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será que as obras de arte daquele século
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X nunca denunciaram o
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colonialismo ou será que éramos nós que
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nunca enxergamos o Evidente
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[Música]
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hum eu acho que é um pouco das duas
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coisas teve uma exposição que eu acabei
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de visitar no museu tisen que explora
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essas duas facetas através da sua
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coleção da coleção do próprio Museu e de
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uma outra chamada tba21 com obras
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contemporâneas vem aqui vem visitar
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comigo vem primeiro objetivo do
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colonialismo se apropriar de coisas que
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não são suas que pertencem ao outro e
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pagando uma miséria ou melhor ainda não
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pagando nada através da escravidão Então
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nós vamos ter pessoas extraindo produtos
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da sua própria Terra grátis se a gente
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estiver falando de indígenas de povos
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nativos ou de terras alheias dentro de
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um sistema de um sistema Mercantil
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nefasto aí do século
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16 integrado por pessoas
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escravizadas África recursos naturais
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América e produtos manufaturados Europa
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e nesse século XV nessa ânsia louca de
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se apropriar do que é do outro nós vamos
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ter o desenvolvimento de uma logística
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brutal constituída por navios mas não só
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os navios não bastava né só ter os
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navios Então nós vamos ter instrumentos
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de navegação sendo desenvolvidos bem
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como ciência a gente pode falar por
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exemplo da cartografia e é interessante
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a gente ver isso tudo refletido nas
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obras de arte como aqui então se percebe
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que os mapas os globos eram objetos
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desejados tanto que aparecem naturezas
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mortas como essa de Van Der heiden de
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1711 a apropriação ela não vai se
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restringir aos recursos naturais também
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vão ser apropriados bens culturais que
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vão ser não só apropriados Mas
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ressignificados como é o caso dessa
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natureza morta de um dos maiores
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artistas do gênero aonde nós temos essa
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tigela chinesa que Originalmente tinha
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uma função Sagrada e aqui para que que
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ela serve ela serve como açucareiro e
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açúcar aliás que era outro produto
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levado das colônias aqui no lado a gente
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tem uma taça nautilo super na moda a
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partir da segunda metade do século X
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entre as pessoas claro né com muito
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dinheiro porque era objeto de luxo
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estavam constituídas essas taças por uma
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concha de náutilo que era um Molusco que
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vinha da Indonésia ou do Caribe E essa
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concha ela tava incrustada num suporte
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de prata dourada e ainda decorada com
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pérolas raras e exóticas principalmente
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das colônias caribenhas essa obra
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contemporânea também fala do
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extrativismo que infelizmente perdura
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até os nossos
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dias esteticamente é muito maravilhosa e
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ela foi criada pela artista Colombiana
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noemy perz em
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1964 que desenha com carvão essa
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frondosa selva de catumbo e que na
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atualidade está bastante destruída pelos
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incêndios florestais E aí nós temos
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esses lindos urubus bordados gente era
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lindo demais eram lindos
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demais outro ponto importante a
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construção racial do outro sendo
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inferior vai receber uma categoria de
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seu ser
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selvagem então eu vou ter o quê o eu não
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né o colonizador vai ter o dever moral
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de civilizá-lo para que ele possa
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avançar e se você pensar bem o
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cristianismo ajudou a fortalecer essa
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narrativa porque de entrada se esse
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outro não fosse Cristão já entrava na
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categoria de ser primitivo e esse ser
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primitivo selvagem vai ser pintado
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desenhado convertido em gravura para um
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público europeu ávido por conhecer essa
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novidade E aqui nós estamos diante do
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primeiro artista brasileiro Paulo Paulo
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ia falar P Paulo Nazaré que nessa série
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intitulada etnografia Branca trabalha o
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afã do colonizador em conhecer o
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colonizado para poder melhor dominá-lo
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então ele vai na internet e pega essas
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imagens de povoados africanos e imprime
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essas imagens em papel algodão E aí o
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primeiro Insight por ele vai remeter há
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milhares de Africanos escravizados que
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foram levados pra América do Norte para
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trabalhar onde no cultivo do algodão mas
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essas imagens elas não são nítidas
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parecem como desfocadas porque o que o
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colonizador pensa saber sobre outro
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inclusive exibem seus museus
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etnográficos também carece de
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Transparência de nitide
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é um recorte realizado com as lentes
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eurocêntricas para que essa imagem seja
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ainda menos Clara ele introduz esse
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círculos de Giz branco e fum usado
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habitualmente pela comunidade hokum da
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Nigéria e que para mim também me remetia
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aquela imagem né do novelo de algodão os
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colonizadores vão levar esses seres que
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eles consideravam inferiores primitivos
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selvagens também para os seus
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territórios mas de forma diferente por
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quê Por exemplo nos países baixos no
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século 1 que era né a grande potência
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comercial europeia a escravidão era
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legal nas colônias eles usavam essa mão
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de obra escravizada mas no seu
00:05:45
território era ilegal Mas então como que
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aparece esse jovem nesse quadro
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ambientado na Holanda no norte da Europa
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os africanos costumavam servir de
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companhia as classes mais altas quase um
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produto de luxo portanto um símbolo de
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estatus social não eram escravos no
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sentido mais estrito do termo porque
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eles podiam casar formar família mas
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mesmo assim eram considerados inferiores
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de forma crua podemos dizer que eram
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vistos como objetos o Fran House faz com
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que esse jovem negro nos olhos
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Estabeleça contato com a gente e assim
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parece o personagem mais natural da cena
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diante de toda essa artificialidade
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coreografada desse matrimônio por outro
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lado em vários países europeus a mão de
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obra escravizada não era ilegal ou seja
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você ter escravos como um dos seus bens
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não era ilegal por exemplo Portugal é
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França Espanha na Espanha o Velasques
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ele tinha um escravo que depois ele
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concedeu a liberdade também se converteu
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em artista que era o Rand de Parea que
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ele até pintou também uma das suas obras
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aparece na Itália tampouco era ilegal
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tanto que nas cidades italianas muitos
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eram utilizados como ajudantes de
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artesão S artistas mesmo assim né
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pintores escultores como no caso também
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né foi na na Espanha e até de músicos ou
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seja esses escravizados tinha alguma
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formação artística isso que a gente vê
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aqui nessa tela onde esse jovem negro
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segurou uma partitura O que sugere que
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ele conhecia a linguagem musical lindo
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né mas quando a gente se aproxima do
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quadro olha o que ele tem no pescoço sim
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um colar de escravo e se você olhar bem
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vai perceber que ele está numa escala
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inferior à do seu
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proprietário isso ajuda o quê a marcar
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ainda mais essa hierarquização racial da
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época Tá vendo como os quadros falam
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evasão às novas
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arcádio de ir
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civilizar novamente essa palavra
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civilizar esses paraísos aí
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selvagens isso vai
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e ser utilizado como justificativa para
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que o europeu possa se apropriar tanto
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dos bens materiais quanto humanos nesses
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novos continentes e é interessante a
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gente pensar que tem um gênero da
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pintura que parece tão inofensivo mas
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vai ajudar a ocultar a violência
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Colonial que são Qual é esse gênero o
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gênero das paisagens você pensa ah
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paisagens né idílicas bucólicas mas que
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onde
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voluntariamente se
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exclui toda todo o lado perverso da
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colonização tudo isso é
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silenciado e a gente já estudou né quem
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é brasileiro já estudou tá já estudou
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várias dessas paisagens na escola
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através das obras de um artista europeu
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que esteve em terras brasileiras que é o
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France post Ah mas como que silenciava o
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que que ele fazia olha essa obra aqui
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que estava nessa exposição um grupo de
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Africanos em primeiro plano que parecem
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desfrutar dessa nova Arcádia e ninguém
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diria que eles trabalhavam a exaustão e
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eram tratados como animais até parece
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que o convívio entre o colonizador e o
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escravizado era uma maravilha todo mundo
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integrado corpo e
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sensualidade como você deve imaginar o
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colonialismo está inserido dentro do
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patriarcado e portanto o corpo da mulher
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também vai ser dominado ah né que
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novidade e vai mais do que isso vai
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virar um bem de livre disposição do
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colonizador e as obras de arte vão
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mostrar no outro aquilo que era proibido
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no próprio Ou seja no no país
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colonizador então quando a gente fala de
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desejo sensualidade que isso não podia
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né mulher as mulheres dignas não podiam
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desejar não podiam ser sensuais só
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aquelas que não eram dignas que não não
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tinham honra Então nós vamos ver na arte
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muitas obras que vão retratar tudo isso
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mas lá no outro por isso que eu fi fora
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do próprio né então na América
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Latina na Ásia e vamos ter uma loucura
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ocidental por pinturas de arén só que
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esse arem totalmente fora da realidade
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porque as mulheres não andavam nuas o
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tempo todo tinham uma vida muito mais
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normal do que essa fantasia aí ocidental
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inclusive existiam diferenças de classe
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no próprio Aren elas sequer conviviam
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todas juntas por em razão dessas
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diferenças de classe e é sobre essa
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fantasia ocidental que trata a obra
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contemporânea da artista turca in EV
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neta de uma das últimas mulheres
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obrigadas viver em um desses arén Esse
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vídeo instalação era genial Era uma
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construção em três atos primeiro ato ela
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pegou a gravura do Antoine aace mailing
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do álbum viagem pintoresca a
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Constantinopla margens do bósforo ele
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esteve morando em Constantinopla por 18
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anos a convite do sultão portanto como
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Ele viveu ele conviveu nesses espaços
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por tanto tempo elas não estão nuas mas
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parece que não povoam esse ambiente
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estão como
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abduzidas segundo ato nosso artista
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retira todos os personagens da
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gravura terceiro ato ela inclui imagens
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de figuras femininas que através dos
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seus movimentos sugerem a possibilidade
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da Resistência Olha a fala da Inc EV ao
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penetrar no harém quero colocar em
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movimento o Indomável e fazer com que
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essas imagens congeladas se movam para
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abrir a possibilidade de
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resistência as duas obras contemporâneas
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falavam dessa resistência uma delas do
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brasileiro Maxwell
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Alexandre essa obra forma parte de uma
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série maior que se chama chuva Dourada
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Pardo é o papel pardo é uma das cinco
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nomenclaturas utilizadas pelo Instituto
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Brasileiro de geografia estatística no
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Censo é um termo complicado muitas vezes
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pejorativo mas que também faz referência
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a um tipo de papel um papel barato e que
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o artista encontrava facilmente na
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favela da Rocinha Aonde ele nasceu nessa
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série ele usa esse papel mas dispõe seus
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personagens negros tradicionalmente
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condenados à categoria de subordinados
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em cená e com objetos que mostram o quê
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seu
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empoderamento Homer burden Ele nasceu no
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harlen que foi centro de uma resistência
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muito legal na década de 1920 1930 ficou
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conhecida como Renascimento do harlen e
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a família do nosso artista formou parte
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desse movimento então você pode imaginar
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que ele tá imbuído desse movimento né
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que ele tava aí de forma ativa no
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movimento e ele vai trabalhar com
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diversas linguagens mas eu tenho uma
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quedinha pelas colagens e na mostra a
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gente tinha essa onde os personagens
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levam máscaras africanas que destacam
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essa sua identidade as mãos são grandes
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em outros quadros de outros períodos
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essas mãos são grandes os pés para
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revelar esse trabalho braçal né que vai
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prepondera sobre o trabalho cerebral
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mental mas no caso aqui do burden ele
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faz isso como uma referência ao Espírito
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de comunidade de solidariedade entre
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essas pessoas a visita acabou mas esse
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foi apenas um recorte tá que eu fiz uma
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seleção aí de algumas obras dessa
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exposição incrível que você pode visitar
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até dia 20 de outubro no museu tiss em
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Madrid que aliás é um dos meus museus
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favoritos da cidade e aí você conhece
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algum artista que trabalha de forma
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Direta com essa questão da colonização
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Me conta aí nos comentários e hoje eu
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vou te deixando aqui das Canárias com
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aquele
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beijo no teu coração
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[Música]