu tava curiosa para
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saber qual seria a Inovação que ela
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traria inovação diante da obra dela
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claro né porque nada disso que eu falei
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nunca foi feito na literatura já foi
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feito muito e é sempre feito mas para
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ela como autora qual seria a Inovação e
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tem uma inovação né Esse quarto romance
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esse narrador ele tá acompanhando tanto
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o Peter como Ivan e às vezes a Margaret
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né que é a personagem que vai se
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relacionar com o Ivan mas quando esse
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narrador está acompanhando o Peter nas
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partes do Peter a gente tem um narrador
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que entra meio que num fluxo de
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consciência e se mistura né mistura o
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narrador com esse personagem então tem
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vezes que a gente não sabe quem é o
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narrador
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uh é que a gente chega a ser até uma
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escrita um tanto mais confusa quem não
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tá habituado a ler né Eu li esse esse
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primeiro capítulo com com amigos com
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pessoas que leem a newsletter e algumas
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pessoas falaram Nossa eu não tava
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entendendo que era por aí mas lê em voz
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alta ajudou por exemplo e tal então ele
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tá diferentão assim e isso me agrada me
00:13:53
agrada Essa experimentação é um tipo de
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escrita que eu gosto porque eu sinto que
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a gente fica muito grudado né no
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personagem porque você tá ali meio que
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dentro dele às vezes fora mas dentro uma
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coisa viceral é interessante porque a
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gente tem nesse livro dois irmãos que
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estão vivendo esse luto de maneiras
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distintas e o Peter que é o irmão mais
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velho 10 anos mais velho seria esse
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personagem mais equilibrado né
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aparentemente de novo esse fora e dentro
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da cally Rooney né por fora Ele parece
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um cara que tá tudo bem na vida tem um
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bom emprego mora em Dublin advogado e
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tal advogado tudo certo n quando a gente
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vai chegando mais perto dele a gente vai
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que não que el confusão uma confusão e
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como ele está confuso a narrativa também
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está bem confusa Então me parece que foi
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um pouco esse exercício que ela tava
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fazendo então como é que eu narro esse
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personagem que tá totalmente perturbado
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mas ainda que fingindo estar bem vou
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narrar dessa maneira bagunçada eu gostei
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do livro no geral mas não vou falar para
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você assim que eu amei porque algumas
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coisas me incomodaram e assim Pode falar
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É vou falar aqui a gente fala tudo assim
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do Ivan por exemplo que ele é pintado
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inicialmente como o irmão diz que ele é
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autista né ainda que ele nunca tenha
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sido
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diagnosticado o próprio Ivan ele cita
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que ele tem algumas dificuldades né de
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interação social mas também fica nesse
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campo do a gente não sabe o que é e tudo
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bem a gente não precisa ter diagnóstico
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para tudo na vida então a gente tá só
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lendo e sabendo que ele tem essas
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dificuldades o irmão dele também traz
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uma questão do Ivan incel né que é esse
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rolê que existe hoje em dia e tal e a
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gente eu acho que isso não foi bem
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trabalhado a gente tem uns vislumbres do
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Ivan quando mais novo meio que
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diminuindo a luta das mulheres não
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entendendo porque que existe feminismo
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acheo isso tudo meio uma balela né ele
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tendo alguma frustração no
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relacionamento com essas mulheres por
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não conseguir se relacionar com essas
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mulheres mas aí quando ele encontra
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Margaret que é essa mulher mais velha
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uma mulher né madura Progressista não
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assim gente tô falando mais velha mas 36
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anos tá tem 23 lá tem 36 que já já cheg
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nessa questão da
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idade mas essa coisa dele essas questões
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parece que somem né o relacionamento
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deles é muito bacana um relacionamento
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saudável é bonito de ver a relação deles
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se formando de muito respeito de muita
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confiança é uma das relações mais
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bonitas que a gente tem ali mas quando a
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gente vê o histórico né de Quem seria
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esse personagem das dificuldades que ele
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tem e tudo mais parece que alguém
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Esqueceu que ele tinha isso entendeu
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então eu eu senti uma uma precariedade
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já que a gente tá falando na construção
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desse personagem e o outro ponto que me
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incomodou foi a questão de como ela
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trabalha essa faixa dos 30 anos porque a
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gente tem que pensar também que esses
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personagens ela tem feito Como escritora
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uma escolha de trazer personagens que
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estão emulando a idade dela né então sim
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conversa entre amigos a gente tinha na
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casa dos 20 e Poucos Anos que era mais
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ou menos a idade dela quando ela
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escreveu aqui a gente já tem com c acho
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que tá com 33 34 os personagens tem por
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aí né 33 os principais 33 34 e chega até
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36 e há muito comentário de que nossa
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como estamos velho chega chega a ter uma
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frase assim estamos na meia idade e eu
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falei gente com 36 meu Deus é sabe eu tô
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com 38 tô per 40 eu não tô me sentindo
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assim será que eu não me sentir assim e
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como é muito frequente esse comentário
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foi me incomodando um pouco né Bora
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falar um pouco da sua pesquisa Babi eu
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sei que você tá investigando o pessoas
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normais né que é o segundo romance dela
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que foi adaptado para uma série que fez
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muito sucesso eu adoro o livro e a série
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e você tá pesquisando o pessas normais
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levando em conta algumas questões
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específicas da Irlanda né Então fala um
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pouco sobre a sua pesquisa que que você
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descobriu como tá sendo ainda tô
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descobrindo Claro que ela vai terminar
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assim em março mais ou menos vai ser
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esse meu período tô agora na reta final
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da dissertação e ao mesmo tempo ter sido
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muito gostoso de escrever ter sido
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aquele Pânico né de tipo Preciso
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terminar isso preciso terminar do jeito
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que eu gostaria que ficasse e o que eu
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tenho tentado fazer é investigar como em
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pessoas normais essa autora traz de
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alguma forma um um registro um retrato
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dessa Juventude irlandesa nos anos
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depois da crise de 2008 essa crise de
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2008 na Irlanda foi muito pesada né
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então a gente sabe que foi muito pesada
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nos Estados Unidos ali nos países da
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região Mas foi muito pesado na Irlanda
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na Grécia e tudo mais em 2010 é quando a
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Irlanda faz o acordo com a FMI FMI
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também velho conhecido de nós
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brasileiros né esses acordos para ter um
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empréstimo mais uma contrapartida enorme
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dificílima e a partir do ano 2011 a
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Irlanda entra no que a gente chama de
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cortes né de anos de austeridade que
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vários benefícios sociais são cortados
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para conseguir eh conter a crise sair da
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crise pagar o FMI é um país que sempre
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também teve uma síndrome meio de vir
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lata num certo sentido nisso a gente se
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espelha eh porque a Irlanda viveu muito
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tempo sob domínio britânico né por
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muitos séculos e aí quando ela quebra
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esse domínio a Irlanda fica com uma
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economia muito fragilizada então sempre
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par é que aquele país ia quebrar e as
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pessoas iam embora daquele país né os
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irlandeses não ficavam no país deles e
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eles até achavam que realmente o país ia
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sumir por falta de pessoas então a maior
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parte é eles tinham essa sensação eu eu
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pesquisei placas assim que falava assim
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esta Ilha está à venda né Por falta os
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moradores foram embora era uma coisa
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assim bem irônica porque era isso mesmo
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que acontecia né quando eles começam a
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ter um momento financeiro melhor que é
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lá pra década meio da década de 90 mais
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ou menos que assim eles começam a atrair
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muito investimento externo né e isso
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dando o quê o mto de benefício fiscal um
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monte de empréstimo e aí começa aquela
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bolha louca de você dar empréstimo para
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todo mundo comprar apartamento mesmo que
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as pessoas né não tivessem condição de
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pagar mas naquele momento tudo Parecia
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que tava muito bem então eles começam a
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a reestruturar identidade deles Nacional
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né então assim agora a gente é um país
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que deu certo a gente é um país com
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sucesso né Depois de muitos e muitos
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anos sofrem e aí quando vem a crise é
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uma reines de novo De quem nó Somos
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muitas pessoas lá achavam que eles só
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eram capazes de fazer arte quando eles
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sofriam então tem essa conexão de tipo a
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gente tá sempre na lama e a gente sempre
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faz os melhores romances né porque a
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Irlanda tem grandes escritores grandes
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dramaturgos né grandes cineastas grandes
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atores é uma potência cultural e eles
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conectam muito isso ao
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sofrimento então sempre questionável
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essa conexão a gente sabe de onde vem a
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gente brasileiro também tem um pouco
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esse discurso né de que a gente é um
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povo sofrido por isso tão criativo
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uhum um Então elam por to essa crise a
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de 2008 em 2011 chegam esses cortes né
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de benefícios sociais e tudo mais e o
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pessoas normais ele passa durante 4 anos
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e é entre 2011 e 2015 que são
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considerados os 4 anos de austeridade na
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Irlanda né a Sé Roney já disse já deu
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entrevistas falando que ela não tinha em
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mente tratar desses temas mas que ao
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colocar esses personagens nesse momento
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histórico passando por essas cidades por
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esses lugares que estavam sofrendo de
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alguma maneira com isso foi impossível
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não tocar em certos temas né então a
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minha investigação é justamente assim o
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que que tem ali que a gente pode fazer
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uma comparação com o momento histórico
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da irlando né E no fim tem muita coisa
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tem desis de coisas diretas menções
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diretas há momentos de votação de
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eleição que eles tiveram principalmente
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também das propriedades abandonadas
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porque com esse estouro da Bola
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Imobiliária vários Empreendimentos f
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ficaram parados eles não tinham dinheiro
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mais para terminar Nem valia a pena
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derrubar então eram Empreendimentos
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assim 50 casas grandes condomínios
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apodrecendo
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Fantasmas propriedades Fantasmas
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apodrecendo na na paisagem tem imagens
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assim bem chocantes isso durou muitos
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anos agora que tá diminuindo Mas ainda
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tem também se você vai mais pro interior
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do país e tem uma séria em pessoas
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normais que os dois protagonistas vão
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ali para essa casa na verdade eles estão
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indo lá para se pegar na casa mas acaba
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que a força da memória desse lugar desse
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trauma dessa crise é tão forte que eles
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acabam conversando sobre essa
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disparidade social porque é isso que
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acho que a Cell ry traz muito nos livros
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dela né ela discute muito classe social
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numa escala íntima né dentro dos
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relacionamentos Então como é que é o
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fato de não ter grana para morar no
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mesmo lugar que você vai afetar a nossa
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relação vai às vezes terminar o nosso
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relacionamento e a gente vai entrar numa
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época de sofrimento por causa de uma
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questão essencialmente Econômica né
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então eu vum tratando disso eu vou falar
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muito sobre neoliberalismo como questão
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de Sofrimento psíquico sobre questões de
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moradia sobre o espaço da faculdade
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quando você chega num momento de crise
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num país no espaço da faculdade que você
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achava que era um lugar de libertação né
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de reinvenção Na verdade é um espaço de
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exclusão porque você não tem a grana
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para estar com aquelas pessoas você tem
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que trabalhar mais do que elas para se
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manter ali então você não aproveita o
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final de semana com ela você não
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aproveita o final de semana na cidade e
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tem muito disso em pessoas normais então
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são esses temas que eu tô tentando
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trabalhar sempre misturando Literatura e
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história né que é a linha de pesquisa
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que eu faço e também estudos culturais
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estudos de geração eh assim para quem
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pesquisa literatura sabe que literatura
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começa a marcar meio que tudo né então
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tô lendo mu cois fascinante então tô
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lendo coisas de sociologia coisas de
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psicanálise tudo para conseguir dar
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conta eh das reflexões que eu quero
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trazer gente deu para perceber que papo
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aqui não falta né adoro conversar sobre
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a sell Rooney tenho muitas outras
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perguntas para fazer para Babi mas a
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entrevista tem que chegar ao fim
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infelizmente mas antes da gente se
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despedir fala da sua newsletter Babi e
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como que as pessoas o link para vocês
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assinarem tá aqui na descrição do vídeo
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é uma newsletter sobre literatura sobre
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cinema sobre cultura que eu adoro fala
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um pouco desse projeto fala newsletter
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chama queria ser grande mais existi eu
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comecei quando tinha 30 anos então faz 8
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anos que ela tá aí e é isso ela é
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semanal eu falo das leituras que eu tô
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lendo de uma maneira assim bem afetiva
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né é bem assim o que que aquele livro
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despertou em mim ou que que aquele filme
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despertou em mim sempre também com
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várias dicas de leitura porque tem muita
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gente escrevendo coisa legal você
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inclusive né Liv tô com saudade tô com
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sa eu vou voltar eu acho então tá eu
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acho bom se voltar porque eu adorava
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Então é isso é um lugar para quem gosta
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de ler quer conhecer outras coisas e
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também eu tenho mandado vídeos pros
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apoiadores né pras pessoas que apoiam
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financeiramente tem sido uma experiência
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eu quero até ampliar mais pro próximo
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ano vamos ver PR onde vai caminhar assim
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que a dissertação acabar né mas é um
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projeto muito legal gosto muito de fazer
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a curadoria de links é super legal eu
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adoro não e eu leio muito para chegar
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nela porque eu gosto mesmo de ler sabe e
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eu sempre gostei de ler na internet eu
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sou bem rata de internet eu tive blog eu
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tive meu aquele como é chamava aquele
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Tumbler eu tive tudo que vocês podem
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possam imaginar mas a newsletter é algo
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que me agrada muito por chegar na caixa
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postal da pessoa de uma maneira mais
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íntima mesmo não preciso ficar lidando
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com o algoritmo né se a pessoa quiser me
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ler ela vai me ler e eu acho que gera
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uma conversa boa as pessoas me respondem
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é um ambiente muito legal e muito
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acolhedor acho que não tem a gente sabe
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que em muitos lugares da internet tem
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esse espaço um tanto tóxico e eu acho
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que a newsletter tem sido um espaço mais
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protegido nesse sentido com certeza
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então o link tá aqui na descrição do
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vídeo obrigada mais uma vez Babi por
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topar vir aqui conversar e espero que
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vocês tenham gostado de mais uma
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entrevista aqui no canal e a gente se vê
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na próxima semana com mais um vídeo
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[Música]
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tchau n
00:25:32
[Música]
00:25:38
[Aplausos]
00:25:41
[Música]