A HISTÓRIA NÃO CONTADA DO COLAPSO DA ENGENHARIA DE SOFTWARE
Resumo
TLDRA engenharia de software enfrenta uma crise sem precedentes, com programadores perdendo habilidades essenciais devido à dependência excessiva de inteligência artificial. A promessa de produtividade da IA trouxe problemas como superficialidade no raciocínio e falta de responsabilidade no desenvolvimento. O texto traça a evolução da engenharia de software desde a década de 60, passando por crises e inovações, até o presente, onde a cultura do 'vibe coding' e a pressão por entregas rápidas comprometem a qualidade do código e a integridade dos sistemas. A solução proposta é resgatar a responsabilidade técnica e valorizar a qualidade do código.
Conclusões
- ⚠️ A engenharia de software está em crise.
- 🤖 A dependência de IA está prejudicando habilidades essenciais.
- 📉 A cultura do 'vibe coding' promove superficialidade.
- 📚 A responsabilidade técnica deve ser resgatada.
- 🔍 A qualidade do código é crucial para sistemas críticos.
- ⏳ A pressão por entregas rápidas compromete a integridade do software.
- 🛠️ A evolução da programação passou por várias crises e inovações.
- 💡 A formalização da programação começou nos anos 70.
- 📖 O manifesto ágil surgiu como uma alternativa às metodologias rígidas.
- 🚀 A inteligência artificial pode gerar código, mas não substitui o raciocínio humano.
Linha do tempo
- 00:00:00 - 00:05:00
A engenharia de software enfrenta uma crise sem precedentes, com programadores perdendo a capacidade de raciocinar e projetar soluções sólidas. A era das inteligências artificiais trouxe produtividade, mas também uma regressão na qualidade do desenvolvimento, onde a entrega se tornou a única prioridade, resultando em códigos frágeis e vulneráveis.
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A história da engenharia de software remonta ao final da década de 60, quando a programação era manual e propensa a erros. A crise do software surgiu em 1968, revelando que, apesar do avanço do hardware, o desenvolvimento de software estava fora de controle, com projetos atrasados e sistemas falhando sem explicação. A necessidade de métodos e estruturas formais para lidar com a complexidade se tornou evidente.
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Nos anos 70, a programação começou a ser tratada como uma disciplina estruturada, com o surgimento da programação estruturada e conceitos como encapsulamento de decisões. Embora a indústria ainda estivesse presa a linguagens antigas, as sementes para uma nova abordagem na engenharia de software estavam sendo plantadas, preparando o terreno para a evolução que viria na década seguinte.
- 00:15:00 - 00:20:00
A década de 80 trouxe a popularização da programação orientada a objetos, que dividiu o software em partes menores e reutilizáveis. Essa mudança de mentalidade transformou programadores em arquitetos de soluções, levando ao desenvolvimento de boas práticas e à documentação de design de código. A sustentabilidade dos sistemas tornou-se uma preocupação central, preparando o caminho para a era de ouro da engenharia de software nos anos 90.
- 00:20:00 - 00:29:40
Nos anos 90, a orientação a objetos se consolidou como padrão, mas a falta de padronização gerou problemas. O livro 'Design Patterns' ajudou a formalizar boas práticas, enquanto a linguagem Java popularizou a orientação a objetos. No entanto, a crise do software parecia superada, mas novos desafios surgiram com a necessidade de adaptação a um mercado em rápida evolução, levando a uma nova era de metodologias ágeis e à busca por eficiência.
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Vídeo de perguntas e respostas
Qual é a principal preocupação atual na engenharia de software?
A principal preocupação é a perda de habilidades fundamentais de raciocínio e design entre programadores, exacerbada pela dependência de inteligência artificial.
O que é 'vibe coding'?
'Vibe coding' é uma filosofia que desvaloriza o pensamento crítico e a arquitetura de software, promovendo a ideia de que pensar demais é perda de tempo.
Como a inteligência artificial impactou a programação?
A IA facilitou a geração de código, mas também introduziu vulnerabilidades e soluções de baixa qualidade, levando a uma cultura de superficialidade.
Quais foram os marcos importantes na evolução da engenharia de software?
Marcos incluem a crise do software nos anos 60, a formalização da programação nos anos 70, a popularização da orientação a objetos nos anos 80 e a criação do manifesto ágil em 2001.
O que causou a crise na engenharia de software?
A crise é resultado da falta de responsabilidade técnica, superficialidade no desenvolvimento e a pressão por entregas rápidas, exacerbada pela dependência de IA.
Qual é a solução proposta para a crise na engenharia de software?
A solução envolve resgatar a responsabilidade técnica, estudar fundamentos e valorizar a qualidade do código.
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- 00:00:00Estamos diante de uma crise sem
- 00:00:01precedentes na engenharia de software.
- 00:00:03Uma geração inteira de programadores
- 00:00:05está perdendo a capacidade fundamental
- 00:00:07de raciocinar, projetar e implementar
- 00:00:09soluções sólidas. A era das
- 00:00:11inteligências artificiais, que chegou
- 00:00:12prometendo revolucionar a produtividade,
- 00:00:15acabou trazendo também alguns efeitos
- 00:00:17colaterais. E o que a gente tá vivendo
- 00:00:18hoje não é só uma nova fase da
- 00:00:20tecnologia, uma regressão disfarçada de
- 00:00:23produtividade. E com isso surge uma nova
- 00:00:25era de programadores que acredita que
- 00:00:27pensar demais é desperdício, que
- 00:00:29entender o que tá fazendo é coisa de
- 00:00:30séor arrogante e que projetar software
- 00:00:33com responsabilidade virou frescura e
- 00:00:35perda de tempo. Para somar nessa equação
- 00:00:37e piorar ainda mais o cenário, temos as
- 00:00:39metodologias ágeis que vieram para dar
- 00:00:41leveza ao desenvolvimento de software e
- 00:00:43que foram completamente corrompidas
- 00:00:45dentro das empresas. corrompidas ao
- 00:00:46ponto de que viraram ferramenta de
- 00:00:49microgerenciamento. A daily virou
- 00:00:50interrogatória, a Sprint virou corrida
- 00:00:52maluca e o programador virou entregador
- 00:00:54de tickets. Hoje a cultura dominante é
- 00:00:56entrega, só entrega. Se rodou, tá certo.
- 00:00:59E para que aprendesse, a IA já faz. O
- 00:01:01pior de tudo isso é que já começaram a
- 00:01:03surgir as primeiras rachaduras mostrando
- 00:01:05que o código produzido hoje em dia tá
- 00:01:07cada vez mais porco e os sistemas estão
- 00:01:09mais frágeis e vulneráveis. A engenharia
- 00:01:11de software que a gente conhece tá
- 00:01:13doente. O mais assustador é que essa
- 00:01:15doença não é nova. A gente tá
- 00:01:17desenterrando um monstro que a
- 00:01:18comunidade técnica passou décadas
- 00:01:20tentando vencer. um monstro que já tinha
- 00:01:22sido nomeado, diagnosticado e combatido
- 00:01:25no passado. Só que para entender que
- 00:01:26monstro é esse, como que a gente chegou
- 00:01:28nesse ponto de caos que estamos vivendo
- 00:01:30agora, a gente vai precisar dar uns
- 00:01:32passos para trás e voltar no tempo,
- 00:01:33voltar pro início da queda, voltar pra
- 00:01:35época exata onde a engenharia de
- 00:01:37software perdeu o controle, onde tudo
- 00:01:39começou a desandar. Vamos voltar para
- 00:01:41uma época que ficou conhecida como a
- 00:01:44origem do caos. Sejam bem-vindos à
- 00:01:47história não contada do colapso da
- 00:01:49engenharia de
- 00:01:53software. Voltamos então pro fim da
- 00:01:56década de 60. Computadores ainda
- 00:01:58ocupavam salas inteiras e eram
- 00:02:00acessíveis apenas a governos, exércitos
- 00:02:02e grandes corporações. A programação
- 00:02:04ainda era feita em cartões perfurados e
- 00:02:06tudo era muito manual e artesanal e
- 00:02:08absurdamente propenso a erro. Nessa
- 00:02:10época não existia a engenharia de
- 00:02:12software que a gente conhece como
- 00:02:13disciplina formal, que existia era um
- 00:02:15bando de programadores escrevendo código
- 00:02:17direto no metal, muita das vezes em
- 00:02:20linguagens de máquina ou linguagens mais
- 00:02:21próximas dela, como assembly. E eram
- 00:02:23esses mesmos programadores que lutavam
- 00:02:26insanamente para tentar manter sistemas
- 00:02:28maiores, mais complexos e mais difíceis
- 00:02:30de entender. E foi exatamente nessa
- 00:02:33época que surgiu o que ficou conhecido
- 00:02:35como a crise do software. Esse termo
- 00:02:37surgiu pela primeira vez em 1968,
- 00:02:40durante uma conferência da Otana,
- 00:02:41Alemanha, onde os maiores especialistas
- 00:02:43da época chegaram à conclusão de que,
- 00:02:45apesar do avanço significativo do
- 00:02:47hardware, o desenvolvimento de software
- 00:02:49estava totalmente fora de controle. Os
- 00:02:51projetos da época atrasavam meses ou até
- 00:02:53anos. Os orçamentos sempre estouravam e
- 00:02:56os sistemas quase sempre falhavam no ar.
- 00:02:58E quando falhavam, ninguém sabia
- 00:03:00exatamente o porquê. Além disso, era
- 00:03:02extremamente comum grandes corporações
- 00:03:04perderem milhões de dólares por bugs que
- 00:03:06ninguém conseguia rastrear. O código era
- 00:03:08uma verdadeira bagunça, sem organização,
- 00:03:11sem padrão, sem separação de
- 00:03:13responsabilidade. Era basicamente um
- 00:03:15amontoado de instruções costurada no
- 00:03:17improviso. E o pensamento dominante da
- 00:03:19época era: "Se funcionou, deixa assim".
- 00:03:21Porque a manutenção era um verdadeiro
- 00:03:23pesadelo e qualquer alteração, por menor
- 00:03:25que fosse, podia quebrar o sistema
- 00:03:27inteiro. Nessa época não existia ainda
- 00:03:29teste automatizado, não existia
- 00:03:30versionamento de código, não existia
- 00:03:32controle sobre absolutamente nada. Cada
- 00:03:34software era uma caixa preta escrita por
- 00:03:36um programador que muit das vezes era o
- 00:03:38único que conseguia entender toda aquela
- 00:03:40bagunça e da manutenção. E foi em cima
- 00:03:42desse cenário caótico da crise do
- 00:03:44software que nasceu um consenso
- 00:03:46importante entre a comunidade técnica.
- 00:03:48Se a gente queria continuar evoluindo
- 00:03:50com o software, ia ser preciso criar
- 00:03:51método, criar princípio, criar
- 00:03:53estruturas formais para lidar com a
- 00:03:55complexidade. Então já era mais do que
- 00:03:57na hora da gente parar de escrever
- 00:03:58código no improviso e começar a projetar
- 00:04:01software de verdade. E é exatamente isso
- 00:04:03que nos leva pro nosso próximo marco
- 00:04:06temporal.
- 00:04:11Se a década de 60 terminou com um
- 00:04:13software totalmente fora de controle, a
- 00:04:15década de 70 começou com sentimento
- 00:04:17geral de urgência técnica. Era preciso a
- 00:04:20gente parar e organizar a bagunça. A
- 00:04:22programação, que até então era vista
- 00:04:23como algo quase artesanal, começou a ser
- 00:04:25tratada como uma disciplina estruturada,
- 00:04:28com estudos, métodos e debates sérios
- 00:04:30sobre como escrever um software que não
- 00:04:32desmoronasse com o tempo. E é nessa
- 00:04:34década que surgem os primeiros esforços
- 00:04:36reais para formalizar o desenvolvimento
- 00:04:38de software. A ideia aqui era simples,
- 00:04:40não dava mais pra gente depender só da
- 00:04:41boa vontade do programador. Era preciso
- 00:04:43a gente criar regra, definir estrutura,
- 00:04:45estabelecer boas práticas. E foi
- 00:04:47exatamente isso que começou a acontecer.
- 00:04:49Em 1970, o cientista da computação,
- 00:04:52Edger Dixtra, publica o artigo que
- 00:04:54viraria uma das pedras fundamentais da
- 00:04:56engenharia de software da Apple época. E
- 00:04:58nesse artigo ele denunciava o uso
- 00:05:00desenfriado do Goutu como um dos
- 00:05:02principais responsáveis por códigos
- 00:05:04ilegíveis, caóticos e quase impossíveis
- 00:05:06de manter. A proposta dele era chamada
- 00:05:09programação estruturada, baseada em três
- 00:05:11pilares: sequência, condição, que a
- 00:05:13gente conhece como if else e repetição,
- 00:05:16que a gente conhece como loop. A ideia
- 00:05:18era dar ao fluxo do programa uma
- 00:05:19estrutura previsível, legível e segura.
- 00:05:22E ele não estava sozinho nesse barco,
- 00:05:24porque em 1972, David Parnas traz à tona
- 00:05:27outro conceito revolucionário chamado
- 00:05:30encapsulamento de decisões. Segundo ele,
- 00:05:32um módulo de software não deve expor o
- 00:05:34seu funcionamento interno, mas sim
- 00:05:36oferecer uma interface limpa, clara e
- 00:05:39protegida de alterações futuras. Foi a
- 00:05:41primeira vez que se falou abertamente em
- 00:05:43esconder complexidade através do design
- 00:05:45de código. E isso virou a base para tudo
- 00:05:48que viria anos depois, com a explosão da
- 00:05:50orientação ao objetos. Enquanto isso, as
- 00:05:52linguagens de programação também estavam
- 00:05:54evoluindo e aos poucos programadores
- 00:05:56começavam a deixar de lado o assemble
- 00:05:58puro e ganhavam ferramentas mais
- 00:05:59sofisticadas para trabalhar. Linguagens
- 00:06:01como Pascal ganharam um meio acadêmico
- 00:06:03justamente por incentivarem a clareza, a
- 00:06:05modularização e a legibilidade do
- 00:06:07código. E outras linguagens como algol,
- 00:06:09modula e mais tardeada também foram
- 00:06:12importantes nesse período porque elas
- 00:06:13introduziram alguns recursos mais
- 00:06:15organizados e isso permitia que o código
- 00:06:17começasse a ser pensado com intenção de
- 00:06:20longo prazo. Só que tudo isso ainda
- 00:06:22estava no meio acadêmico, porque na
- 00:06:23indústria de fato a realidade era outra
- 00:06:25e seguia dominada por linguagens como
- 00:06:27Cobol, Fortran e assemble, onde os
- 00:06:29vícios da década anterior ainda estava
- 00:06:31profundamente enraizado. Só que o
- 00:06:33cenário estava mudando e aos poucos os
- 00:06:36fundamentos estavam sendo propagados. E
- 00:06:38embora a década de 70 não tivesse trago
- 00:06:40uma revolução imediata, foi ela quem
- 00:06:42plantou as sementes que transformariam
- 00:06:45completamente a engenharia de software
- 00:06:46na década seguinte. E é com esse novo
- 00:06:48olhar técnico, esse novo compromisso com
- 00:06:51a qualidade que a gente entra no nosso
- 00:06:53próximo marco
- 00:06:56temporal.
- 00:06:59Entramos então na década de 80, enquanto
- 00:07:02o mundo respirava os primeiros sinais da
- 00:07:05revolução digital com o avanço dos
- 00:07:07computadores pessoais, um novo
- 00:07:08pensamento começava a se formar entre
- 00:07:10programadores do mundo todo. A ideia era
- 00:07:12simples, mas poderosa. Vamos tratar
- 00:07:15software como algo que precisa de
- 00:07:17arquitetura e engenharia. Então é nesse
- 00:07:19período que começa a ganhar mais força o
- 00:07:21que a gente chama hoje de engenharia de
- 00:07:23software. Foi nessa época também que
- 00:07:25começou o início da disseminação de um
- 00:07:27novo paradigma que ganharia o mundo nas
- 00:07:29décadas seguintes, a programação
- 00:07:31orientada a objetos, que surgiu ainda
- 00:07:33nos anos 60 com Símula 67 e foi refinada
- 00:07:36nos anos 70 com Smalt Talkalk, mas foi
- 00:07:38no início dos anos 80 que ela começou a
- 00:07:40ser popularizada com linguagens como C++
- 00:07:43e Objective C, que começaram a
- 00:07:44disseminar a ideia de objetos como
- 00:07:47unidades de organização. E a proposta da
- 00:07:49orientação objetos era muito clara.
- 00:07:51Vamos quebrar o software em partes
- 00:07:53menores, reutilizáveis e isoladas, cada
- 00:07:56uma com uma única responsabilidade. Era
- 00:07:58como se o software agora fosse feito de
- 00:08:00pequenas peças de Lego, cada uma com seu
- 00:08:02papel muito bem definido. E isso tudo
- 00:08:04não era só uma mudança técnica na forma
- 00:08:06de programar e de escrever o código, era
- 00:08:08uma mudança de mentalidade. Então, o
- 00:08:10programador deixava de ser um executor
- 00:08:12de instruções e passava a ser agora um
- 00:08:14arquiteto de soluções, alguém com
- 00:08:15capacidade e autonomia de raciocinar
- 00:08:18sobre o problema e a solução. E é nessa
- 00:08:20mesma época que nascem os primeiros
- 00:08:22embriões do pensamento que anos depois
- 00:08:24daria origem aos princípios atualmente
- 00:08:27conhecido como Sólid. Foi durante esse
- 00:08:28período também que ganharam destaques as
- 00:08:30primeiras tentativas de documentar boas
- 00:08:32práticas de design de código e a
- 00:08:34comunidade começa a perceber que existem
- 00:08:35melhores e piores formas de escrever um
- 00:08:37código e isso começa a se espalhar pelo
- 00:08:39mundo inteiro. E é claro que como toda
- 00:08:41repercussão e toda nova forma de pensar
- 00:08:43vem acompanhada de resistência, muita
- 00:08:46gente da época achava tudo isso
- 00:08:47frescura, complicação desnecessária e
- 00:08:49coisa de acadêmico. Mas o que tava em
- 00:08:51jogo aqui era muito maior do que o
- 00:08:53estilo de código ou a forma que você
- 00:08:55programava, era a sustentabilidade dos
- 00:08:57sistemas. Porque sistemas mal projetados
- 00:08:59não escalam, não evoluem e não
- 00:09:01sobrevivem. E é exatamente isso que nos
- 00:09:03leva diretamente pro próximo marco
- 00:09:05temporal, que foi o grande boom da
- 00:09:08engenharia de software no mundo
- 00:09:14todo. A década de 90 começa com um ar de
- 00:09:17confiança técnica. A base já tinha sido
- 00:09:20construída, a orientação objeto já tinha
- 00:09:21ganhado bastante espaço no mercado e a
- 00:09:23ideia de separar responsabilidades,
- 00:09:25encapsular decisões e projetar sistema
- 00:09:28já não era mais novidade. Foi nesse
- 00:09:30momento que temas como encapsulamento,
- 00:09:32herança, polimorfismo e abstração
- 00:09:34entraram de vez pro Rai. Só que como nem
- 00:09:36tudo são flores, começaram a surgir os
- 00:09:38primeiros problemas dessa abordagem
- 00:09:40orientada a objetos e que dessa vez não
- 00:09:42era por falta de estrutura, era por
- 00:09:43falta de padronização. Cada equipe na
- 00:09:46época desenvolvia sistemas do seu
- 00:09:47próprio jeito. Cada empresa tinha o seu
- 00:09:49próprio padrão interno e cada novo
- 00:09:51programador reinventava a roda 300
- 00:09:54vezes. Então é nesse contexto que nascia
- 00:09:56o primeiro movimento que buscava
- 00:09:58formalizar as boas práticas de
- 00:09:59orientação a objetos. Então, em
- 00:10:021994, foi publicado um dos livros mais
- 00:10:05importantes da história da programação,
- 00:10:06chamado Design Patters, ou melhor,
- 00:10:09Padrões de Projeto. Essa obra catalogou
- 00:10:1223 padrões de projeto, como Decorator,
- 00:10:15Factory, Strategy, Observer, que viraram
- 00:10:17referência obrigatória e o impacto foi
- 00:10:19imediato. Pela primeira vez na história,
- 00:10:21a comunidade falava a mesma língua. Era
- 00:10:23como se a gente tivesse criado um
- 00:10:25vocabulário universal para descrever
- 00:10:27estruturas de software que resolviam
- 00:10:29problemas mais comuns quando o assunto
- 00:10:31era desenvolver software orientado a
- 00:10:32objetos. Só que a coisa não parou por aí
- 00:10:34e fica melhor ainda, porque em 1995
- 00:10:38nascia o lendário Java, uma linguagem
- 00:10:40criada com base em C++, só que com foco
- 00:10:43em portabilidade e orientação a objetos
- 00:10:45e legibilidade. A promessa do Java era
- 00:10:48revolucionar, escreva uma vez e rode em
- 00:10:50qualquer lugar. E foi assim que o Java
- 00:10:52se espalhou como fogo no mundo
- 00:10:54corporativo e com ele veio a
- 00:10:55popularização definitiva da orientação a
- 00:10:58objetos. Então, nesse momento, as
- 00:11:00empresas começaram a migrar, as
- 00:11:01faculdades começaram a ensinar e os
- 00:11:03frameworks começaram a surgir. A partir
- 00:11:05daí, então a orientação a objetos
- 00:11:07deixava de ser tendência e se tornava o
- 00:11:09padrão obrigatório do mercado. Chegando
- 00:11:11então em 1999, a sensação era de que a
- 00:11:15gente havia conseguido encontrar o
- 00:11:16caminho certo, de que a crise do
- 00:11:18software era coisa do passado, porque
- 00:11:20agora a gente tinha a orientação a
- 00:11:21objetos do nosso lado, a gente tinha o
- 00:11:23nosso próprio catálogo de padrões de
- 00:11:25projeto e várias novas linguagens já
- 00:11:26tinham surgido no mercado como Python,
- 00:11:28PHP, Ruby, a coisa não parava de
- 00:11:31melhorar. Então, quando a gente entra
- 00:11:32nos anos 2000, nascia mais uma lenda, o
- 00:11:35C#ARP da Microsoft, para responder à
- 00:11:38altura à revolução do Java. Foi nesse
- 00:11:40mesmo período que começaram a surgir
- 00:11:42também os primeiros indícios dos famosos
- 00:11:44princípios Sólid criado por Robert
- 00:11:46Martin, que na verdade juntou o
- 00:11:47conhecimento de outros grandes nomes da
- 00:11:49época e sintetizou tudo no acrônimo
- 00:11:51Solid e que em teoria servia para evitar
- 00:11:53código frágil, acoplado e bagunçado, e
- 00:11:55que ajudou a criar uma geração de
- 00:11:57programadores muito mais conscientes do
- 00:11:59impacto do design de código nas decisões
- 00:12:01de software. Só que a evolução na
- 00:12:03engenharia de software não parou por aí.
- 00:12:05Então, em 11 de fevereiro de 2001, nas
- 00:12:08montanhas de Utá, nascia o manifesto AG,
- 00:12:11o manifesto que foi descrito por 17
- 00:12:13desenvolvedores que estavam cansados da
- 00:12:15rigidez corporativa e da burocracia nas
- 00:12:17metodologias de desenvolvimento de
- 00:12:19software da época. Essas metodologias
- 00:12:21priorizavam planejamento e documentação
- 00:12:23em excesso antes mesmo do software est
- 00:12:26funcionando em produção. Além disso,
- 00:12:27elas também tinham longos ciclos de
- 00:12:29entrega. Então, o manifesto ágil nasce
- 00:12:31como uma alternativa mais flexível,
- 00:12:33colaborativa e focada na entrega de
- 00:12:35valor pro cliente. E entre os criadores
- 00:12:37desse manifesto, tínhamos grandes nomes
- 00:12:39como o próprio Robert Martin, Kent Pack,
- 00:12:41Martin Faller e por aí vai. E como não é
- 00:12:43à toa que essas décadas foram conhecidas
- 00:12:45como a era de ouro da engenharia de
- 00:12:47software, em 2003 temos um novo divisor
- 00:12:50de águas, main driven design de Eric
- 00:12:52Evvans, que trazia uma nova forma da
- 00:12:54gente desenvolver e pensar sobre
- 00:12:56software, só que agora não era só
- 00:12:58olhando pro código, a ideia agora era a
- 00:13:00gente modelar software olhando pro
- 00:13:02domínio do negócio e fazer com que
- 00:13:04desenvolvedores e especialistas falassem
- 00:13:06a mesma língua e criassem sistemas que
- 00:13:08refletissem a realidade da empresa.
- 00:13:10Então foi nessa época que termos como
- 00:13:12linguagem ubicua, entidades, agregados,
- 00:13:15repositores começaram a ganhar muita
- 00:13:16força nas conversas técnicas. E como
- 00:13:18tudo isso era só a ponta do iceberg na
- 00:13:21nossa evolução técnica da engenharia de
- 00:13:23software, em 2008 vem o tiro de canhão
- 00:13:26final, a publicação do livro Clean Code
- 00:13:28de Robert Martin, que virou quase uma
- 00:13:30bíblia moderna da programação e se
- 00:13:32espalhou como fogo no mato seco pelo
- 00:13:34mundo inteiro. Código limpo, com bons
- 00:13:36nomes, com funções pequenas,
- 00:13:38responsabilidades bem definidas, testes
- 00:13:40automatizados, arquitetura clara,
- 00:13:42simples, elegante. Esse era o grito de
- 00:13:45guerra da excelência técnica. E se você
- 00:13:47pensa que acabou, tá muito enganado.
- 00:13:49Logo em seguida vinham os Objectistenics
- 00:13:52de Jeff Bay com nove regras de ouro para
- 00:13:54forçar um código coeso, desacoplado e
- 00:13:56orientado a objetos de verdade. Nada de
- 00:13:59classe gigante, nada de EL, nada de
- 00:14:01Getter e setter espalhado por aí. A
- 00:14:03gente vivia um verdadeiro renascimento
- 00:14:05técnico. Design patterns bombando, sólid
- 00:14:08se espalhando, clean code nas instantes,
- 00:14:10TDD ganhando espaço, Domain Driven
- 00:14:12Design entrando nas mesas de reunião,
- 00:14:14Kys, Dry e Agne virando tatuagem de
- 00:14:16programador. Parecia que a gente
- 00:14:18finalmente tinha dominado a arte de
- 00:14:20programar. Era como se a engenharia de
- 00:14:22software tivesse alcançado a maturidade
- 00:14:24suprema, porque tudo tinha nome, tudo
- 00:14:26tinha método, tinha propósito, parecia
- 00:14:29perfeito, só que não era, porque quanto
- 00:14:32mais a gente tentava fazer tudo certo,
- 00:14:35mais a gente começava a errar feio. A
- 00:14:37gente começou a transformar princípios
- 00:14:39em dogmas, em leis, padrões em obrigação
- 00:14:42e cada novo problema simples ganhava uma
- 00:14:44arquitetura de guerra. A simplicidade
- 00:14:47foi sendo sufocada pelo medo de fazer
- 00:14:50errado e isso fez com que muitos
- 00:14:52programadores travassem. Afinal, qual
- 00:14:54que era o padrão certo para cada
- 00:14:56situação? A gente acabou criando uma
- 00:14:57cultura onde o certo era fazer complexo,
- 00:15:00onde uma tela de login simples tinha que
- 00:15:01ter 18 camadas, cinco interfaces, sete
- 00:15:04factories e um command. E com isso,
- 00:15:06muita gente começou a confundir
- 00:15:08complexidade com senioridade. As boas
- 00:15:11práticas deixaram de ser uma ferramenta
- 00:15:13e viraram muleta de vaidade. E foi assim
- 00:15:15que no auge da excelência técnica a
- 00:15:18gente pariu o nosso novo vilão, o over
- 00:15:20Engineering, traduzindo, seria o excesso
- 00:15:22de engenharia e complexidade
- 00:15:24desnecessária. Só que a gente não teve
- 00:15:26tempo de olhar para ele, porque antes
- 00:15:28que a comunidade tivesse a chance de
- 00:15:29refletir sobre o assunto, o mundo foi
- 00:15:31atingido por um novo colapso, só que
- 00:15:33agora financeiro. E entre 2007 e 2008,
- 00:15:37estourou a grande recessão global. O
- 00:15:38colapso no setor imobiliário dos Estados
- 00:15:40Unidos derrubou bolsas, faliu empresas,
- 00:15:42destruiu empregos e colocou o planeta
- 00:15:44inteiro em estado de alerta. Empresas de
- 00:15:47tecnologia começaram a cortar custos,
- 00:15:49projetos foram congelados, investimentos
- 00:15:51sumiram e de repente a última
- 00:15:53preocupação das empresas era saber se o
- 00:15:55código do sistema tinha uma arquitetura
- 00:15:57decente. O foco agora era sobreviver e o
- 00:15:59debate técnico foi silenciado por uma
- 00:16:02necessidade muito maior que era manter
- 00:16:04as luzes acesas. Então o overineering
- 00:16:06ficou ali quieto, parado, escondido,
- 00:16:09esperando a próxima chance de voltar
- 00:16:11para atormentar a gente e cobrar juros e
- 00:16:14correção monetária por isso. Então é
- 00:16:15diante desse novo caos financeiro que a
- 00:16:18gente finaliza esse período e vamos
- 00:16:19entrar no nosso próximo marco
- 00:16:24temporal.
- 00:16:27Entramos então em 2010 e a reessão
- 00:16:30global já havia finalizado e os
- 00:16:32primeiros indícios de paz e
- 00:16:34tranquilidade no mundo começaram a
- 00:16:35surgir. As empresas começaram a se
- 00:16:37recuperar, novas rodadas de investimento
- 00:16:39voltaram a aparecer e o mercado agora
- 00:16:41parecia revigorado e pronto para seguir
- 00:16:43adiante. Só que junto com isso, nessa
- 00:16:45mesma época, um novo fenômeno começava a
- 00:16:47se espalhar pelo mundo inteiro, os
- 00:16:49smartphones. De repente, agora todo
- 00:16:52mundo tava com computador no bolso e
- 00:16:54toda empresa de qualquer setor tinha a
- 00:16:56obrigação de ir pra internet, porque
- 00:16:58quem não estivesse lá estaria fora do
- 00:17:00mercado competitivo muito em breve. E é
- 00:17:02aqui que começava uma nova corrida
- 00:17:05desenfreada por presença digital. E para
- 00:17:07acompanhar esse ritmo, frameworks
- 00:17:09robustos, poderosos, Enterprise como
- 00:17:12Spring, começaram a ganhar muita força
- 00:17:14no mercado e a adoção deles cresceu
- 00:17:16quase que de maneira exponencial. E era
- 00:17:18ali, bem ali, naquela hora, que a gente
- 00:17:20podia ter corrigido os nossos erros do
- 00:17:22passado e ter pago todos os nossos
- 00:17:24pecados. A gente podia ter olhado pro
- 00:17:26excesso de abstrações, pros padrões
- 00:17:28usados sem nenhum tipo de propósito e
- 00:17:30ter dito: "Chega, vamos fazer simples,
- 00:17:32vamos fazer direito". Só que não. A
- 00:17:34gente continuou cometendo os mesmos
- 00:17:36erros do passado. Nessa época, qualquer
- 00:17:38projeto pequeno ganhava arquitetura de
- 00:17:40grandes corporações. Startup com três
- 00:17:43programadores enfiava domain driven
- 00:17:45design, clean architecture e
- 00:17:46microsserviço num sistema simples de
- 00:17:48cadastro de usuário. Então é nesse
- 00:17:50momento, é bem aqui que o nosso algó sai
- 00:17:52da tumba para nos atormentar novamente.
- 00:17:54O overending. Só que mais uma vez ele
- 00:17:57vai ter que esperar porque um novo
- 00:17:59inimigo acabou de aparecer, seu irmão
- 00:18:02gêmeo. Lembra do manifesto ágil criado
- 00:18:05lá em 2001? Aquele que apareceu para ser
- 00:18:07leve, flexível e humano? Pois bem, ele
- 00:18:10começou a ser distorcido e deturpado
- 00:18:12dentro de algumas empresas até perder
- 00:18:14completamente a essência. A daily do
- 00:18:16scram virou interrogatório, a Sprint
- 00:18:18virou corrida maluca, o Camban virou
- 00:18:20planilha de microgerenciamento, o papel
- 00:18:22do PIO virou gerente de prazo. E o dev,
- 00:18:24bom, o Dev virou aquele executor de
- 00:18:27tarefas, bem parecido com aquele lá da
- 00:18:29década de 60, porque agora só o que
- 00:18:31importava era entrega, era entrega,
- 00:18:34entrega e entrega. Tudo isso porque as
- 00:18:36empresas precisavam ir rápido pro
- 00:18:38digital e quem não tivesse na internet
- 00:18:40estaria fora do jogo muito antes de
- 00:18:42conseguir perceber isso. Então agora já
- 00:18:43não importava mais a arquitetura, não
- 00:18:45importava mais a coesão, não importava
- 00:18:47mais a qualidade, só a entrega
- 00:18:50importava. E foi aí que a gente pariu um
- 00:18:53novo monstro. Se por um lado Overengine
- 00:18:55Engineering era um dos extremos que
- 00:18:56significava excesso de engenharia e
- 00:18:58complexidade desnecessária, agora a
- 00:19:00gente tinha que enfrentar o irmão gêmeo
- 00:19:02dele, o Wonder Engineering, que se antes
- 00:19:04o problema era o excesso, agora o
- 00:19:06problema é a escassez de engenharia.
- 00:19:08Sistemas começaram a ser feitos sem
- 00:19:10estrutura nenhuma, regra de negócio
- 00:19:12jogada dentro de controller, classe
- 00:19:13chamada service que faz tudo, manda
- 00:19:15e-mail, consulta banco, processa
- 00:19:17pagamento, converte dado, desenha tela.
- 00:19:19O importante era funcionar, era rodar
- 00:19:22rápido, chegar no mercado antes do
- 00:19:24concorrente. Se der bug, a gente resolve
- 00:19:26depois, se quebrar, a gente faz um
- 00:19:28Hotfix. E esse era o novo cenário que
- 00:19:30criou uma geração inteira de
- 00:19:32desenvolvedores que nunca aprendeu a
- 00:19:35projetar um sistema, que não sabe o
- 00:19:36mínimo sobre como implementar uma camada
- 00:19:38de cash simples para aliviar as
- 00:19:40consultas do banco de dados, que nunca
- 00:19:41pensou em domínio, que nunca sequer
- 00:19:43escreveu um código que durasse mais do
- 00:19:45que três sprints, porque agora tudo era
- 00:19:47velocidade. Então agora já tava mais do
- 00:19:49que na hora da gente voltar atrás e
- 00:19:51parar para refletir sobre os nossos
- 00:19:53problemas de engenharia. Só que quando
- 00:19:55essas discussões começaram a ganhar a
- 00:19:57comunidade técnica, mais uma vez a gente
- 00:19:59foi forçado a deixar de lado todos os
- 00:20:02nossos débitos técnicos e problemas de
- 00:20:04engenharia de software para assistir o
- 00:20:06próximo grande colapso que atingiu o
- 00:20:08mundo inteiro, trazendo causa e
- 00:20:10destruição por onde passou. E isso nos
- 00:20:12leva pro nosso próximo marco temporal,
- 00:20:14que começa com uma nova crise global,
- 00:20:16agora causada por um inimigo invisível,
- 00:20:19um vírus.
- 00:20:26Um colapso de saúde pública sem
- 00:20:28precedente forçou países inteiros a
- 00:20:30trancarem suas portas. Empresas
- 00:20:32fecharam, pessoas foram mandadas para
- 00:20:34casa e o planeta completamente devastado
- 00:20:36entrou num isolamento forçado. Só que o
- 00:20:39inesperado aconteceu porque logo em
- 00:20:41seguida, no meio disso tudo, o software
- 00:20:43acabou virando infraestrutura essencial.
- 00:20:46E tudo passou a depender de sistemas
- 00:20:48digitais, reuniões de trabalho, aulas,
- 00:20:50consultas médicas, pedido de comida,
- 00:20:52relacionamento, lazer, vida, tudo estava
- 00:20:55na internet. Quem não estava online foi
- 00:20:57sepultado e sumiu de vez do mapa e o
- 00:20:59mercado de tecnologia dessa vez
- 00:21:02explodiu. Empresas de software passaram
- 00:21:04a valer bilhões, startups receberam
- 00:21:06investimentos recordes e as contratações
- 00:21:08remotas dispararam. E de repente algo
- 00:21:11inédito acontece. O programador virou o
- 00:21:14novo rei do mercado e agora era ele quem
- 00:21:17dava as cartas, ele que decidia onde
- 00:21:19queria trabalhar, ele que decidiu o
- 00:21:21salário que queria ganhar e até a
- 00:21:22modalidade de trabalho. E foi nesse
- 00:21:24mesmo período que análise e
- 00:21:26desenvolvimento de sistemas se tornava o
- 00:21:28curso mais procurado nas universidades.
- 00:21:30Tinha gente largando emprego para virar
- 00:21:32programador e as empresas, por falta de
- 00:21:34deves, buscava até na cracolândia os
- 00:21:36seus novos jovens talentos. Era tudo
- 00:21:39muito lindo, tudo maravilhoso, via
- 00:21:40importância que o setor de tecnologia
- 00:21:42ganhou no mundo inteiro. Só que esse
- 00:21:44crescimento veio com custo muito alto,
- 00:21:47chamado pressão, muita pressão. Pressão
- 00:21:49para entregar mais rápido, pressão para
- 00:21:51lançar mais features, pressão para
- 00:21:52crescer e pressão para manter as luzes
- 00:21:54acesas de bilhões de usuários conectados
- 00:21:5724x7. E nesse ritmo insano, o pensamento
- 00:22:00técnico foi mais uma vez deixado de
- 00:22:03lado, porque pensada a trabalho e o que
- 00:22:05as empresas queriam era código, qualquer
- 00:22:07código, desde que entregasse. E foi
- 00:22:10nesse mesmo momento, em 28 de maio de
- 00:22:122020, que a Openei apresentou ao mundo o
- 00:22:15GPT3, um modelo de linguagem poderoso
- 00:22:18capaz de gerar texto com um nível de
- 00:22:19coerência nunca antes visto na história.
- 00:22:22Logo depois, em 2021, tivemos o GitHub
- 00:22:25Copilot, o primeiro grande assistente de
- 00:22:27código gerado por IA e treinado com
- 00:22:29bilhões de linhas públicas do GitHub. A
- 00:22:31promessa era sedutora: digite um
- 00:22:33comentário e ganhe um bloco de código
- 00:22:35funcional. E isso aí era só a ponta do
- 00:22:37iceberg, porque logo depois vieram
- 00:22:39outros modelos mais poderosos e mais
- 00:22:41avançados, como chat GPT, o Gemini,
- 00:22:43Cursor, de PSIC, Cloud e por aí vai.
- 00:22:45Então, em pouco tempo, as inteligências
- 00:22:47artificiais generativas estavam em todo
- 00:22:50lugar, gerando código, explicando o
- 00:22:52código, refatorando o código e
- 00:22:53analisando por request. Só que o tempo
- 00:22:55foi passando e depois de toda essa
- 00:22:57explosão de tecnologia começaram a
- 00:22:59surgir os primeiros efeitos colaterais.
- 00:23:02Algumas empresas já começaram a perceber
- 00:23:03que a inteligência artificial tá gerando
- 00:23:05o código duplicado, introduzindo
- 00:23:07vulnerabilidade, criando soluções de
- 00:23:08procedência duvidosa e montando sistemas
- 00:23:11que quebram fácil. E aí, o que ninguém
- 00:23:13parou para pensar, finalmente veio à
- 00:23:15Tony. E a pergunta que não queria calar
- 00:23:18era como que essas foram treinadas, com
- 00:23:21que dados? Quem ensinou elas a
- 00:23:23programar? Até porque não precisa ser um
- 00:23:25gênio para saber que as inteligências
- 00:23:27artificiais generativas não são
- 00:23:29inteligentes de verdade, elas não
- 00:23:31pensam. E a resposta, eu acredito que já
- 00:23:33tá mais do que óbvia. E foi por isso que
- 00:23:35eu te trouxe nessa viagem do tempo,
- 00:23:37enquanto a gente passava por todas as
- 00:23:39nossas crises na engenharia de software,
- 00:23:41reaprendendo paradigmas, mudando a forma
- 00:23:44de pensar, ou então enfrentando os
- 00:23:45nossos inimigos como o overgenering, ou
- 00:23:48então o underengineering, ou então
- 00:23:49quando a gente era obrigado a pausar as
- 00:23:51nossas discussões técnicas a respeito do
- 00:23:53futuro da engenharia de software por
- 00:23:55motivos de força maior ou colapsos
- 00:23:57globais e empurrava toda a sujeira para
- 00:23:59debaixo do tapete e deixava para depois,
- 00:24:02a inteligência artificial estava lá.
- 00:24:04aprendendo, observando, imitando. Ela
- 00:24:06foi alimentada com tudo que tinha por
- 00:24:08aí. Código público, stack overflow,
- 00:24:11repositório aleatório, documentação
- 00:24:13incompleta, post antigo de fórum que nem
- 00:24:15existe mais. Só para você ter uma ideia,
- 00:24:18os repositórios públicos do GitHub, por
- 00:24:20exemplo, estão repletos de código lixo,
- 00:24:22sem teste, sem padrão e cheio de
- 00:24:25gambiarra. Foi a gente mesmo que
- 00:24:26alimentou esses modelos de inteligência
- 00:24:28artificial. A Ia aprendeu com a nossa
- 00:24:30mediocridade e hoje ela tá apenas
- 00:24:32regurgitando o lixo que a gente jogou lá
- 00:24:35atrás e não voltou para catar. E o
- 00:24:37programador fascinado com a velocidade
- 00:24:39não questionou. Ele aceitou, copiou o
- 00:24:42código, colou e subiu em produção. E que
- 00:24:45fique claro aqui que o problema não é
- 00:24:47usar inteligência artificial, até porque
- 00:24:49o programador que não usa IA, ele tá
- 00:24:51fora do mercado já. O problema é que
- 00:24:53agora surge uma nova era de
- 00:24:55programadores que idolatram a
- 00:24:57terceirização do raciocínio. O
- 00:24:58programador que não resolve mais o
- 00:25:00problema, ele descreve o problema e
- 00:25:02espera que a IA resolva por ele. Esse é
- 00:25:05o verdadeiro nascimento de uma geração
- 00:25:07de pedintes de código. É uma cracolândia
- 00:25:10digital. Eles não entendem lógica, não
- 00:25:12sabem o básico de arquitetura, não sabem
- 00:25:14refaturar um código, não entendem nada
- 00:25:16sobre escalabilidade, performance,
- 00:25:18paralelismo, concorrência, mas sabe
- 00:25:20escrever um prompt, sabe pedir, sabe
- 00:25:22copiar, sabe colar e tudo isso sem
- 00:25:25questionar. A inteligência artificial
- 00:25:27não virou uma ferramenta, ela virou uma
- 00:25:29muleta. E junto com ela o pensamento
- 00:25:31crítico, aquele que diferencia o
- 00:25:33programador de verdade de um papagaio de
- 00:25:34chat GPT, começa a definhar e no meio
- 00:25:37disso tudo, esse movimento ganhou até
- 00:25:39nome: camiseta, bordão e
- 00:25:41influenciadores. Em cima disso, nasce um
- 00:25:44novo tipo de programador. O programador
- 00:25:45que não se sente ameaçado por não saber,
- 00:25:48ele se sente confortável, ele não quer
- 00:25:50entender o que tá fazendo, ele quer
- 00:25:51copiar, colar e fazer funcionar. E é
- 00:25:54nesse cenário que surge o movimento que
- 00:25:57sintetiza todo esse novo espírito, vibe
- 00:26:00coding. O que que é vibe coding? É
- 00:26:02apenas um nome bonito para justificar a
- 00:26:03preguiça. É a filosofia que diz que
- 00:26:05pensar demais atrasa, que estudar boas
- 00:26:08práticas é perda de tempo, que
- 00:26:09arquitetura é frescura e que Solid é
- 00:26:12coisa do passado. Para que usar padrão
- 00:26:14de projeto se o código tá rodando? Para
- 00:26:16que testar se o usuário não reclamou?
- 00:26:18Para que entender se a IA já fez? O Vibe
- 00:26:20Coding transforma a superficialidade em
- 00:26:22virtude e o desleixo em estilo é um
- 00:26:25verdadeiro culto à ignorância. Enquanto
- 00:26:28isso, o código nos bastidores das
- 00:26:30empresas mundo afora, vai virando coxa
- 00:26:32de retalho imprevisível, impossível de
- 00:26:35dar manutenção e que ninguém se atreve a
- 00:26:37tocar, porque foi a IA que fez. Os
- 00:26:39sistemas estão ficando cada vez mais
- 00:26:41frágeis, difíceis de escalar, lentos,
- 00:26:43repetitivos, cheio de código gerado, sem
- 00:26:45sentido. Ninguém entende mais nada,
- 00:26:47ninguém tem coragem de refaturar,
- 00:26:48ninguém tem nem tempo mais para pensar e
- 00:26:50raciocinar sobre isso. Só que enquanto
- 00:26:52tudo isso está acontecendo neste exato
- 00:26:55momento, a Ia tá lá aprendendo com os
- 00:26:58nossos novos códigos gerados por ela
- 00:27:00mesma e que os novos programadores nem
- 00:27:02sequer dão o trabalho de conferir. Eles
- 00:27:04só copiam, colam e botam para funcionar.
- 00:27:07E tudo isso vira um ciclo de
- 00:27:09medíoccridade que se retroalimenta. E
- 00:27:11bom, quer saber de uma coisa? A próxima
- 00:27:14grande crise do software não é mais uma
- 00:27:16possibilidade, ela é só uma questão de
- 00:27:19tema. A engenharia de software tá em
- 00:27:20colapso, não é porque falta ferramenta,
- 00:27:22não é porque falta linguagem, não é
- 00:27:24porque falta mais nada. Ela tá em
- 00:27:26colapso porque essa geração parou de
- 00:27:28pensar e raciocinar. E o pior de tudo
- 00:27:31isso é que agora a maioria tá sentindo
- 00:27:33orgulho de ser burro. Mas se você chegou
- 00:27:36até aqui, é porque você sabe que alguma
- 00:27:37coisa tá errada. Você sente que isso tá
- 00:27:39acontecendo e talvez você seja um dos
- 00:27:41poucos que ainda se importa. Se importa
- 00:27:43em entender o problema antes de escrever
- 00:27:45a solução? Se importa em modelar bem
- 00:27:47antes de abstrair mal? Se importa em
- 00:27:48refatorar? Não porque alguém mandou, mas
- 00:27:51porque você não aceita escrever lixo. Se
- 00:27:53importa com a qualidade, com a clareza,
- 00:27:55com a engenharia como um todo, com a
- 00:27:57responsabilidade de quem constrói
- 00:27:59sistemas que impactam o mundo real.
- 00:28:01Porque a verdade é dura. A profissão de
- 00:28:03programador, ela não vai ser destruída
- 00:28:05pelo IA, ela vai ser destruída pela
- 00:28:07preguiça e pela burrice. Porque a IA ela
- 00:28:09só reflete, ela não decide, ela não
- 00:28:11pensa, ela não projeta sistemas, ela não
- 00:28:13conhece o domínio, ela não tem empatia
- 00:28:15pelo usuário, ela não sabe o que é certo
- 00:28:17ou o que é errado no sistema crítico.
- 00:28:19Isso ainda é papel do engenheiro, do
- 00:28:21programador, do arquiteto de software
- 00:28:23que entende o impacto de cada linha
- 00:28:25escrita, porque não é o Clean Code que
- 00:28:27atrasa o projeto, é a ausência dele que
- 00:28:29mata a manutenção, não é o solid que te
- 00:28:31trava, é não entender o que cada módulo
- 00:28:33deveria fazer, não é o doméio do Ren
- 00:28:35Design que complica, é jogar toda a
- 00:28:37regra de negócio dentro do controle e
- 00:28:39chamar isso de prático. Não é
- 00:28:40arquitetura que te atrás, é a preguiça
- 00:28:42de aprender que causa alergia a
- 00:28:44conhecimento. Se a gente quiser salvar
- 00:28:46engenharia de software, a gente vai ter
- 00:28:48que começar resgatando a
- 00:28:50responsabilidade técnica. A gente vai
- 00:28:52ter que voltar a estudar os fundamentos.
- 00:28:54Você não precisa saber tudo. Você não
- 00:28:55precisa ser um Einstein, um gênio da
- 00:28:57programação. Mas você precisa querer
- 00:28:59aprender, querer entender, precisa ter
- 00:29:01critério e, acima de tudo, precisa ter
- 00:29:03vergonha na cara quando fori escrever um
- 00:29:05código. Porque código porco também mata.
- 00:29:07Software não roda só na web. Ele roda em
- 00:29:10hospitais, ele roda em carros autônomos,
- 00:29:12ele roda em aviões e principalmente em
- 00:29:14equipamentos que mantém pessoas vivas. E
- 00:29:17pode ser um parente seu, um filho, um
- 00:29:19amigo, dependendo de um sistema desses,
- 00:29:21para continuar vivo e ele acabar
- 00:29:23falhando, porque um animal copiou e
- 00:29:25colou um código que ele nem sequer teve
- 00:29:27a decência de questionar.
- 00:29:30Agora é contigo. M.
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