Democracia é saúde

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Ringkasan

TLDRA 8ª Conferência Nacional de Saúde, liderada pelo professor Sergio Arouca, enfoca a relação entre democracia e saúde, afirmando que a saúde é mais do que a mera ausência de doenças, envolvendo direitos sociais essenciais. A conferência destaca a necessidade do Estado em garantir o direito à saúde e critica a desigualdade do sistema atual, clamando por uma reforma que respeite a cultura brasileira e que seja efetivamente inclusiva. O evento promoveu a participação da sociedade civil, permitindo um espaço para vozes da população refletirem sobre a necessidade de um projeto nacional de saúde.

Takeaways

  • 🌟 A saúde é mais que ausência de doença: é um bem-estar físico e social.
  • 🗳️ A importância da democracia na saúde: garantir direitos iguais.
  • 🏛️ O papel do Estado é fundamental na garantia do direito à saúde.
  • 🔄 A reforma do sistema de saúde deve ser feita com participação social.
  • 🌍 O sistema de saúde precisa refletir a diversidade e a cultura brasileira.
  • 📈 Há necessidade de romper ciclos de miséria em saúde pública.
  • 🗣️ A sociedade civil deve ter voz ativa nas decisões de saúde.
  • 🏥 O acesso à saúde digna é um direito humano essencial.
  • 💬 A conferência é um espaço para discutir e definir políticas de saúde.
  • 🤝 A união entre diferentes setores é crucial para avançar em saúde.

Garis waktu

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    Na 8ª Conferencia Nacional de Saúde, o professor Sergio Arouca destaca a importância da participação da sociedade civil, sublinhando a necessidade de voz e voto para os movimentos populares. Ele expressa que a saúde deve ser mais que a ausência de doença, abrangendo o bem-estar físico, social e a liberdade de viver sem medo, propondo um conceito amplo que inclui direitos básicos como casa, educação e uma vida digna.

  • 00:05:00 - 00:10:00

    Arouca continua explorando a definição de saúde, enfatizando que não se resume a diagnósticos médicos, mas inclui condições sociais e direitos fundamentais. Ele utiliza um depoimento de um camponês para ilustrar que a saúde está vinculada ao acesso ao trabalho e à terra, ampliando a discussão sobre a relação entre qualidade de vida e saúde.

  • 00:10:00 - 00:15:00

    O conceito do ciclo econômico da doença é introduzido, explicando como a pobreza e a falta de acesso a recursos básicos perpetuam a doença e a miséria. Arouca explica que condições de vida precárias levam à deterioração da saúde, criando um ciclo vicioso que nega oportunidades e afeta o sistema de saúde.

  • 00:15:00 - 00:20:00

    Arouca critica o que ele chama de 'milagre econômico' do Brasil, onde a riqueza aumentou, mas a pobreza e a mortalidade infantil também, sugerindo uma desconexão entre crescimento econômico e melhoria na qualidade de vida. Ele defende que democratização e uma nova política econômica são essenciais para reverter esse ciclo de miséria.

  • 00:20:00 - 00:25:00

    A conferência, segundo Arouca, deve ser um espaço para discutir mudanças profundas no sistema de saúde, além de reformas administrativas superficiais. Ele reforça a ideia de que a saúde é um direito humano que deve ser garantido pelo Estado, e que mudanças devem emergir de um debate amplo e participativo.

  • 00:25:00 - 00:30:00

    Arouca enfatiza a responsabilidade coletiva na construção de um novo sistema de saúde, que deve incluir a voz da população e refletir suas necessidades e experiências. As pré-conferências são destacadas como um passo positivo para mobilizar a sociedade na discussão de temas relevantes.

  • 00:30:00 - 00:35:00

    A conferência é vista como um espaço de inclusão onde as vozes dos trabalhadores e usuários dos serviços de saúde podem se manifestar, ao contrário de uma simples representação de interesses econômicos. Arouca enfatiza a importância de garantir que os delegados representem a verdadeira diversidade da sociedade brasileira.

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    Por fim, Arouca conclui que a conferência não é apenas um evento de quatro dias, mas o início de um processo contínuo de transformação no sistema de saúde do Brasil. Ele clama por um compromisso com uma reforma sanitária que priorize o bem-estar da população, criando um modelo de saúde fundamentado na dignidade humana e na justiça social.

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Peta Pikiran

Video Tanya Jawab

  • Quais são os principais temas discutidos na conferência?

    Os principais temas incluem a definição de saúde como um direito humano, a organização dos serviços de saúde e como financiá-los.

  • Quem é o conferencista principal da 8ª Conferência Nacional de Saúde?

    O conferencista principal é o professor Sergio Arouca.

  • Qual é a visão de saúde apresentada na conferência?

    A saúde é vista como um bem-estar físico, mental e social, não se limitando à ausência de doenças.

  • O que é destacado sobre o papel da sociedade civil na conferência?

    A conferência destaca a importância da representação da sociedade civil e seus direitos na discussão sobre saúde.

  • Qual é a relação entre democracia e saúde, segundo Arouca?

    A democratização é vista como fundamental para a melhoria das condições de saúde da população.

  • O que é considerado essencial para a reforma do sistema de saúde?

    A reforma deve ser construída com a participação da sociedade e deve respeitar as especificidades regionais e culturais.

  • Quais são os objetivos da conferência?

    Os objetivos incluem discutir e desenvolver um projeto nacional de saúde que garanta direitos igualitários.

  • Como as desigualdades no sistema de saúde são abordadas?

    As desigualdades são criticadas, e propõe-se que o sistema de saúde deve ser inclusivo e acessível a todos.

  • Qual é a importância das pré-conferências estaduais?

    As pré-conferências estaduais geraram discussões locais e fortaleceram a participação da sociedade na conferência nacional.

  • Que mudanças são solicitadas para o sistema de saúde?

    A proposta é uma reforma sanitária que universalize os serviços de saúde e garanta dignidade e direitos fundamentais.

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    8ª Conferência Nacional de Saúde
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    O único conferencista
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    escalado para esta sessão
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    é o professor Sergio Arouca.
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    Já por demais conhecido  de todos nós,
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    e que, na realidade, dispensa
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    qualquer tipo de apresentação.
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    Bem, com maior prazer,
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    maior satisfação
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    estou aqui para falar nessa,
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    nessa conferência sobre democracia
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    e a saúde
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    nessa mesa com o doutor Mosconi,
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    que revitalizou a comissão de saúde
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    da assembléia,
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    e também com o doutor João Nei,
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    que vem dando um papel absolutamente novo
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    a presidência do Conselho Nacional de Secretários de Saúde.
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    E na realidade hoje, nessa 8ª Conferência Nacional,
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    eu acho que nós temos um convidado,
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    o participante que conseguir um lugar nessa conferência
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    com bastante sacrifício
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    que a sociedade civil brasileira organizada.
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    E acho que é muito
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    pra eles
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    que eu gostaria hoje, quase que dedicar
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    às palavras.
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    Eu acho que o fato
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    de estar aqui
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    na 8ª Conferência Nacional de Saúde
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    a representação de confederações nacionais
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    de trabalhadores,
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    de estarem aqui representados e pedindo direito a voz e a voto
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    o movimento popular de saúde de Recife.
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    Pelo fato de estarem aqui participando associações de bairro
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    e outras entidades da sociedade brasileira,
  • 00:03:00
    CNBB,
  • 00:03:02
    ABI ou AB,
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    enfim,
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    quase que o conjunto das entidades que nós conseguimos
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    identificar
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    no mapeamento quase exaustivo da sociedade brasileira,
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    eu gostaria
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    de considerá-los como membros privilegiados
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    dessa 8ª Conferência Nacional de Saúde.
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    E a eles
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    quase que dedicar
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    a discussão
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    sobre essa questão de democracia
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    e a saúde
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    que hoje nós vamos enfrentar.
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    E pra
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    tomar essa discussão
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    me pareceu
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    que nada melhor do que tomar o conceito de saúde e doença.
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    E o conceito de saúde e doença,
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    que vem sendo nos últimos anos colocado,
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    principalmente da Organização Mundial da Saúde,
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    um conceito muito criticado
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    talvez porque ele não conseguisse,
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    ele ficasse em termos muito genéricos que os abstratos
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    e não conseguia servir de base para que pudesse ser quantificado,
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    quantas pessoas têm ou não têm saúde em um certo país.
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    Mas me parece que nesse momento
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    de transição,
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    acho que é importante voltar
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    a colocar esse conceito sobre a mesa,
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    que saúde não é simplesmente a ausência da doença,
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    não é simplesmente aquela pessoa que num determinado instante,
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    por qualquer forma de diagnóstico médico,
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    qualquer tipo de exame
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    não seja constatado nele nenhuma doença,
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    a Organização Mundial de Saúde considerou que é mais que isso,
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    que além das simples ausência de doença
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    que saúde deve ser entendido
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    como um bem estar físico,
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    e portanto no instante que ele é físico,
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    ele supõe
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    uma determinada maneira de sentir
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    social,
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    afetivo.
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    E algumas pessoas nesses debates que antecederam a Conferência Nacional de Saúde
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    entre eles o professor da escola Nacional de Saúde Pública,
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    professor Cynamon,
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    acrescentou, também, a ausência do medo
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    e talvez sobre isso, seria interessante a gente pensar um pouquinho o que significa isso.
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    O que significa esse conceito de  saúde
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    que é quase colocado com alguma coisa a ser atingida,
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    que não é simplesmente que as pessoas não tenham doença,
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    é mais
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    tão bem estar social,
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    um bem estar social
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    que pode significar
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    que as pessoas
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    têm mais alguma coisa
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    do que simplesmente não estar doente,
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    que tem o direito
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    a casa,
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    que tem direito ao trabalho,
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    que tem direito ao salário condigno,
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    que tem direito a água,
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    que tem direito a vestimenta,
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    que tem direito a educação
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    até informações
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    sobre como se pode dominar esse mundo e transformá-lo,
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    que tenha direito ao meio ambiente
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    que não nos seja agressivo
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    mas pelo contrário,
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    que permita a existência de uma vida digna e decente,
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    que tenho direito a um sistema político que o respeito à livre opinião,
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    a livre possibilidade de organização,
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    a livre possibilidade da alta total determinação de um povo
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    e que esteja
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    todo tempo
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    submetido ao medo
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    da violência,
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    daquela violência resultante da miséria
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    que resulta no roubo, no ataque
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    que não esteja também submetida ao medo da violência
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    de um governo contra seu próprio povo,
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    para que seja mantido
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    interesses que não são os interesses do povo
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    como nós assistimos infelizmente
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    na última década na América Latina
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    e continuamos ainda assistindo em alguns países,
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    se bem que a maioria dos países da América Latina conseguiram
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    nos últimos anos,
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    afastar a grande maioria das ditaduras desse país
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    que assistimos com alegria agora o Haiti,
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    que assistimos agora com alegria
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    as Filipinas,
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    mas ainda somos obrigados a viver com a ditadura chilena.
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    E nessa linha
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    conviver sem o medo
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    é conviver com a possibilidade da autodeterminação individual,
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    da liberdade de organização
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    da autodeterminação dos povos
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    e simultaneamente,
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    com possibilidade de viver sem ameaça da violência final
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    que seria uma guerra exterminadora de toda uma civilização.
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    E em alguns dos encontros preparatórios dessa conferência
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    já que ela que se encontra os preparatórios
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    se realizarem em praticamente todos os estados do território desse país,
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    nós tivemos a oportunidade
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    de assistir a depoimentos
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    da maior sabedoria.
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    Em uma pequena cidade
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    no interior do Paraná
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    onde estava se reunindo uma comissão de saúde,
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    um trabalho organizado pela Secretaria de Saúde do Paraná,
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    um camponês chega ao microfone
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    e diz o seguinte:
  • 00:09:23
    "Saúde é a possibilidade de trabalhar e ter acesso à terra."
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    Então saúde começa a ganhar uma dimensão muito maior
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    do que simplesmente ser uma questão de hospitais,
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    que simplesmente ser uma questão de medicamentos,
  • 00:09:48
    ela se supera
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    e ela quase que chega num certo instante
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    e se iguala a nível e qualidade de vida.
  • 00:09:58
    Algumas vezes
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    qualidade vida ainda não conseguida,
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    mas pelo menos ainda desejada.
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    Alguns tempos atrás também foi criado
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    o conceito muitas vezes até criticado, inclusive até por mim mesmo
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    que chamava o ciclo econômico da doença,
  • 00:10:23
    mas que nesse momento, talvez, seja até importante trazê-lo de volta
  • 00:10:27
    porque é uma questão muito simples,
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    é uma ideia que eu acho que tem que ser entendida
  • 00:10:34
    e pensada da sua, exatamente, simplicidade.
  • 00:10:39
    E esse conceito de saúde e doença diz simplesmente o seguinte:
  • 00:10:43
    Se uma pessoa ganha pouco
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    e não consegue comprar
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    aquilo que é fundamental para a sua sobrevivência,
  • 00:10:54
    ela não consegue recuperar toda energia que ela tá gastando trabalho
  • 00:11:00
    e portanto ela se enfraquece.
  • 00:11:03
    Se uma pessoa mora mal
  • 00:11:06
    não consegue que a sua casa
  • 00:11:09
    seja uma proteção contra as agressões do meio ambiente.
  • 00:11:14
    Se uma pessoa não tem acesso à educação
  • 00:11:18
    não consegue ter que aquele  conhecimento
  • 00:11:21
    que lhe permite controlar a natureza
  • 00:11:27
    e tudo isso
  • 00:11:30
    finalmente leva que se uma pessoa não come,
  • 00:11:33
    não come aquilo que é o mínimo necessário, adequado
  • 00:11:37
    à reprodução da vida,
  • 00:11:40
    essas pessoas se enfraquecem
  • 00:11:43
    e se enfraquecendo
  • 00:11:45
    ela perde a luta contra a agressão
  • 00:11:48
    e adoece
  • 00:11:50
    e adoecendo, não trabalha,
  • 00:11:54
    e não permite mais vencer todas as lutas
  • 00:11:59
    que uma sociedade competitiva lhe coloca
  • 00:12:03
    e portanto trabalha menos,
  • 00:12:05
    ganha menos,
  • 00:12:06
    mora pior
  • 00:12:08
    tem água em piores condições,
  • 00:12:10
    se ele alimenta pior,
  • 00:12:11
    e adoece mais.
  • 00:12:14
    A ideia desse conceito nas sua simplicidade
  • 00:12:18
    é quase que dizer,
  • 00:12:20
    que quanto são piores as condições de vida de um povo
  • 00:12:26
    isso vai se tornando um ciclo vicioso
  • 00:12:28
    que faz com que cada vez sejam piores,
  • 00:12:32
    tanto pior educação,
  • 00:12:34
    pior é comida,
  • 00:12:35
    pior alimentação
  • 00:12:38
    pior é a vestimenta,
  • 00:12:39
    pior é a possibilidade de ter assistência médica,
  • 00:12:43
    pior é a possibilidade de ter condições de trabalhos dignos e decentes,
  • 00:12:47
    pior é a possibilidade de condições de trabalho que não toquem por dinheiro
  • 00:12:52
    a intoxicação e morte do trabalhador.
  • 00:12:55
    Cada vez esse povo será mais doente
  • 00:12:59
    e ao contrário
  • 00:13:01
    cada vez que o povo consegue
  • 00:13:04
    ter direito universal à educação,
  • 00:13:07
    ter direito a uma educação condigna
  • 00:13:10
    onde a casa não seja a casa do barbeiro
  • 00:13:13
    mas a casa do camponês.
  • 00:13:16
    E que não se conviva no mangue com os caranguejos
  • 00:13:20
    mas em condições dignas de existência
  • 00:13:23
    que se possa comer aquilo que permite uma reprodução humana digna
  • 00:13:28
    e que não transforma a nação, como já foi denunciada, em uma nação de pigmeus.
  • 00:13:35
    cada vez que se consegue isso
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    é uma população que briga mais
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    que têm mais consciência,
  • 00:13:43
    que domina a natureza,
  • 00:13:45
    que consegue ganhar força para transformar essa sociedade
  • 00:13:49
    no sentido de alcançar cada vez mais
  • 00:13:52
    o nível de vida melhor,
  • 00:13:54
    que consiga alcançar cada vez mais
  • 00:13:57
    o bem estar que condiga
  • 00:14:00
    com um crescimento acelerado da qualidade de vida da civilização,
  • 00:14:05
    é isso que nós queremos.
  • 00:14:09
    A Conferência Nacional de Saúde
  • 00:14:13
    e esse momento que nós estamos encontrando aqui
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    quer dizer, me parece que é fundamental, que é claro essas duas ideias
  • 00:14:21
    saúde não é simplesmente a ausência de doença,
  • 00:14:24
    é muito mais que isso
  • 00:14:26
    é bem-estar físico, mental, social, político.
  • 00:14:33
    Segundo:
  • 00:14:34
    Que as sociedades criam ciclos,
  • 00:14:38
    que uns são ciclos da  miséria
  • 00:14:40
    ou são ciclos do desenvolvimento
  • 00:14:45
    e que é fundamental,
  • 00:14:47
    que aconteceu o ciclo da miséria, ele seja rompido
  • 00:14:50
    seja transformado, seja mudado.
  • 00:14:54
    O Brasil, infelizmente,
  • 00:14:58
    nos últimos,
  • 00:15:00
    conseguiu
  • 00:15:03
    romper talvez uma das leis jamais
  • 00:15:07
    consolidadas da história da civilização,
  • 00:15:11
    que a lei quando um povo cresce a sua riqueza
  • 00:15:14
    melhora o nível de vida desse povo.
  • 00:15:19
    Quando o Brasil no auge do seu chamado 'Milagre Econômico',
  • 00:15:25
    esse país conseguiu aumentar sua riqueza
  • 00:15:28
    e aumentar a morte das suas crianças,
  • 00:15:32
    aumentou sua riqueza
  • 00:15:34
    e aumentou
  • 00:15:36
    as pessoas que passam fome,
  • 00:15:38
    aumentou sua riqueza e aumentou a miséria de uma grande maioria da população,
  • 00:15:44
    aumentou a riqueza e aumentou os marginalizados,
  • 00:15:48
    aumentou a riqueza e diminuir o tamanho do nosso povo.
  • 00:15:54
    Isso não é suportável,
  • 00:15:57
    isso tinha que ser vencido e derrubado.
  • 00:16:03
    E foi nessa direção
  • 00:16:06
    que me parece que durante todos os últimos anos,
  • 00:16:10
    se com uma frase que me parece uma frase da maior importância,
  • 00:16:15
    que é uma frase absolutamente simples,
  • 00:16:19
    que dizia, "Saúde e Democracia",
  • 00:16:24
    atrás dessa frase
  • 00:16:26
    a compreensão que se tinha,
  • 00:16:28
    é que não era possível
  • 00:16:30
    melhorar o nível de vida da nossa população
  • 00:16:33
    enquanto persistisse neste país
  • 00:16:36
    o modelo econômico concentrador renda
  • 00:16:40
    e o modelo político autoritário.
  • 00:16:43
    Então era fundamental
  • 00:16:45
    era ponto de partida
  • 00:16:47
    antes conseguia a democracia.
  • 00:16:51
    E o lema que foi colocado no sistema de saúde
  • 00:16:54
    durante os últimos anos foi exatamente isso
  • 00:16:57
    democracia e saúde,
  • 00:16:59
    significando que para conseguir começar
  • 00:17:03
    a timidamente melhorar as condições de saúde da população brasileira,
  • 00:17:06
    era fundamental a conquista de um projeto democratização desse país.
  • 00:17:12
    Essa luta
  • 00:17:14
    eu acho que ela teve repercussões em todos os níveis
  • 00:17:18
    ela teve repercussão
  • 00:17:20
    na área médica,
  • 00:17:22
    com a criação dos movimentos de renovação médico,
  • 00:17:25
    concentra brasileiro estudos de saúde,
  • 00:17:28
    ela teve impacto em praticamente todas as áreas profissionais de saúde
  • 00:17:34
    que acabaram com
  • 00:17:36
    associações e sindicatos que muitas vezes não representavam os seus interesses
  • 00:17:41
    ela permitiu
  • 00:17:42
    que o papel do legislativo através  das suas comissões de saúde
  • 00:17:45
    fossem efetivamente recuperadas como influência e como influenciadores
  • 00:17:50
    de uma política mais efetiva,
  • 00:17:52
    se criou o parlamento da saúde como
  • 00:17:54
    a Associação das Comissões de Saúde das Assembléias Legislativas e Estaduais,
  • 00:17:59
    o Sindicato dos Trabalhadores criaram os departamentos
  • 00:18:02
    dedicados à saúde do trabalhador.
  • 00:18:04
    A universidade participou de uma forma efetiva
  • 00:18:07
    criando um conhecimento que permitisse  fazer a crítica desse sistema de saúde.
  • 00:18:11
    E todo esse movimento
  • 00:18:14
    acabou desembocando de uma forma  absolutamente direta
  • 00:18:18
    no segundo semestre de 1984
  • 00:18:21
    quando, simultaneamente, com a luta pela democratização desse país
  • 00:18:25
    também se travou uma grande luta pela redefinição da política de saúde desse país
  • 00:18:30
    durante esse período se disseram muitos diagnósticos,
  • 00:18:34
    se tentou entender por que isso acontecia dessa maneira.
  • 00:18:38
    Por que
  • 00:18:40
    que os profissionais da saúde estavam concentrados nos grandes centros urbanos?
  • 00:18:45
    Por que a principal quantidade de serviços saúde estava situada na região sul e sudeste?
  • 00:18:50
    Por que a nossa indústria farmacêutica foi absolutamente
  • 00:18:56
    sucateada?
  • 00:18:58
    Também como foi a grande maioria dos serviços públicos
  • 00:19:01
    que não receberam nenhuma prioridade durante os últimos anos.
  • 00:19:05
    Como foi possível
  • 00:19:07
    durante esse período
  • 00:19:09
    liquidar com a capacidade de produção dos nossos laboratórios nacionais,
  • 00:19:12
    não só de medicamentos.
  • 00:19:15
    Como foi possível
  • 00:19:16
    fazer uma política de recursos humanos
  • 00:19:19
    que leva que pessoas que desempenham funções iguais
  • 00:19:23
    tenham salários diferentes?
  • 00:19:34
    Como foi possível praticamente liquidar com a capacidade de investigação de nossa universidade?
  • 00:19:40
    Como foi possível estabelecer relações
  • 00:19:45
    tão difíceis?
  • 00:19:45
    Para não usar uma palavra pior.
  • 00:19:47
    Com o setor privado.
  • 00:19:50
    Enfim, como foi possível durante esse período
  • 00:19:53
    montar um sistema tão perverso de saúde
  • 00:19:56
    que não atende o interesse de mais ninguém.
  • 00:20:01
    Mas o momento de hoje
  • 00:20:03
    na realidade não é o momento mas repetir diagnósticos
  • 00:20:08
    esse diagnóstico
  • 00:20:10
    análise de como o sistema de saúde do Brasil hoje,
  • 00:20:14
    ele pode com uma, outras palavras talvez ser repetido pela grande
  • 00:20:18
    maioria das pessoas que estão aqui,
  • 00:20:20
    ele pode ser colocado pelo usuário
  • 00:20:22
    como entrar num centro de saúde
  • 00:20:25
    que só trabalha meio período,
  • 00:20:27
    onde os profissionais são contratados por seis horas
  • 00:20:30
    e trabalham só duas.
  • 00:20:31
    E que a higiene se transforma em uma verdadeira pocilga,
  • 00:20:35
    onde falta medicamentos,
  • 00:20:36
    onde o indivíduo não é tratado no mínimo da sua dignidade humana
  • 00:20:39
    que até nome e sobrenome,
  • 00:20:41
    e que todos os homens são transformados em Zé
  • 00:20:43
    e todas as mulheres em dona Maria.
  • 00:20:51
    Na mesma forma como esse  diagnóstico pode ser feito
  • 00:20:54
    a nível do usuário, ele está sendo feito a nível de todos os técnicos políticos,
  • 00:20:59
    que estão efetivamente comprometidos com mudança
  • 00:21:01
    no sistema de saúde desse país.
  • 00:21:04
    Então o momento da conferência,
  • 00:21:07
    na realidade, não está sendo pensado com o momento da conferência
  • 00:21:10
    de se continuar no diagnóstico,
  • 00:21:13
    é o momento de pensar
  • 00:21:16
    de quais são as possibilidades reais e concretas
  • 00:21:18
    que nós temos de mudar esse sistema de saúde hoje no Brasil.
  • 00:21:22
    Eu sei o porquê da conferência
  • 00:21:26
    e, assim, ela nasce
  • 00:21:29
    no instante em que a discussão sobre a formação do sistema de saúde no Brasil.
  • 00:21:35
    Infelizmente
  • 00:21:37
    quase que foi tratada com uma simples reforma administrativa,
  • 00:21:41
    em que se discutia
  • 00:21:42
    se o INAMPS passava ou não passava pelo Ministério da Saúde,
  • 00:21:46
    mas não é isso,
  • 00:21:48
    não é isso que está em questão,
  • 00:21:50
    o que está em questão uma coisa muito mais séria e muito mais profunda
  • 00:21:54
    de que uma simples reforma burocrática administrativa.
  • 00:22:00
    Para que não acontecesse nenhuma mudança durante o ano de 1985
  • 00:22:04
    e essa idéia foi uma ideia é importante,
  • 00:22:09
    apareceu uma crítica que era uma crítica absolutamente séria
  • 00:22:13
    que o conjunto das propostas que estavam sendo feitas reformulação do sistema de saúde
  • 00:22:17
    ainda não tinham passado por um debate suficiente ao nível da sociedade brasileira
  • 00:22:22
    e que qualquer mudança no sistema de saúde
  • 00:22:25
    não podia ser feito uma mudança simplesmente por uma lei
  • 00:22:29
    mas tinha que ser uma mudança que acontecesse a partir do instante
  • 00:22:33
    em que existisse uma consciência nacional
  • 00:22:36
    tão profunda e tão séria que se transformasse em desejo político,
  • 00:22:41
    e um desejo político irreversível,
  • 00:22:43
    eu diria quase que suprapartidário,
  • 00:22:47
    que levasse a essa noção, essa identidade que o sistema de saúde brasileiro tem que ser mudado.
  • 00:22:53
    Como se teve essa compreensão
  • 00:22:57
    se chegou então a uma consciência que convocada numa Conferência Nacional de Saúde,
  • 00:23:03
    exatamente uma conferência que permitisse
  • 00:23:07
    a ampliação a nível nacional de todo debate
  • 00:23:10
    que durante o ano de 1985, talvez tenha acontecido
  • 00:23:13
    ao nível das capitais e ao nível de alguns setores da sociedade brasileira.
  • 00:23:19
    Então essa Conferência  Nacional,
  • 00:23:21
    ela não podia ser igual a outra,
  • 00:23:24
    ela não podia ser igual as sete conferências que antecederam
  • 00:23:28
    ela tinha uma natureza e um caráter absolutamente distinto,
  • 00:23:33
    ela tinha que representar
  • 00:23:35
    quase que uma solicitação
  • 00:23:38
    a que a sociedade brasileira pudesse a partir da crítica do sistema que tem,
  • 00:23:42
    a partir do seu desejo,
  • 00:23:44
    a partir da sua cultura,
  • 00:23:47
    porque não se trata aqui de buscar um modelo de saúde
  • 00:23:50
    que não seja um modelo de saúde
  • 00:23:52
    que seja adequado
  • 00:23:53
    a nossa cultura de brasileiros
  • 00:23:57
    não é o sistema de saúde que nós vamos tirar do bolso
  • 00:24:00
    de uma hora pra outra e falar,
  • 00:24:00
    'olha é isso o sistema de saúde vai ser feito'.
  • 00:24:04
    É um sistema de saúde cujo a experiência
  • 00:24:06
    foi gerada
  • 00:24:08
    nas experiências de trabalho comunitário a nível de bairros,
  • 00:24:10
    nas experiências que a igreja realizou em termo de trabalho,
  • 00:24:14
    na experiência que os sindicatos realizaram,
  • 00:24:16
    na experiência que a Secretarias de Saúde estaduais e municipais
  • 00:24:19
    enfrentaram no sentido de transformar esse sistema,
  • 00:24:22
    na experiência, inclusive, que pessoas  individuais a não assumir mais
  • 00:24:27
    a convivência com o sistema perverso
  • 00:24:30
    foram pra qualquer lugar desse país
  • 00:24:32
    e começaram a experiência concreta do que transformá-lo.
  • 00:24:36
    É disso que nós estamos falando,
  • 00:24:39
    como recuperar um certo instante
  • 00:24:42
    a cultura nacional,
  • 00:24:44
    a experiência acumulada por aquelas  instituições que trabalharam sério
  • 00:24:48
    por aqueles que têm alguma coisa que dizer que funcionaram
  • 00:24:51
    e que aqueles que têm que nos alertar que isso não funciona e não vale a pena tentar
  • 00:24:56
    contra aqueles de indivíduos e a favor daqueles indivíduos que podem dizer
  • 00:25:00
    como alguma coisa deu certo em prol da saúde do povo brasileiro.
  • 00:25:04
    É pra isso que foi convocada esta conferência.
  • 00:25:07
    Então ela não podia ser
  • 00:25:09
    uma conferência de funcionários,
  • 00:25:13
    ela não podia ser
  • 00:25:15
    uma conferência de empresários simplesmente,
  • 00:25:19
    alguns dias atrás,
  • 00:25:22
    algumas entidades ligadas ao setor privado
  • 00:25:25
    se retiraram da conferência
  • 00:25:28
    e se retiraram a partir do pressuposto
  • 00:25:31
    de que elas representavam uma grande porcentagem do serviço de saúde prestado no país
  • 00:25:36
    e na realidade representam.
  • 00:25:39
    Mas se equivocaram
  • 00:25:41
    a não entender
  • 00:25:43
    que essa proporção de serviços prestados não corresponde à proporção da população brasileira
  • 00:25:53
    e que essa
  • 00:25:54
    é uma conferência da população brasileira
  • 00:25:57
    e não é uma conferência dos prestadores de serviço.
  • 00:26:04
    A conferência, eu gostaria também de dizer aos senhores que superou as nossas expectativas
  • 00:26:09
    quando ela foi convocada
  • 00:26:12
    e é fundamental que isso seja colocado aqui,
  • 00:26:16
    ela foi pensada como a conferência que se realizaria durante quatro dias,
  • 00:26:21
    de 17 a 21 de março,
  • 00:26:24
    que teriam três temas fundamentais
  • 00:26:26
    são os temas que nós vamos crescer a partir de hoje.
  • 00:26:30
    Se a saúde é ou não é um direito do brasileiro,
  • 00:26:36
    atrás disso
  • 00:26:38
    existe uma discussão que é uma discussão muito séria,
  • 00:26:41
    que é atrás disso que nós estamos dizendo é o seguinte:
  • 00:26:43
    se a saúde é ou não é um direito da pessoa humana
  • 00:26:49
    e por seu direito da necessidade da pessoa humana
  • 00:26:53
    deve corresponder um direito
  • 00:26:55
    e esse direito deve ser defendido.
  • 00:26:57
    E o ser brasileiro, uma pessoa humana
  • 00:27:00
    deve corresponder o brasileiro o direito à saúde.
  • 00:27:06
    Se saúde é um direito,
  • 00:27:08
    a quem cabe garantir esse direito?
  • 00:27:11
    E portanto
  • 00:27:13
    qual é a organização dos serviços de saúde
  • 00:27:16
    que de acordo com a nossa cultura,
  • 00:27:18
    de acordo com o nosso país,
  • 00:27:20
    de acordo com a nossa experiência acumulada,
  • 00:27:22
    de acordo com a organização dos serviços saúde nós temos
  • 00:27:25
    que organizado vai permitir melhor a garantia desse direito
  • 00:27:29
    e terceiro como financiá-lo
  • 00:27:32
    era isso que nós queríamos discutir.
  • 00:27:34
    Imaginamos que isso podia ser discutido em quatro dias
  • 00:27:39
    no instante também que nós acreditávamos e tinha a absoluta certeza
  • 00:27:43
    que pra essa conferência vai representar a voz da sociedade brasileira
  • 00:27:47
    e que não era uma conferência simplesmente funcionários,
  • 00:27:51
    foi iniciado todo movimento de discussão ao nível dos estados
  • 00:27:56
    para que essa conferência pudesse representar o máximo,
  • 00:27:59
    o mais variado conjunto de opiniões que a sociedade pode ter.
  • 00:28:04
    E de repente
  • 00:28:06
    apareceu uma figura que inicialmente não havia sido pensada
  • 00:28:10
    que foram as pré-conferências estaduais de saúde
  • 00:28:13
    elas nasceram quase todo movimento próprio
  • 00:28:17
    no sentido de que os estados começavam a se interessar
  • 00:28:20
    e se preparar na organização dessa conferência
  • 00:28:24
    e as pré-conferências estaduais
  • 00:28:26
    quase que num certo instante superaram a própria conferência nacional
  • 00:28:31
    porque hoje o que nós estamos fazendo  um plenário de uma conferência já iniciada
  • 00:28:37
    a conferência iniciou nos encostos principais de São Paulo,
  • 00:28:41
    iniciou nos debates no Pará,
  • 00:28:44
    iniciou em Alagoas, iniciou no interior do Paraná,
  • 00:28:48
    todo esse debate iniciou em Conclat, iniciou em instituições,
  • 00:28:52
    instituições sindicais nos conselhos regionais profissionais de saúde
  • 00:28:56
    que durante os três últimos meses
  • 00:28:58
    de uma forma ou de outra
  • 00:29:00
    discutira a situação de saúde,
  • 00:29:02
    talvez não tanto como nós queríamos,
  • 00:29:06
    mas que de uma certa forma esse debate superou a toda a expectativa que nós tínhamos.
  • 00:29:12
    E as pré-conferências estaduais
  • 00:29:14
    já resultaram em uma primeira conquista absolutamente objetiva
  • 00:29:18
    da organização do Sistema Nacional de Saúde,
  • 00:29:21
    que a criação de uma figura até hoje não existente,
  • 00:29:24
    a figura das Conferências Estaduais de Saúde.
  • 00:29:28
    Em alguns lugares, aconteceram de forma mais fácil,
  • 00:29:32
    aconteceram e criaram um movimento
  • 00:29:35
    como que se então a conferência já não era mais simplesmente 17 a 21 de março
  • 00:29:40
    ela já tinha todo instante de pré-conferência
  • 00:29:43
    que já era conferência;
  • 00:29:47
    segundo lugar, apareceu o fato também é da maior importância
  • 00:29:53
    da organização da conferência nós imaginávamos que existiam determinados temas
  • 00:29:57
    que não poderiam deixar de forma nenhuma de ser tratado,
  • 00:30:00
    como, por exemplo,
  • 00:30:01
    a questão não é só o trabalhador,
  • 00:30:04
    tão maltratada na história do país,
  • 00:30:07
    a questão das grandes endemias
  • 00:30:10
    onde efetivamente nós ainda estamos  perdendo a batalha contra as grandes endemias,
  • 00:30:15
    a questão de uma política de sangue nesse país
  • 00:30:18
    que possa liquidar
  • 00:30:20
    com esse vampirismo acelerado e mercantilista do sangue nesse país,
  • 00:30:28
    uma política de equipamentos, vacinas, medicamentos que levem o país a autossuficiência,
  • 00:30:33
    a independência nacional,
  • 00:30:36
    uma política de recursos humanos que recupere a dignidade no trabalho na área de saúde,
  • 00:30:41
    com o plano de cargos e salários,
  • 00:30:42
    com o plano de carreira,
  • 00:30:44
    com capacitação permanente.
  • 00:30:51
    Então, se chegou a uma outra solução,
  • 00:30:54
    de imaginar que a Conferência Nacional de Saúde, o que ela quer
  • 00:30:58
    é na realidade,
  • 00:30:59
    que boa política de saúde seja implantada,
  • 00:31:02
    que seja colocado ao nível da Constituição Nacional,
  • 00:31:06
    que a Conferência de Saúde não podia ser quatro dias,
  • 00:31:09
    ela era
  • 00:31:10
    todas as pré-conferências que aconteceram.
  • 00:31:13
    Ela é esses quatro dias um grande plenário nacional
  • 00:31:18
    e ela deve se expandir
  • 00:31:20
    a partir de março até outubro é a  discussão de todos esses temas.
  • 00:31:24
    E a conferência deixou de ser quatro dias pra ser um grande processo durante o ano todo.
  • 00:31:30
    E que mobilizando a sociedade brasileira,
  • 00:31:32
    a ciência,
  • 00:31:33
    academia, os profissionais,
  • 00:31:35
    efetivamente possa caminhar pra quê?
  • 00:31:39
    Pra construção de um grande projeto nacional na área da saúde,
  • 00:31:44
    o projeto nacional
  • 00:31:47
    que ganhando uma grande consciência
  • 00:31:51
    que podendo, inclusive, ser  suprapartidário,
  • 00:31:55
    que podendo fazer quase que um grande gesto e desejo força,
  • 00:32:00
    transformou em uma vontade tão grande, que se torne irreversível.
  • 00:32:06
    E esse projeto nacional
  • 00:32:10
    que não exclui o setor privado,
  • 00:32:14
    que pressupõe que ele seja federado
  • 00:32:17
    e portanto obedeça às  diversidades de todas as regiões do país
  • 00:32:22
    que entenda que existam responsabilidades específicas
  • 00:32:26
    da União, do Estado e do Município.
  • 00:32:29
    Esse grande projeto nacional  possa ser formulado e possa ser formulado,
  • 00:32:33
    e possa ser formulado numa verdadeira reforma sanitária,
  • 00:32:39
    da mesma forma
  • 00:32:41
    e que foi possível por um grande gesto de coragem
  • 00:32:45
    a instituição numa reforma econômica que mudou profundamente
  • 00:32:48
    as questões econômicas desse país,
  • 00:32:52
    da mesma forma tudo todos nós desejamos
  • 00:32:55
    que seja implantado de uma forma efetiva
  • 00:32:58
    uma grande reforma agrária,
  • 00:33:00
    como é fundamental,
  • 00:33:05
    e sim caminhar por uma profunda reforma urbana e uma reforma financeira
  • 00:33:10
    a nós do setor de saúde,
  • 00:33:11
    sabendo que a saúde que ela é determinada antes de tudo
  • 00:33:15
    pela economia, pela política, pela sociedade,
  • 00:33:18
    mas que nós temos uma grande responsabilidade na nossa área específica
  • 00:33:22
    de construir esse projeto,
  • 00:33:24
    cabe a nós,
  • 00:33:26
    profissionais, técnicos
  • 00:33:28
    associados
  • 00:33:31
    com a sociedade brasileira, não divorciados,
  • 00:33:35
    nós temos que rodar um muro e um fosso do setor de saúde
  • 00:33:39
    e abrir canais de comunicação com a sociedade brasileira,
  • 00:33:42
    inclusive aprender a falar com ela,
  • 00:33:46
    nós termos que começar a transformar nossa linguagem
  • 00:33:50
    e a mudar nosso ouvido
  • 00:33:52
    para que quando uma sociedade de bairro e um sindicato fale
  • 00:33:55
    a gente entenda.
  • 00:33:57
    E quando a gente consiga falar
  • 00:34:00
    que é importante
  • 00:34:01
    acabar com as doenças transmissíveis nesse país,
  • 00:34:04
    isso possa ser dito de uma forma simples e objetiva para que o nosso povo entenda.
  • 00:34:10
    Esse novo pacto, essa nova aliança
  • 00:34:13
    que nós estamos chamando uma profunda reforma sanitária desse país
  • 00:34:17
    que deve supor
  • 00:34:19
    uma reformulação do sistema de saúde,
  • 00:34:22
    baseado
  • 00:34:23
    em se colocar na constituição
  • 00:34:25
    que a saúde é um direito do brasileiro,
  • 00:34:27
    é um dever do Estado.
  • 00:34:29
    Mas que Estado?
  • 00:34:31
    Nós temos aqui que diferenciar Estado e governo;
  • 00:34:35
    Estado: Supõe um território, supõe um povo e supõe um governo.
  • 00:34:40
    Muitas vezes
  • 00:34:41
    durante o período autoritário Estado foi confundido com governo.
  • 00:34:45
    E se estabeleceram leis de segurança do Estado,
  • 00:34:48
    mas que, na realidade, eram leis de segurança dos governantes.
  • 00:34:52
    Não é disso que nós estamos falando,
  • 00:34:54
    nós estamos falando de uma nação
  • 00:34:56
    que tem um território
  • 00:34:57
    e dentro dele tem um povo
  • 00:34:59
    e um povo que pretende ter um governo que representa os seus interesses
  • 00:35:03
    e portanto a esse Estado,
  • 00:35:05
    Estado como povo,
  • 00:35:06
    Estado como território,
  • 00:35:07
    Estado como nação,
  • 00:35:08
    que cabe garantir o direito à saúde do seu povo,
  • 00:35:13
    essa primeira grande questão.
  • 00:35:17
    A segunda grande questão
  • 00:35:18
    é que a reforma sanitária deve ser ampla,
  • 00:35:20
    ela não pode ser confundida
  • 00:35:22
    com reforma administrativa,
  • 00:35:24
    ela não pode ser confundida com simplesmente transferência burocrática
  • 00:35:28
    de instituições de uma para a outra
  • 00:35:31
    mudando simplesmente a direção  das instituições, não é isso.
  • 00:35:35
    A reforma sanitária pressupõe a criação
  • 00:35:38
    de um organismo,
  • 00:35:40
    que reunindo tudo que existe ao nível da União
  • 00:35:43
    possa fazer com a União,
  • 00:35:45
    a partir de um grande Fundo Nacional de Saúde
  • 00:35:47
    possa distribuir esse fundo,
  • 00:35:48
    possa fazer uma política de distribuição
  • 00:35:51
    mais justa,
  • 00:35:52
    mais igualitária,
  • 00:35:54
    levando a universalização
  • 00:35:55
    que nada mais é a universalização que cada pessoa nesse país
  • 00:35:59
    tenha direito aos serviços básicos de saúde,
  • 00:36:04
    é por essa reforma que nós estamos brigando.
  • 00:36:07
    E essa reforma não pode ser o projeto a minha cabeça,
  • 00:36:10
    não pode ser o projeto da cabeça simplesmente dos técnicos,
  • 00:36:14
    não pode ser simplesmente o projeto a cabeça dos profissionais,
  • 00:36:17
    ele tem que ser construído
  • 00:36:18
    mesmo que o resultado final
  • 00:36:22
    não seja aquilo que muitos de nós estamos desejando,
  • 00:36:25
    mas o resultado construído, desejado, montado, inventado
  • 00:36:30
    pela sociedade brasileira iniciando desse século.
  • 00:36:34
    O que nos interessa
  • 00:36:36
    reforma sanitária,
  • 00:36:38
    imaginando que ela seja um projeto nacional,
  • 00:36:42
    não é uma modernização  administrativa das instituições.
  • 00:36:46
    Não é simplesmente mudar o desempenho se bem que isso é da maior importância,
  • 00:36:51
    não é simplesmente acabar com fraude quando isso é fundamental,
  • 00:36:55
    não é simplesmente recuperar a dignidade do serviço público
  • 00:36:59
    quando é da maior, mais alta prioridade na construção de um governo,
  • 00:37:03
    de uma nação comprometida.
  • 00:37:05
    Mas, ao mesmo tempo, é tudo isso é mais que isso,
  • 00:37:09
    é como que, simultaneamente,  nos tivéssemos montado,
  • 00:37:12
    eu estava dando essa imagem, uma maria fumaça,
  • 00:37:15
    ofegante, soltando fumaça, lenta,
  • 00:37:18
    quase que caindo pelas beiradas da estrada
  • 00:37:21
    e ao mesmo tempo sem parar
  • 00:37:23
    transformar isso numa grande locomotiva que leve para o futuro,
  • 00:37:27
    mas sem parar.
  • 00:37:29
    Então é fundamental que ao mesmo tempo se modernize,
  • 00:37:32
    que se lute contra a fraude,
  • 00:37:33
    que se melhore o empenho institucional
  • 00:37:35
    mas sem perder o projeto,
  • 00:37:37
    e o projeto ele só aponta para um sentido,
  • 00:37:40
    e se nesse sentido ele não dar resultado, o projeto falhou
  • 00:37:45
    que é a melhoria das condições de vida da população.
  • 00:37:51
    Que morram menos crianças,
  • 00:37:56
    que o nosso povo viva mais,
  • 00:37:58
    que o nosso povo cresça  mais,
  • 00:38:01
    que o nosso povo tenha menos medo,
  • 00:38:04
    que o nosso povo trabalhe melhor,
  • 00:38:06
    que o nosso povo participe cada vez de uma forma maior
  • 00:38:10
    na criação do nosso futuro,
  • 00:38:12
    que essa nação cada vez mais autodetermine
  • 00:38:16
    e crie um grande projeto brasileiro.
  • 00:38:19
    é para isso que nós apontamos,
  • 00:38:20
    é para isso que é o nosso compromisso
  • 00:38:22
    e foi nesse sentido que essa conferência convocada.
  • 00:38:26
    E é por isso que eu gostaria de colocar uma última questão,
  • 00:38:30
    que essa conferência foi montada com delegados.
  • 00:38:35
    Nós não queríamos
  • 00:38:37
    que houvesse qualquer possibilidade de influência econômica nessa conferência,
  • 00:38:42
    que por qualquer motivo,
  • 00:38:44
    qualquer entidade,
  • 00:38:45
    para poder trazer o maior número de pessoas aqui
  • 00:38:48
    e influenciar sobre o destino dessa conferência
  • 00:38:50
    quando nós sabemos que chegar em Brasília tem um alto custo.
  • 00:38:58
    Nós queríamos garantir
  • 00:39:00
    que os usuários pudessem  expressar de uma forma absolutamente autônoma
  • 00:39:05
    a sua posição.
  • 00:39:06
    E garantimos, então, vagas
  • 00:39:08
    para todas essas entidades,
  • 00:39:11
    para a Confederação dos Trabalhadores Agrícolas,
  • 00:39:13
    para a CUT,
  • 00:39:13
    .
  • 00:39:14
    para Conan.
  • 00:39:15
    Podemos ter errado em muitas coisas,
  • 00:39:18
    e na medida do possível durante esse próprio congresso,
  • 00:39:21
    própria conferência, vamos tentar reverter os erros
  • 00:39:24
    que ainda foram feitos em termos representatividade
  • 00:39:26
    mas o fundamental era garantir uma representatividade,
  • 00:39:30
    era que alguém que vindo aqui no conselho
  • 00:39:33
    eleito ou indicado por uma confederação
  • 00:39:35
    que representa milhares sindicatos e milhares de trabalhadores desse país
  • 00:39:39
    não fosse confundido com um voto que pudesse ser trazido aqui pelo poder econômico.
  • 00:39:45
    Então a representatividade era fundamental,
  • 00:39:49
    mas ao mesmo tempo nós, também, não queremos de maneira  nenhuma
  • 00:39:52
    excluir
  • 00:39:54
    que todas as pessoas que chegaram aqui
  • 00:39:56
    manifestem
  • 00:39:58
    suas opiniões, participe da  forma mais democrática
  • 00:40:02
    das decisões aqui vão ser tomadas.
  • 00:40:05
    Mas eu gostaria de chamar efetivamente atenção a todos,
  • 00:40:10
    que nós estamos aqui
  • 00:40:12
    com olhos
  • 00:40:13
    sobre o que acontecendo nessa conferência.
  • 00:40:16
    Aqui pela primeira vez
  • 00:40:18
    se encontram
  • 00:40:20
    setor de saúde com a sociedade.
  • 00:40:22
    Pela primeira vez em uma Conferência Nacional de Saúde
  • 00:40:25
    está aqui representando os usuários.
  • 00:40:28
    Então o papel que nós temos aqui na
  • 00:40:29
    formulação de políticas de saúde da maior importância.
  • 00:40:34
    Talvez seria muito fácil
  • 00:40:36
    e mais,
  • 00:40:37
    inclusive, mais tranquilo
  • 00:40:40
    uma conferência com o pequeno número de delegados,
  • 00:40:42
    provavelmente as filas dos sanitários  não seriam tão grandes,
  • 00:40:47
    as filas do telefone não seriam tão grandes,
  • 00:40:50
    a dificuldade se registrar
  • 00:40:53
    e acabaram as fichas.
  • 00:40:56
    Na realidade,
  • 00:40:58
    as pessoas que chegaram aqui superaram e muito as expectativas,
  • 00:41:03
    mas eu acho que é exatamente por aí que é o caminho,
  • 00:41:06
    acho que nós temos que aprender a viver com a diversidade,
  • 00:41:10
    nós temos que aprender a viver com o coletivo
  • 00:41:12
    e vai ser a diversidade
  • 00:41:14
    vai ser no coletivo é que nós vamos construir nosso projeto,
  • 00:41:18
    imaginando que na construção disso,
  • 00:41:20
    muitas vezes nós vamos errar,
  • 00:41:23
    mas nunca vamos errar o caminho que aponta para a construção
  • 00:41:28
    de uma sociedade brasileira mais justa.
  • 00:41:30
    Muito obrigado.
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