Marilena Chauí: O mito da não-violência brasileira

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https://www.youtube.com/watch?v=I0NRYek-P6U

Ringkasan

TLDRThis text explores the meaning of violence from its Latin roots, emphasizing that any forceful action against someone's nature, freedom, and ethics is considered violence. The discussion contrasts this with the Brazilian societal myth of non-violence, describing how this myth portrays Brazil as a peaceful and harmonious nation, despite the reality of prevalent violence. It analyzes how societal mechanisms such as exclusion and legal definitions contribute to the perception that violence is an external issue, rather than recognizing it as a structural element of society. The text argues that myths and ideologies obscure the realities of violence and maintain social inequalities.

Takeaways

  • 💥 Violence is defined as forced acts against nature and freedom.
  • 🛡️ The Brazilian myth presents a non-violent national identity.
  • 🔄 Ideological mechanisms deny structural violence and attribute it to outsiders.
  • 🚧 Violence is perceived as an external issue, not an inherent societal flaw.
  • 🤔 Myths serve to obscure and justify social realities and contradictions.

Garis waktu

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    The word violence originates from the Latin 'vis', meaning force, and encompasses acts that use force against the natural will and freedom of others. Violence is described as coercion, torture, and brutalization, essentially violating the natural rights of individuals that society values positively, thereby contradicting ethical standards and democracy.

  • 00:05:00 - 00:10:00

    A powerful myth exists in Brazil about non-violence, portraying the country as a cheerful, generous, and tolerant society. This myth is perpetuated in many narratives that insist Brazilians are inherently non-violent, disregarding racism and discrimination, showcasing a collective self-image based on these ideals.

  • 00:10:00 - 00:15:00

    The anthropological concept of myth is employed to describe how Brazilian society envisions its identity. Myths serve as narratives of origin, addressing societal tensions that cannot be resolved without profound changes. The myth of non-violence here operates as a denial and justification of the violence present in reality.

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    The myth of non-violence is rooted in Brazilian history but faces the contradiction of ongoing real-life violence. Various mechanisms are in place to maintain this myth, including exclusion, metaphysical distinction of essence vs. accident, and legal definitions of violence that often marginalize the experiences of the poor and the marginalized, portraying violence as an external occurrence rather than an integral part of society.

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    Finally, the mechanisms by which violence is either hidden or framed as something temporary or external perpetuate the myth of Brazilian non-violence. Structural issues such as economic inequality and systemic oppression remain unaddressed, leading to a societal blindness to the inherent violence in these conditions, reinforcing the myth and preventing real social change.

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Peta Pikiran

Video Tanya Jawab

  • What does the text define as violence?

    Violence is defined as forceful acts that oppose nature, spontaneity, freedom, and ethical behavior, leading to oppression and fear.

  • How does the text describe the Brazilian myth of non-violence?

    The Brazilian myth of non-violence portrays the nation as peaceful, generous, and harmonious, denying the reality of violence in society.

  • What are the ideological mechanisms that maintain the myth of non-violence?

    The mechanisms include exclusion, metaphysical distinction, legal definitions, sociological attributions, and inversions of reality.

  • Does the text acknowledge the existence of violence in Brazil?

    Yes, the text acknowledges violence but argues that it is framed as an external issue, separate from the essence of Brazilian identity.

  • What role do myths play in society according to the text?

    Myths serve as narratives that justify and sustain societal beliefs, often obscuring the underlying realities and contradictions.

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Teks
pt
Gulir Otomatis:
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    a palavra violência vem do latim vis
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    força e ela significa um tudo que age
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    usando a força para ir contra a natureza
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    de algum ser a violência é
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    desnaturar dois todo ato de força contra
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    espontaneidade a vontade e a liberdade
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    de alguém A violência é coagir
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    constranger torturar
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    brutalizar terceiro todo o ato de
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    violação da natureza de alguém ou de
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    alguma coisa valorizada positivamente
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    por uma
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    sociedade ela é a violência é o ato de
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    violar de
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    profanar
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    quatro todo o ato de transgressão por
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    positiva todo ato de transgressão contra
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    aquelas coisas e ações que alguém ou uma
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    sociedade define como justas e como um
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    direito a violência é
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    espoliar ou a injustiça
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    deliberada
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    quinto como consequência A violência é
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    um ato de brutalidade cício e Abuso
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    físico ou psíquico contra alguém
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    e caracteriza relações intersubjetivas e
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    sociais definidas pela opressão e pela
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    intimidação pelo medo e pelo
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    terror A violência é a presença da
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    ferocidade nas relações com o outro
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    enquanto outro ou seja
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    simplesmente porque ele é
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    outro A violência é o oposto da coragem
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    e da valentia porque ela é o exercício
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    da
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    Crueldade se é isto A
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    violência é evidente que ela se opõe à
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    ética porque ela trata seres Racionais e
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    sensíveis dotados de linguagem e de
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    Liberdade como se fossem coisas Isto é
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    irracionais insensíveis mudos e inertes
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    passivos na medida em que a ética é
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    inseparável da figura do sujeito
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    racional voluntário livre
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    responsável tratá-lo como se fosse
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    desprovido de razão vontade liberdade e
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    responsabilidade é tratá-lo não como um
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    humano e sim como uma coisa fazendo-lhe
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    violência nos cinco sentidos que nós
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    demos a essa essa palavra da mesma
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    maneira é evidente que a violência se
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    opõe à política
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    democrática uma vez que essa se define
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    pela figura do sujeito político como
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    sujeito de direitos que age pela criação
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    e Conservação de direitos contra a
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    dominação dos privilégios e impede o
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    exercício do Poder pela força pela
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    opressão pela intimidação pelo medo e
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    pelo terror portanto a violência é
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    aquilo que impede a ética e a política
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    democrática
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    ora há no
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    Brasil um mito
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    poderoso a gente encontra isso que eu
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    vou dizer aqui a gente encontra em cada
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    esquina em cada bairro
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    em cada cidade em cada praia em cada bar
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    em cada supermercado em cada vendinha da
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    esquina tempo inteiro qualquer
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    brasileiro o tempo inteiro dirá isto
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    para você há no
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    Brasil um mito
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    Poderoso o da não violência brasileira
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    Isto é a imagem de um povo
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    Generoso Alegre
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    sensual
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    solidário que desconhece o racismo o
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    sexismo o machismo que respeita as
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    diferenças étnicas religiosas e
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    políticas não discrimina as pessoas por
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    suas escolhas sexuais
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    etc Por que é que eu emprego a palavra
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    mito e não por exemplo a palavra
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    ideologia
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    para me referir à maneira como a não
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    violência é imaginada no
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    Brasil eu emprego a palavra mito dando
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    os seguintes
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    sentidos
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    primeiro como indica a palavra grega
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    mitos O mito é uma
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    narrativa sobre a origem de um povo de
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    uma
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    sociedade e essa narrativa é
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    reiterada
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    em inúmeras narrativas
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    derivadas que repetem a matriz da
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    primeira
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    narrativa a qual
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    entretanto já é uma variante de uma
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    narrativa
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    anterior cuja origem se perdeu em suma O
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    mito é a narrativa da
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    origem sem que exista uma narrativa
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    originária dois o mito opera com
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    antinomias tensões e contradições que
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    não podem ser resolvidas sem uma
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    profunda transformação da sociedade no
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    seu todo e por isso elas são
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    transferidas para uma solução
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    imaginária que torna suportável e
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    justificável a
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    realidade ou seja o mito Nega e
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    justifica a realidade que é negada por
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    ele a realidade tá aí na tua cara e você
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    tem um monte de dispositivos que
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    permitem a você
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    imaginariamente negar Essa realidade que
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    está diante de você isso é um mito
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    n
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    terceiro o mito se cristaliza em crenças
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    que são interiorizadas num grau tal que
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    não são percebidas como crenças
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    e sentidas não só como uma explicação da
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    realidade mas como sendo a própria
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    realidade em suma o mito substitui a
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    realidade pela crença na realidade na
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    rada por ele e torna invisível a
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    realidade
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    existente quatro o mito resulta de ações
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    sociais e produz como resultado outras
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    ações sociais que o confirmam Isto é um
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    mito produz valores ideias
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    comportamentos práticas que o reafirmam
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    ininterruptamente ele não é portanto um
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    simples conjunto de ideias um mito é uma
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    forma de
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    ação e por último o mito Tem uma função
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    apaziguadora e repetidora ele assegura
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    para a sociedade
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    a sua autoconservação sobre as
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    transformações
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    históricas Isso significa que um mito é
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    um suporte de
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    ideologias ele as fabrica para que possa
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    simultaneamente enfrentar as mudanças
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    históricas e
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    negá-las Pois cada forma ideológica
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    produzida está encarregada de manter a
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    matriz mítica
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    inicial em suma Aia
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    é apenas a expressão temporal de um mito
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    fundador que a sociedade narra para si
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    mesma sem
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    cessar eu estou tomando portanto a
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    palavra mito no sentido antropológico de
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    solução imaginária para tensões
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    conflitos e contradições que não
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    encontram caminhos para serem resolvidos
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    no plano simbólico e no plano real
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    e estou tomando no sentido
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    psicanalítico da
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    repetição a repetição do fantasma né a
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    produção fantasmática e a sua repetição
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    ininterrupta neurose da mais pura
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    qualidade
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    né Falo em mito fundador porque a
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    maneira de toda a fundação o mito propõe
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    um vínculo entre o passado como origem
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    Isto é um passado que não cessa de
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    existir que não permite o trabalho da
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    própria história um passado que se
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    conserva como peren
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    presente nesse sentido o mito
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    fundador na sua acepção
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    psicanalítica é o impulso a repetição
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    como impossibilidade de
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    simbolização e sobretudo como um
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    bloqueio a passagem ao real um mito
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    fundador é aquele que não cessa de
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    encontrar novos meios de exprimir-se
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    novas linguagens Novos Valores e ideias
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    de tal modo que quanto mais parece ser
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    outra coisa tanto mais é a repetição de
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    si mesmo no nosso caso o mito fundador é
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    exatamente o mito da não violência que é
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    essencial à sociedade brasileira e cuja
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    elaboração remonta ao período da
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    descoberta e conquista da América e do
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    Brasil em suma o grande mito que
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    sustenta a imaginação social brasileira
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    é o da não violência a nossa
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    autoimagem de um povo que foi escolhido
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    por Deus
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    né vivemos por
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    natureza
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    Escolhidos por Deus por
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    natureza e qualquer um diz para você
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    qualquer um olha
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    ol não sei onde tem terremoto não sei
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    onde tem vulcão não sei onde tem tsunami
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    não sei onde tem Nevasca não sei aqui
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    não aqui é uma primavera perene porque
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    nós somos um dom de
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    Deus Brasil é um dom de Deus aos
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    brasileiros então começa aqui a natureza
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    brasileira já não é violenta não tem
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    violência já no nível da natureza então
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    é óbvio que nós estamos destinados a não
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    sermos psicologicamente e socialmente
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    violentos a nossa natureza não o tem
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    esse é o primeiro elemento do mito
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    fundador que começa na hora que na hora
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    que o Cristóvão Colombo escreve a
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    primeira carta pra rainha e na hora que
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    o Pedro vai Pedro Vas de Caminha escreve
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    a primeira carta pro rei
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    né essa terra que é uma
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    primavera
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    permanente de um clima sempre temperado
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    em que se plantando tudo dá né Essa é a
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    carta do Pero vais
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    então natureza bem fazer
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    protetora que nos faz pessoas não
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    violentas nós não temos motivo para
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    sermos violentos Porque nós não temos
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    que combater as forças da natureza
  • 00:12:43
    né isso nos dá a
  • 00:12:46
    autoimagem de um povo ordeiro e
  • 00:12:52
    Pacífico a bandeira nacional diz Ordem e
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    Progresso
  • 00:12:59
    somos nós então um povo ordeiro e
  • 00:13:04
    Pacífico
  • 00:13:07
    Alegre
  • 00:13:09
    cordial
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    acolhedor
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    mestiço incapaz de discriminação ética
  • 00:13:18
    religiosa social ou sexual
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    acolhedor para os estrangeiros e Os
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    migrantes generoso com os
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    orgulhoso das Diferenças
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    regionais e evidentemente
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    destinado a um grande
  • 00:13:38
    futuro qualquer um qualquer lugar diz
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    isso para você o tempo
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    inteiro eu não sei se quando vocês foram
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    pra escola vocês ainda aprendiam isso eu
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    na escola que eu fui era isso que eu
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    aprendia eu
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    recitava no dia 7 de Setembro e no dia
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    15 de novembro eu recitava oav
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    Bilac eu aprendi a recitar oav Bilac Tô
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    vendo que muitos nem sabem quem é olav
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    Bilac
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    né então olav Bilac o poema que eu
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    recitava no dia 7 de setembro no dia 15
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    de Novembro todo ano no grupo escolar
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    era o seguinte começava
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    assim Ama com fé e orgulho a terra em
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    que
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    nasceste
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    criança jamais verás um país como este
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    Olha que mar que céu que Floresta a
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    natureza que perpetuamente infesta é um
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    ceio de mãe a transbordar carinhos eu
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    recitava isso todo 7 de Setembro todo 15
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    de
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    [Aplausos]
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    Novembro Então eu fui formada no mito
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    fundador eu não sei que forma eles T na
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    escola para vocês como é que ele aparece
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    eu acho que ele aparece com a ideia da
  • 00:15:06
    da
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    sensualidade da
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    cabrocha do do do da ginga no futebol né
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    Nós temos é uma coisa maravilhosa porque
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    nós somos sensuais temos uma
  • 00:15:21
    Ginga
  • 00:15:22
    isso só que nós pertencemos a uma
  • 00:15:25
    civilização que considera que o corpo é
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    inferior à alma que é espiritual e
  • 00:15:32
    Imortal e a alma não é sensual é o corpo
  • 00:15:37
    que é então nós temos uma desgraceira de
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    um corpo que é puro
  • 00:15:49
    pecado ou
  • 00:15:51
    seja é uma tristeza né gente nós somos
  • 00:15:55
    nós estamos mergulhados desde o primeiro
  • 00:15:58
    dia que a gente nasce nessas
  • 00:16:01
    contradições
  • 00:16:02
    nessas naquilo que naquilo que o o
  • 00:16:06
    flobert quando quando flober pela
  • 00:16:08
    primeira vez analisou a sociedade
  • 00:16:10
    burguesa ele escreveu um dicionário
  • 00:16:13
    chamado dicionário das ideias feitas em
  • 00:16:15
    que tudo quanto era mediocridade
  • 00:16:17
    estupidez ignorância tontice ele
  • 00:16:20
    rejeitou ele Ele registrou na forma de
  • 00:16:23
    um dicionário eu tenho vontade de
  • 00:16:24
    escrever um assim a partir do do nosso
  • 00:16:27
    mito fundador o que nós temos de ideia
  • 00:16:29
    feita e que é só bobagem é isso então
  • 00:16:34
    essa essa autoimagem que nós temos é a
  • 00:16:37
    nossa pureza não violenta agora vem o
  • 00:16:40
    problema vamos ver qual é o
  • 00:16:45
    problema muitos
  • 00:16:47
    indagar como o mito da não violência
  • 00:16:51
    brasileira pode
  • 00:16:53
    persistir sob o impacto da violência
  • 00:16:57
    real
  • 00:16:59
    cotidiana conhecida de todos e que nos
  • 00:17:03
    últimos tempos É também ampliada por sua
  • 00:17:05
    divulgação e difusão pelos meios de
  • 00:17:09
    comunicação de massa ora É justamente no
  • 00:17:14
    modo de Interpretação da violência que o
  • 00:17:19
    mito encontra meios para se
  • 00:17:22
    conservar o mito da não violência
  • 00:17:27
    permanece porque graças a ele admite-se
  • 00:17:31
    a existência de fato da
  • 00:17:33
    violência e ao mesmo tempo São
  • 00:17:35
    fabricadas explicações para denegá-lo no
  • 00:17:40
    instante mesmo em que ela é
  • 00:17:43
    admitida a a principal eu vou examinar
  • 00:17:47
    os vários mecanismos para fazer isso mas
  • 00:17:50
    evidentemente o principal
  • 00:17:54
    instrumento para afirmar que existe
  • 00:17:57
    violência e negar que ela é constitutiva
  • 00:18:01
    da sociedade brasileira é alojar a
  • 00:18:04
    violência num determinado ponto ela é
  • 00:18:08
    alojada na
  • 00:18:10
    criminalidade Então como ela se reduz ao
  • 00:18:13
    campo da criminalidade ela fica
  • 00:18:14
    Invisível em todo o restante né bom
  • 00:18:18
    então como
  • 00:18:21
    explicar que a exibição
  • 00:18:24
    cotidiana pelos meios de comunicação de
  • 00:18:26
    massa da violência
  • 00:18:29
    país possa deixar
  • 00:18:31
    intocado o mito da não violência e ainda
  • 00:18:35
    suscitar o clamor do retorno à
  • 00:18:40
    ética para responder nós precisamos
  • 00:18:44
    examinar os mecanismos ideológicos de
  • 00:18:47
    conservação dessa
  • 00:18:49
    mitologia o primeiro primeiro mecanismo
  • 00:18:52
    é o da
  • 00:18:54
    exclusão afirma-se que a nação
  • 00:18:57
    brasileira é não violenta e que se
  • 00:19:00
    houver violência ela é praticada por
  • 00:19:03
    gente que não faz parte da Nação mesmo
  • 00:19:07
    que tenha nascido no Brasil e viva no
  • 00:19:09
    Brasil o mecanismo da exclusão produz a
  • 00:19:13
    diferença entre um nós brasileiros não
  • 00:19:16
    violentos e um eles não brasileiros
  • 00:19:21
    violentos eles não fazem parte do
  • 00:19:25
    nós o segundo mecanismo
  • 00:19:28
    é o da distinção
  • 00:19:31
    metafísica distingue-se entre o
  • 00:19:35
    essencial e o acidental Isto é por
  • 00:19:40
    Essência os brasileiros não são
  • 00:19:42
    violentos portanto a violência é
  • 00:19:47
    acidental ela é um acontecimento efêmero
  • 00:19:51
    passageiro ela é uma
  • 00:19:54
    epidemia ela é um surto né surto de
  • 00:19:59
    violência epidemia de violência é uma
  • 00:20:01
    coisa acidental passageira que se
  • 00:20:05
    localiza na superfície de um tempo e de
  • 00:20:08
    um
  • 00:20:09
    espaço precisos ela é definida como
  • 00:20:13
    superável e deixa intacta a nossa
  • 00:20:17
    essência não
  • 00:20:19
    violenta o terceiro mecanismo é
  • 00:20:23
    jurídico a violência fica circunscrita
  • 00:20:26
    ao campo da ência e da
  • 00:20:29
    criminalidade o crime sendo definido
  • 00:20:32
    como ataque à propriedade privada furto
  • 00:20:35
    roubo
  • 00:20:37
    latrocínio esse mecanismo permite por um
  • 00:20:41
    lado determinar Quem são os agentes
  • 00:20:45
    violentos em 99% dos casos são os pobres
  • 00:20:51
    e permite legitimar a ação esta sim
  • 00:20:56
    violenta da polícia
  • 00:20:58
    contra a população pobre os negros as
  • 00:21:01
    crianças de rua os
  • 00:21:04
    favelados ação policial Pode às vezes
  • 00:21:08
    ser considerada
  • 00:21:10
    violenta ela recebe o nome de chacina ou
  • 00:21:13
    massacre quando de uma só vez e sem
  • 00:21:16
    motivo o número de assassinados é muito
  • 00:21:20
    elevado no restante das vezes porém o
  • 00:21:23
    assassinato policial é considerado
  • 00:21:25
    normal e natural uma vez que se trata de
  • 00:21:28
    proteger o nós contra o
  • 00:21:33
    eles o quarto mecanismo é
  • 00:21:37
    sociológico atribui-se a epidemia de
  • 00:21:40
    violência a um momento definido no tempo
  • 00:21:44
    aquele no qual se realiza a transição
  • 00:21:47
    para a modernidade das populações que
  • 00:21:50
    migraram do campo para a cidade das
  • 00:21:53
    regiões mais pobres norte nordeste para
  • 00:21:57
    as mais ricas e das cidades pequenas
  • 00:22:01
    para cidades maiores a migra todas essas
  • 00:22:06
    migrações causariam o fenômeno
  • 00:22:09
    temporário da
  • 00:22:11
    anomia no qual a perda das formas
  • 00:22:14
    antigas de sociabilidade ainda não foram
  • 00:22:17
    substituí por novas fazendo com que Os
  • 00:22:20
    migrantes normais das vezes pobres
  • 00:22:23
    tendam a praticar atos isolados de
  • 00:22:26
    violência que desaparecerão quando
  • 00:22:29
    estiver completada a sua transição para
  • 00:22:32
    a modernidade
  • 00:22:35
    aqui não só a violência atribuída aos
  • 00:22:37
    migrantes aos pobres aos
  • 00:22:40
    desadaptados como ela ainda é consagrada
  • 00:22:43
    como algo episódico e
  • 00:22:47
    temporário e finalmente o último
  • 00:22:50
    mecanismo é o da inversão do Real graças
  • 00:22:54
    à produção de máscaras que permitem
  • 00:22:57
    dissimular
  • 00:22:58
    comportamentos ideias e valores
  • 00:23:01
    violentos como se fossem não violentos
  • 00:23:05
    assim por exemplo o machismo é colocado
  • 00:23:09
    como proteção natural a natural
  • 00:23:11
    fragilidade feminina proteção que inclui
  • 00:23:14
    a ideia de que as mulheres precisam ser
  • 00:23:17
    protegidas delas próprias Pois afinal
  • 00:23:20
    como todo mundo sabe o estupro é um ato
  • 00:23:23
    feminino de provocação e sedução quem é
  • 00:23:26
    que não sabia que mulheres é que fazem o
  • 00:23:29
    estupro o paternalismo branco é visto
  • 00:23:33
    como proteção para auxiliar a natural
  • 00:23:36
    inferioridade dos negros a repressão
  • 00:23:39
    contra os homossexuais é considerada uma
  • 00:23:42
    proteção natural aos valores sagrados da
  • 00:23:45
    família que
  • 00:23:47
    agora também afetam a saúde e a vida do
  • 00:23:51
    gênero humano inteiro ameaçado pela
  • 00:23:54
    aides trazida por esses degenerados
  • 00:23:58
    a destruição do meio ambiente é
  • 00:24:00
    orgulhosamente vista como sinal de
  • 00:24:02
    progresso e civilização Em resumo eu
  • 00:24:06
    poderia continuar mostrando as máscaras
  • 00:24:09
    que invertem e transformam a violência
  • 00:24:12
    em expressões de não violência a
  • 00:24:16
    violência não é percebida ali mesmo onde
  • 00:24:20
    ela se origina ali mesmo onde ela se
  • 00:24:24
    define como violência propriamente dita
  • 00:24:28
    Isto é como toda a prática e toda ideia
  • 00:24:30
    que reduz um sujeito à condição de coisa
  • 00:24:33
    que viole interior exteriormente o ser
  • 00:24:36
    de alguém que perpetue relações sociais
  • 00:24:40
    de profunda desigualdade Econômica
  • 00:24:42
    social e cultural mais do que isso a
  • 00:24:46
    sociedade não percebe que as próprias
  • 00:24:49
    explicações que ela oferece são
  • 00:24:52
    violentas porque ela está cega ao lugar
  • 00:24:55
    efetivo da produção
  • 00:24:59
    Ou seja a estrutura da sociedade
  • 00:25:04
    brasileira dessa maneira as
  • 00:25:06
    desigualdades econômicas sociais e
  • 00:25:09
    culturais as exclusões econômicas
  • 00:25:12
    políticas e sociais a corrupção como
  • 00:25:16
    forma de funcionamento das instituições
  • 00:25:19
    o racismo o sexismo a intolerância
  • 00:25:22
    religiosa sexual e
  • 00:25:26
    polí
  • 00:25:28
    Isto é a sociedade brasileira não é
  • 00:25:31
    percebida como estruturalmente
  • 00:25:34
    violenta e a violência aparece por isso
  • 00:25:37
    como um fato esporádico de superfície em
  • 00:25:41
    outras palavras a mitologia e os
  • 00:25:44
    procedimentos ideológicos fazem com que
  • 00:25:47
    a violência que organiza e estrutura as
  • 00:25:51
    relações sociais brasileiras não sejam
  • 00:25:55
    percebidas eu passo então meu m
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