00:00:00
“A tristeza durará para sempre.”
00:00:02
Essa foi a última frase dita em vida por
Vincent Willem Van Gogh.
00:00:07
Pouco se sabe sobre os detalhes da vida de Vincent,
00:00:10
mas, alguns traços de sua personalidade ficaram
marcados com o tempo,
00:00:14
graças às cartas que ele escrevia a seu irmão.
00:00:16
E duas palavras podem definir muito bem a
vida e a obra de Vincent Van Gogh:
00:00:23
Loucura
00:00:24
e Genialidade.
00:00:25
Quantas histórias você já ouviu sobre Van Gogh?
00:00:27
Que ele cortou a própria orelha.
00:00:29
Que ele só vendeu um quadro em vida.
00:00:31
Que ele era um grande artista por ser completamente louco.
00:00:34
Talvez, Van Gogh seja o artista com mais perguntas
ainda não respondidas.
00:00:39
Suas obras representam um misto de sentimentos puros
00:00:42
e fielmente sentidos pelo autor.
00:00:44
Sua vida e sua obra andam lado a lado,
00:00:46
o que nos faz poder entender, através dos
quadros,
00:00:49
tudo que se passava dentro daquela cabecinha
ruiva e completamente maluca.
00:00:54
Como Van Gogh conseguiu se expressar com tanta
veemência?
00:00:57
Qual o significado de suas maiores obras?
00:00:59
Van Gogh era de fato um gênio,
00:01:01
ou apenas louco?
00:01:02
Como a filosofia se relaciona com tudo isso?
00:01:05
Hoje, nós vamos entender.
00:01:19
Oi, eu sou o Tinôco e sejam todos muito bem
vindos a mais um vídeo aqui no canal
00:01:23
e hoje nós temos uma das personalidade históricas
00:01:25
que vocês mais pedem vídeo sobre, que é:
00:01:28
Van Gogh.
00:01:29
Existem tantas coisas que permeiam o nome
desse cara,
00:01:31
que vocês não têm nem ideia.
00:01:33
E minha vontade é explicar no vídeo de hoje
00:01:34
um pouco mais sobre a filosofia desse artista.
00:01:36
Enfim, vamos para o vídeo.
00:01:43
A maioria das pessoas conhecem somente as
maiores obras de Van Gogh,
00:01:46
que foram pintadas poucos anos antes de sua
morte.
00:01:49
Mas poucas pessoas conhecem de fato o começo
de Van Gogh.
00:01:53
Nascido na pacata cidade de Zundert, na Holanda,
00:01:55
Van Gogh, desde o início de sua vida, viveu
momentos conturbados,
00:01:59
principalmente com relação ao seu irmão,
que recebeu o seu exato mesmo nome:
00:02:03
Vincent Willem Van Gogh.
00:02:04
Este morreu ainda no útero de sua mãe e
foi enterrado logo ao nascer.
00:02:08
Assim, desde muito novo, Van Gogh pôde ver
o seu próprio nome
00:02:12
na lápide de seu irmão,
00:02:13
o que claramente mexeu com a cabeça do jovem
rapaz.
00:02:15
Mesmo ainda criança, Van Gogh sempre mostrou
seus dotes artísticos através do desenho
00:02:20
e quando começou sua vida adulta,
00:02:22
trabalhou como vendedor de arte,
00:02:24
o que fez com que ele precisasse viajar bastante.
00:02:27
Em meio a essas viagens, Van Gogh enfrentou
um quadro severo de depressão,
00:02:31
que o levou a dedicar-se ao missionarismo
protestante.
00:02:33
Como é muito falado por aí,
00:02:34
Van Gogh começou a pintar os seus próprios
quadros somente depois de velho,
00:02:38
quando tinha 28 anos.
00:02:39
E seus primeiros quadros são extremamente
diferentes
00:02:42
dos quadros do final de sua vida.
00:02:44
E, pra demonstrar isso, eu vou começar analisando
a obra
00:02:46
“Os Comedores de Batata”.
00:02:48
A gente já percebe logo de cara que nome
não é a parada de Van Gogh.
00:02:52
Bom, a primeira coisa que você nota quando
olha para esse quadro é:
00:02:55
por que está tão escuro?
00:02:57
O Van Gogh não era o cara das cores vibrantes
e tudo mais?
00:03:00
Essa escuridão, esses tons terrosos voltados
para o preto, marrom e cinza
00:03:04
são uma característica das primeiras obras
de Van Gogh.
00:03:06
Esses 5 personagens representados
00:03:08
pertencem a uma família que realmente existiu:
00:03:11
a família Roulin.
00:03:12
Mas o quadro não representa algo que realmente
existiu.
00:03:15
Nesse momento, Van Gogh vive uma tentativa
00:03:17
de representar o mundo ao seu redor,
00:03:19
porém, sem representar exatamente o mundo
ao seu redor.
00:03:22
Tudo é muito lúdico, imaginário.
00:03:23
Van Gogh, com esse quadro, representa a pobreza
00:03:26
e as dificuldades da sociedade no modo geral.
00:03:29
Segundo o próprio Van Gogh:
00:03:30
“(...) o meu quadro exalta, portanto,
00:03:32
o trabalho manual e o alimento que eles próprios
ganharam honestamente.”
00:03:36
Van Gogh pintou esse quadro no ano de 1885,
00:03:39
enquanto viveu na cidade de Nuenen,
00:03:41
que é um município minúsculo no interior
da Holanda.
00:03:45
Claramente, nessa época, o estilo de vida
das pessoas da Europa
00:03:47
era extremamente campestre e, muitas vezes,
00:03:50
elas viviam apenas do que plantavam e colhiam,
00:03:52
e tinham nenhum ou pouquíssimo luxo.
00:03:54
E Van Gogh sabia muito bem disso, porque ele
nunca foi uma pessoa muito rica.
00:03:58
Depois que ele se tornou pintor, ele teve
de ser sustentado pelo pai e pelo irmão,
00:04:02
já que, como eu disse, ele vendeu apenas
um quadro em toda a sua vida!
00:04:07
Sim, esse papinho é real, mas eu vou falar
um pouco mais sobre isso depois.
00:04:11
Com a morte de seu pai em 1885, Van Gogh se
muda para a Bélgica
00:04:15
e é lá que seus problemas psicológicos
começam a ficar mais fortes.
00:04:19
Mas isso não acontece “somente” pela
perda de alguém tão importante para ele,
00:04:23
Van Gogh passa por alguns problemas de saúde
00:04:25
e isso deixa ele preocupado com ele mesmo.
00:04:28
Por conta do estresse, Van Gogh começa a
fumar
00:04:30
e pinta um autorretrato um pouquinho diferente,
00:04:33
nascendo o quadro que ficou conhecido como
00:04:35
“Caveira com o Cigarro Aceso”.
00:04:37
Eu falei já que nome não é a parada.
00:04:39
A caveira é uma representação desse sentimento
de preocupação para consigo mesmo
00:04:44
e claramente mostra um lado bem mais abstrato
de Van Gogh.
00:04:47
A morte de seu pai fez com que Van Gogh se
aproximasse
00:04:50
cada vez mais do seu irmão, Theo.
00:04:51
E, no ano de 1886, ele resolve se mudar para
a casa dele em Paris.
00:04:56
Morando pela primeira vez em uma cidade grande
e cosmopolita,
00:04:58
Van Gogh se depara com um mundo completamente
novo,
00:05:02
sendo assim, muito influenciado por Paul Cézanne,
00:05:05
considerado por muitos o pai da arte moderna
00:05:07
e o responsável por introduzir Van Gogh ao
neoimpressionismo.
00:05:10
Mas assim, é muito difícil encaixar Van
Gogh em um estilo específico de arte,
00:05:16
já que ele, por muitas vezes, mesclava diversos
estilos de escolas artísticas
00:05:20
e assim, ele meio que desenvolveu o seu estilo
próprio de pintar.
00:05:23
E é em Paris que Van Gogh começa a desenvolver
ali o seu uso das cores
00:05:27
e começa a usar cada vez mais os tons de
amarelo.
00:05:30
Assim, por exemplo, ele pinta os famosos girassóis
do quadro
00:05:33
“Dois Girassóis Cortados”.
00:05:34
Pouco tempo depois, Van Gogh, mais uma vez,
se muda.
00:05:37
E dessa vez, ele vai para uma comuna francesa
conhecida como Arles.
00:05:40
E é aí que toda a vida de Van Gogh começa
a mudar.
00:05:44
Em Arles, Van Gogh conhece Paul Gauguin
00:05:47
e chegou a morar um tempo com ele.
00:05:49
Mas, esse momento foi tipo morar em uma república
na faculdade.
00:05:52
Todo mundo começa ali se gostando, mas depois
termina num ódio.
00:05:55
A convivência se tornou insuportável e houveram
diversas brigas entre os dois.
00:06:00
Assim, Gauguin acabou se mudando e deixou
Van Gogh sozinho.
00:06:03
E esse momento foi muito conturbado na vida
do Vincent
00:06:05
e existem poucos relatos sobre o que aconteceu
após isso.
00:06:09
Um dos poucos relatos que sobraram foi que
Van Gogh,
00:06:12
em um colapso mental de loucura,
00:06:13
arrancou a sua própria orelha.
00:06:20
A principal explicação para esse fato é
que Van Gogh
00:06:23
começou a ouvir vozes dentro de sua cabeça.
00:06:26
E por estar extremamente estressado com seu
relacionamento com Gauguin,
00:06:30
ele resolveu cortar a própria orelha para
que essas vozes parassem.
00:06:33
Van Gogh não tinha nenhuma memória do incidente,
00:06:36
o que sugere que ele tenha passado por um
surto mental agudo.
00:06:38
Depois de um tempo no hospital,
00:06:40
Van Gogh volta para casa no dia 7 de janeiro
de 1889.
00:06:44
A partir desse momento, o curso da vida de
Van Gogh muda para sempre.
00:06:47
Nos meses seguintes, Van Gogh viveu entre
idas e vindas do hospital,
00:06:51
já que passou a sofrer de alucinações e
delírios de envenenamento.
00:06:54
As pessoas ao redor dele começaram a ficar
preocupadas com seus
00:06:57
incessantes ataques de loucura.
00:06:59
Seus vizinhos não aguentavam mais viver com
um homem completamente perturbado
00:07:04
e chegaram a fazer uma petição com mais
de 30 pessoas
00:07:07
para que a casa de Van Gogh fosse fechada.
00:07:09
Nessa época, ele chegou até a ganhar o apelido
de “o ruivo louco”.
00:07:13
O problema é que essas pessoas não faziam
a menor ideia do sofrimento
00:07:16
que o “ruivo louco” enfrentava na sua
vida.
00:07:19
Mas você que está assistindo esse vídeo,
pode ter uma amostra disso,
00:07:22
com alguns relatos do próprio Van Gogh.
00:07:24
Aliás, é justamente nessa época que o autor
escreve algumas palavras
00:07:27
descrevendo exatamente o que ele estava sentindo:
00:07:30
"Às vezes humores de indescritível angústia,
00:07:33
às vezes momentos em que o véu do tempo
e a fatalidade das circunstâncias
00:07:37
parecem ser despedaçados por um instante.”
00:07:40
Esse momento da vida de Van Gogh
00:07:42
é marcado por uma extrema romantização
00:07:45
da loucura passada pelo artista.
00:07:47
Após o colapso mental, a vida de Van Gogh
muda completamente.
00:07:50
Seu pensamento e sua forma de ver o mundo
são totalmente afetados por conta disso.
00:07:54
É possível reparar em suas obras que Van
Gogh deixa de pintar um mundo mais abstrato
00:07:59
e passa a retratar cada vez mais o mundo real
em suas telas.
00:08:02
Depois de viver o caos, Van Gogh é invadido
pela realidade
00:08:06
e tem cada vez mais consciência sobre si
e sobre o mundo à sua volta.
00:08:10
Tanto é, que nessa época, Van Gogh faz inúmeros
autorretratos
00:08:13
e pinta cada vez mais objetos do seu cotidiano.
00:08:15
Logo ao sair do hospital, Van Gogh pinta o
autorretrato intitulado
00:08:19
“Autorretrato com a Orelha Cortada”.
00:08:22
Analisando rapidamente, esse quadro parece
realmente o que é,
00:08:25
é um autorretrato… com a orelha… cortada,
00:08:28
mas nada é tão simples quanto parece.
00:08:30
Atrás de Van Gogh nós podemos perceber dois
elementos:
00:08:33
o primeiro é uma arte japonesa com duas mulheres
e o Monte Fuji ao fundo.
00:08:37
E isso não está no quadro por acaso.
00:08:39
Van Gogh era apaixonado por arte japonesa
e era dono dessa tela,
00:08:43
que se chama “Gueixas em uma Paisagem”.
00:08:45
E o segundo elemento, e talvez o mais importante,
00:08:47
é um cavalete com o quadro ainda em branco.
00:08:50
Segundo o Instituto de Arte Courtauld,
00:08:52
local onde a gravura está exibida:
00:08:54
“A posição desses elementos sugere exatamente
essa perda do poder criativo do artista.”
00:08:59
Que agora, apenas conseguia enxergar o mundo
real.
00:09:02
É com essa percepção cada vez mais nítida
da realidade,
00:09:05
que nós chegamos em uma das partes mais bonitas
da história de Van Gogh,
00:09:09
quando ele reconhece dentro de si um perigo
real para as pessoas ao seu redor.
00:09:13
Ele entende que precisava de ajuda e decide
se internar de forma voluntária
00:09:18
em um hospital psiquiátrico em Saint-Remy.
00:09:20
Como eu disse, nesse momento,
00:09:22
Van Gogh começa a pintar cada vez mais elementos
do seu cotidiano,
00:09:25
como as vistas que ele enxergava de sua casa,
00:09:27
objetos ao seu redor,
00:09:29
paisagens da cidade,
00:09:30
entre outras coisas nesse estilo.
00:09:31
Podemos dizer que, nesse momento, Van Gogh
vivia plenamente o mundo real.
00:09:36
Mas, enxergar a realidade, pode ser mais difícil
do que parece.
00:09:45
Para a gente entender ainda mais o quão profundo
é esse acesso a realidade de Van Gogh,
00:09:49
nós precisamos entrar em uma área que vocês
sabiam que eu iria falar nesse vídeo:
00:09:52
a filosofia.
00:09:53
E claro que quando falamos de realidade,
00:09:56
nós não podemos deixar de falar de Friedrich
Nietzsche.
00:09:59
Coincidentemente ou não, os dois artistas
ficaram conhecidos
00:10:02
por terem ficado malucos no final de suas
vidas
00:10:06
e, também, por terem uma visão realista
do mundo ao seu redor.
00:10:10
Uma curiosidade que eu não posso deixar de
contar aqui nesse vídeo é que
00:10:12
tanto Nietzsche, quanto Van Gogh, tiveram
um colapso mental e psicológico
00:10:16
no exato mesmo ano da história:
00:10:19
1889.
00:10:20
É… é só isso, não tem mais nenhuma informação,
00:10:24
é basicamente só essa curiosidade aí mesmo.
00:10:25
Nietzsche é conhecido por dizer a frase:
00:10:27
“Quando você olha por muito tempo para
um abismo,
00:10:29
o abismo olha de volta para você.”
00:10:31
Ele diz isso em “Além do Bem e do Mal”,
00:10:33
um livro que fala exatamente sobre esse poder
00:10:36
e, ao mesmo tempo, esse incômodo de olhar
a realidade.
00:10:39
Já que “Além do Bem do Mal” é exatamente
uma crítica à metafísica, à moral,
00:10:44
ao mundo além do bem e do mal,
00:10:46
ao mundo além do que o mundo de fato.
00:10:48
Como todo mundo sabe, Nietzsche era completamente
apaixonado pela realidade,
00:10:52
pela verdade das coisas,
00:10:53
e é assim que nasce um dos conceitos básicos
de sua filosofia:
00:10:56
o amor-fati.
00:10:57
Esse termo representa o que Nietzsche tem
de fato como seu maior sentimento:
00:11:02
o amor aos fatos, o amor à realidade, o amor
ao mundo como ele realmente é.
00:11:06
Nietzsche entende que não existem motivos
para você não enxergar a realidade,
00:11:10
muito menos para você tentar mudá-la.
00:11:12
Ver o mundo como ele realmente é,
00:11:14
é a melhor maneira de você ver o mundo.
00:11:16
Mas você não deve simplesmente ver o mundo
de uma forma passiva,
00:11:19
você deve amar a realidade,
00:11:21
amar o mundo independente dos defeitos que
ele tem,
00:11:23
já que Nietzsche nem considera esses defeitos
um defeito de verdade,
00:11:26
porque ele é a realidade, porque tudo isso
é real,
00:11:29
e tudo o que é real é belo.
00:11:30
Não existem motivos nem para você melhorar
nem para você piorar a realidade.
00:11:35
A realidade basta em si mesma.
00:11:37
O real é a coisa mais bonita que você pode
ver, mas, isso tem um custo.
00:11:41
Afinal de contas, Nietzsche entende o preço
que se paga por ver o mundo real,
00:11:45
por entender o mundo como ele realmente é,
00:11:47
já que a consciência da própria existência
00:11:49
vai muito além do que muitas pessoas conseguem
suportar.
00:11:52
E então, como complemento a isso, Nietzsche
questiona:
00:11:54
“Quanta é a verdade que um espírito suporta?”
00:11:58
Quanto do mundo real você está disposto
a enxergar?
00:12:01
Toda essa filosofia e o pensamento de Nietzsche
influenciam,
00:12:04
anos mais tarde, outro filósofo,
00:12:06
que completa tudo isso que nós estamos falando
de Van Gogh,
00:12:09
e o nome da fera é:
00:12:10
Martin Heidegger.
00:12:12
Talvez, o principal problema das vidas de
Heidegger e de Van Gogh
00:12:15
está na percepção da própria consciência.
00:12:18
Perceber que o mundo ao seu redor realmente
existe.
00:12:21
Milhares de anos existiram antes de você
00:12:24
e milhares de anos existirão após a sua
morte.
00:12:27
E Heidegger se concentra exatamente nesse
milissegundo do espaço-tempo
00:12:32
em que você existe e se faz consciente.
00:12:35
Então, ele tenta entender o que é esse momento
do agora.
00:12:38
O que é existir?
00:12:39
E eu sinto que Van Gogh passa muito por isso
nesse momento da sua vida.
00:12:43
Ele olha para o mundo ao seu redor e percebe
que ele está vivo, sabe?
00:12:46
Mas, isso não é tão simples quanto parece.
00:12:48
Na verdade, cada segundo que você passa vivo,
00:12:51
é recheado de infinitas possibilidades de
existência.
00:12:54
Para entender o que é existir, Heidegger
cunha o termo “Dasein”,
00:12:58
que pode ser traduzido para “Ser-o-aí”
00:13:00
ou o “Ser-no-agora”.
00:13:03
Viver contempla infinitas possibilidades de
existência,
00:13:06
que podem paralisar as pessoas ao olhar diretamente
para isso.
00:13:09
Esse é o abismo que Nietzsche tanto falava.
00:13:12
Para Heidegger, isso acontece por que, segundo
ele:
00:13:14
“Nós somos atirados no mundo.”
00:13:16
Nós, não escolhemos quando, como e nem onde
nós vamos nascer,
00:13:20
nós apenas nascemos e, a partir daí,
00:13:22
nós somos confrontados pela realidade inúmeras
vezes.
00:13:25
Nós estamos diante de possibilidades infinitas.
00:13:29
Perceba que eu não falo de realidades infinitas,
mas sim,
00:13:32
de possibilidades infinitas.
00:13:35
Essas infinitas possibilidades se dão pelo
abstrato, pela imaginação,
00:13:39
o que é representado no início das obras
de Van Gogh.
00:13:42
Mas, aqui, após o seu acesso de loucura,
00:13:44
Van Gogh não vive mais no mundo de infinitas
possibilidades de imaginação.
00:13:48
Ele é atirado em um mundo de realidade, da
consciência do que é real.
00:13:52
E é contemplando esse mundo de realidade
00:13:55
que certa noite Van Gogh olha pela janela
de seu quarto
00:13:58
e encontra, em sua frente, um céu infinito,
ou melhor,
00:14:02
uma noite estrelada.
00:14:09
Bom, depois de toda essa explicação,
00:14:11
nós finalmente chegamos na principal obra
de Vincent.
00:14:14
Por conta das regras da clínica onde ele
estava internado,
00:14:17
Van Gogh não podia pintar no seu quarto,
00:14:19
apenas no estúdio no térreo durante o dia.
00:14:21
Eu não queria acabar com o encanto de toda
essa história não,
00:14:24
mas Van Gogh… ele… ele meio que…
00:14:27
ele não pintou “A Noite Estrelada” durante
a… a noite estrelada.
00:14:31
Oh, oh, mas não fica bolado não, porque
é a realidade!
00:14:33
Amor-fati!
00:14:34
Nietzsche já falava, a realidade pode ser
difícil.
00:14:36
O que acontece é que Van Gogh viu a noite
estrelada,
00:14:39
fez alguns rascunhos com carvão e pintou
ela nos dias seguintes,
00:14:42
na hora em que era permitido ele pintar.
00:14:44
Dois dias depois de pintar a obra,
00:14:46
Van Gogh escreve uma carta a seu irmão,
00:14:48
contando-lhe que havia pintado “um céu
estrelado”.
00:14:51
"Eu observei nesta manhã o campo da minha
janela por um bom tempo
00:14:54
antes da alvorada, com nada [no céu] além
da Estrela d'Alva,
00:14:58
que parecia enorme".
00:14:59
Foi de fato confirmado por pesquisadores que
Vênus estava visível a olho nu,
00:15:04
com seu brilho praticamente no máximo.
00:15:07
Com isso, nós podemos concluir que a “estrela”
mais brilhante do céu ali,
00:15:10
logo à direita da parte de baixo do cipreste,
00:15:12
é, na verdade, Vênus,
00:15:14
a Estrela d’Alva que ele citou a seu irmão.
00:15:16
Além disso, de acordo com registros astronômicos,
00:15:19
a Lua, naquela noite, estaria na fase minguante
gibosa,
00:15:22
mostrando uma estilização de Van Gogh que
retrata uma lua crescente.
00:15:27
Há outros especialistas que acreditam que
o “triângulo”,
00:15:29
formado pela estrela à direita do topo do
cipreste
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com as outras duas mais próximas à Lua,
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seja a Constelação de Áries,
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mas isso não é um consenso geral.
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Uma coisa interessante de se observar é que
Van Gogh
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não achou nada demais nesse seu novo quadro
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e em um certo momento, ele escreveu para seu
irmão:
00:15:45
“Juntando tudo, as únicas coisas que considero
minimamente boas aqui
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são o Campo de Trigo, a Montanha, o Pomar,
as Oliveiras com as colinas azuis
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e o Retrato e a entrada para a Pedreira,
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e o resto nada me diz.”
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Sendo que esse “resto” incluía “A Noite
Estrelada”.
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E o principal motivo para que ele não tenha
gostado do quadro
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é que o quadro não representava de fato
a noite que ele viu.
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“A Noite Estrelada” pintada por Van Gogh
não representava a noite estrelada de fato.
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Ele mesmo diz que “as estrelas são grandes
demais”,
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ele também percebe que o vilarejo representado
na parte inferior à esquerda do quadro
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não poderia ser visto pela janela de seu
quarto.
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Esse ódio contra o próprio quadro,
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só mostra como Van Gogh estava completamente
apaixonado pela realidade.
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As pessoas costumam acreditar que,
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por Van Gogh ter pintado “A Noite Estrelada”
dentro de um hospício,
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significa que ele estava completamente louco
e, por isso,
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o quadro é tão magnífico.
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Mas, isso não é verdade.
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A beleza do quadro está justamente no fato
de que Van Gogh
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percebeu que precisava de ajuda e foi atrás
disso.
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Depois de se internar no hospital, Van Gogh
teve uma melhora significativa,
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o que lhe possibilitou enxergar a beleza onde
antes ele não via,
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e por isso, ele pintou “A Noite Estrelada”.
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As pessoas comumente tentam romantizar a loucura
de Vincent,
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dizendo que ele só foi um grande artista
por ter sido louco,
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mas, isso é uma forma rasa e ignorante de
se ver essa história.
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Van Gogh não é uma representação de um
artista louco, mas sim,
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a representação de um homem que soube enxergar
a realidade
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e que, acima de tudo, soube amá-la.
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Vincent contemplava a beleza até nas mais
singelas manifestações da vida.
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"Nada é pequeno ou humilde demais para ele."
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E você, sabe amar a realidade ao seu redor?
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Quantas noites estreladas você já pode ter
vivido?
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Mas, não conseguiu enxergar a beleza na própria
realidade.
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Bom, esse foi o vídeo, eu espero que você
tenha gostado,
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Muito obrigado pelo seu acesso
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e até o próximo vídeo.
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Valeu, falou, um grande abraço do Tinôco
e lembre-se:
00:18:29
a existência é passageira.
00:18:31
Tchau!