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O último grande império do Mar
Mediterrâneo durou mais de 600 anos.
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Esse mapa mostra a extensão que esse
império chegou a ter... e o que sobrou dele.
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Eu sou Laís Alegretti, da BBC News Brasil, e estou
falando do Império Otomano, ou turco, um enorme
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Estado que se expandiu por três continentes
e que chegou a ameaçar a Europa Ocidental.
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Neste vídeo, também explico o que levou
à derrocada dessa superpotência e por que
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ela ficou reduzida à atual República da Turquia.
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Isso que você está escutando é o chamado à oração
do Islã, religião predominante no Império Otomano.
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O Islã de corrente sunita foi adotado pelos povos
turcos quando ainda eram nômades na Ásia Central.
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Mas tudo indica que foi só no século 11 que os
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turcos começaram a se estender pela
península da Anatólia, atual Turquia.
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Naquela época, a área era controlada pelo
Império Selêucida. Com sua decadência,
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se formaram vários pequenos principados autônomos.
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Um deles tinha a cidade de Sogut como
capital, e seu líder era Ertugrul.
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O filho dele, Osmã 1°, foi quem deu
origem ao Império Otomano, em 1299.
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E assim começou a dinastia otomana.
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Mas de onde vem esse nome? Em árabe,
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Osmã se escreve assim (na tela: “uthman”)
e se pronuncia algo como “otzman”.
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Os bizantinos foram os
primeiros rivais dos otomanos.
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Eis como a história se desenrolou.
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Com a divisão do Império Romano,
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as penínsulas de Anatólia e dos Bálcãs
ficaram sob domínio do Império Bizantino.
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Mas à medida que os bizantinos
foram perdendo territórios,
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Osmã viu uma oportunidade de dar o golpe final.
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Durante o século 14, os otomanos avançaram
pelo noroeste da Anatólia e, na Europa,
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entraram nos Bálcãs, enfrentando os bizantinos.
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As várias conquistas otomanas foram se
tornando capitais do império – desde Sogut,
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onde ele nasceu, até Bursa e depois Edirne.
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Mas o grande anseio do povo
turco sempre foi Constantinopla,
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a joia da coroa bizantina. A cidade estratégica
foi finalmente conquistada em 1453, depois de
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oito semanas de investidas comandadas
pelo sultão Mehmed 2°, o Conquistador.
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Esse foi o fim do Império Bizantino.
Constantinopla virou a capital do
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Império Otomano, com o nome
que tem até hoje: Istambul.
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Essa conquista consolidou também o
poder turco nos Bálcãs, que já se
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estendia pelas atuais Bósnia, Sérvia, Albânia,
Macedônia, Bulgária e Grécia. Outras regiões,
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como Valáquia e o Canato da Crimeia,
foram subjugadas pelo império otomano.
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E a ânsia expansionista dos
otomanos estava apenas começando.
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Com a chegada do século 16, dois
sultões conseguiram transformar
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o Império Otomano na força dominante no
Mar Mediterrâneo: Selim 1° e Solimão 1°.
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Selim 1° foi sultão por oito
anos e liderou uma das maiores
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expansões otomanas. Acabou com o
sultanato mameluco e anexou a Síria,
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a Palestina e o Egito. A Argélia
também acabou se unindo ao império.
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Com as anexações, os otomanos
tomaram o controle das cidades
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santas de Meca e Medina, os
locais mais sagrados do Islã.
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Sob o filho de Selim, Solimão 1°, o Magnífico,
os otomanos se assentaram no norte da África. E,
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principalmente, avançaram para grande
parte da Hungria, incluindo Budapeste.
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Eles tentaram, sem sucesso,
conquistar Viena em 1529. Mas
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foi um sinal claro para a Europa de
que o Império Otomano era uma ameaça.
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Mas como eles conseguiram manter
um território tão extenso?
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Historiadores dizem que se tratava
de um império de comando inteligente,
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que soube adaptar seus interesses e
tradições aos países que eram conquistados.
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Na região dos Bálcãs, por exemplo, eles
aproveitaram as disputas internas para
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oferecer à população algo muito
desejado: paz e estabilidade.
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Do ponto de vista econômico,
a expansão pelo Mediterrâneo
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fez do Império Otomano um intermediário
crucial no comércio entre Europa e Ásia.
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O império costumava ser tolerante com as religiões
de cada um dos povos anexados. Mas nem sempre.
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Existiu uma prática conhecida como
“DEVSHIRME”, que pode ser traduzida
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como imposto sobre o sangue, e que foi
particularmente cruel com a população cristã.
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Sob essa prática, o império otomano recrutava à
força crianças de famílias cristãs nos Bálcãs.
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As crianças eram forçadas a se converter ao
Islã e treinadas para virar soldados janízaros.
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Os janízaros eram a tropa de elite do Império
Otomano e faziam a guarda pessoal do sultão.
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O poder centralizado do sultão, aliás,
foi crucial para manter a unidade de um
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império tão amplo e poderoso diante
de ameaças internas e externas.
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Mas esse sistema estável começou
a sofrer as primeiras rachaduras.
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Depois da morte de Solimão 1°, em 1566, as
disputas internas ficaram mais latentes,
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e havia relatos de corrupção
por todo o território otomano.
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Além disso, a pressão excessiva
sobre os cristãos nos Bálcãs e os
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próprios muçulmanos no Oriente Médio desatou
inúmeras revoltas. A estabilidade se perdeu.
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E vieram também as derrotas militares. Em 1570,
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os otomanos fracassaram na
tentativa de conquistar o Chipre.
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No ano seguinte, aconteceu a primeira grande
derrota otomana na Europa: a batalha de Lepanto.
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Foi uma das maiores batalhas navais da
história. Colocou frente a frente os
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otomanos e a chamada Liga Santa, uma coalizão
católica organizada pelo papa Pio 5° e formada,
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entre outros, pelo Império Espanhol, na época em
seu apogeu, e as repúblicas de Veneza e Gênova.
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Foi a primeira grande vitória
naval cristã sobre os otomanos.
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Mais de um século depois, os otomanos
continuaram a expandir sua extensão
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territorial, mas sofreram um golpe duro.
Em 1683, o império voltou a tentar tomar
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a cidade de Viena durante a chamada Grande
Guerra Turca, mas de novo não conseguiu.
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Ao longo do século 18, a maior parte do território
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otomano continuou intacta. Foi no século
19 que o grande declínio começou de fato.
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A Revolução Francesa e a revolução industrial
também despertaram sentimentos nacionalistas
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e começaram a evidenciar que o Império
Otomano estava atrasado em relação à Europa.
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Algumas regiões lutaram e conseguiram sua
independência, como a Grécia, em 1829, a
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Sérvia, a Romênia, Montenegro (1877), Bósnia
(1878), a Bulgária (1908) e a Albânia, em 1912.
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Outras partes do império foram arrebatadas
por potências como o Reino Unido,
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França e Itália – caso de Argélia,
Tunísia, Egito, Chipre e Líbia.
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Mas o golpe final aos otomanos
foi a Primeira Guerra Mundial,
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quando o império turco se aliou ao
império alemão e ao austro-húngaro.
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Foi durante esse conflito que aconteceu a
morte de estimados 1 milhão de armênios,
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quando os otomanos os deportaram da Anatólia,
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acusando-os de sabotadores. Essas pessoas
morreram assassinadas, de fome ou doenças.
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A Turquia até hoje resiste a chamar o episódio
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de genocídio, a despeito de essa ser a
nomenclatura usada por muitos historiadores.
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A vitória dos Aliados na Primeira Guerra, em 1918,
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acabou por sepultar o Império Otomano,
que perdeu seus últimos territórios no
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Oriente Médio. A reação veio na forma de
campanhas militares turcas contra Grécia,
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Armênia, França e contra tropas britânicas e
separatistas dentro do próprio território turco.
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A chamada Guerra de Independência Turca
terminou em 1° de novembro de 1922,
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com o nascimento do novo Estado
turco e a abolição do sultanato.
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Um ano depois, em 1923, foi oficialmente
proclamada a República da Turquia,
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comandada por Mustafa Kemal Ataturk.
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Foi também oficialmente o fim
de 623 anos de Império Otomano.
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Por hoje é só, conta pra gente nos comentários
se você gosta de vídeos de história como este.
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Obrigada pela audiência e até a próxima.
