O QUE HÁ POR TRÁS DOS LEGENDÁRIOS? | Marcos Lacerda, psicólogo

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https://www.youtube.com/watch?v=4s39K6wcrQk

Summary

TLDRO vídeo analisa o movimento "legendários", que visa transformação espiritual para homens no Brasil, mas critica suas raízes patriarcais e a exclusão de vulnerabilidades. O psicólogo Marcos Lacerda argumenta que o movimento perpetua modelos antigos de masculinidade, reforçando estereótipos e segregação de gênero. Ele enfatiza a necessidade de um novo pacto de masculinidade que promova a empatia e a vulnerabilidade, ressaltando que as verdadeiras necessidades dos homens são escuta e diálogo, em vez de isolamento em grupos homossexuais. Além disso, critica o elitismo do movimento, que favorece homens brancos e de classe média.

Takeaways

  • 🧔 O movimento legendários busca transformação espiritual só para homens.
  • ⚠️ Críticas apontam que reforça estereótipos patriarcais.
  • 🤔 Propõe resgatar um modelo antigo de masculinidade.
  • ✊ A ideia de que homens precisam ficar separados é problemática.
  • 📉 Acesso ao movimento é elitista e restrito a homens de classe média.
  • 🤝 Os homens necessitam de mais diálogo e vulnerabilidade.
  • 🌀 O risco é reforçar estruturas sociais excludentes.
  • 💡 A verdadeira transformação demanda empatia e escuta.

Timeline

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    O movimento 'legendários' no Brasil busca promover uma transformação espiritual para homens, mas apresenta preocupações subjacentes. Embora a proposta inicial pareça simpática, ao se aprofundar, revela um resgate de um modelo masculino arcaico que perpetua a ideia patriarcal. Este modelo de homem, considerado 'legendário', traz estigmas e impostos sociais que muitas vezes colocam a mulher em uma posição inferior na hierarquia familiar e social.

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    A proposta dos legendários exige a exclusão de experiências e emoções que tornam o homem mais humano, como a fragilidade e a vulnerabilidade. A preocupação se concentra sobre que tipo de homem será formado por esse movimento – um ser mais empático e sensível ou um homem endurecido e que utiliza a religião para solidificar seu lugar nesta hierarquia social. Essa discrepância sugere a necessidade de conversas mais profundas sobre masculinidade e vulnerabilidade.

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    Além disso, o fator econômico do movimento dos legendários é problemático, pois não é acessível a todos, criando uma exclusão social. O movimento favorece homens brancos, heterossexuais e de classe média alta, enquanto marginaliza outras identidades. É importante discutir a necessidade de um novo pacto de masculinidade que promova escuta e vulnerabilidade em vez de reforçar estereótipos e estruturas sociais que têm resultado em sofrimento e até suicídio entre os homens.

Mind Map

Video Q&A

  • O que é o movimento legendários?

    Um movimento que busca transformação espiritual exclusivamente para homens.

  • Quais são as críticas ao movimento legendários?

    O movimento pode reforçar estereótipos patriarcais e excluir a empatia e a vulnerabilidade dos homens.

  • Qual é a proposta dos legendários?

    A proposta é ajudar homens a se reconectarem com eles mesmos e encontrarem propósito na vida.

  • Por que a separação de gênero é problemática segundo o vídeo?

    A separação perpetua a ideia de masculinidade em isolamento e exclui a colaboração entre gêneros.

  • Como o movimento legendários trata questões sociais?

    O movimento ignora as desigualdades sociais, favorecendo principalmente homens brancos e de classe média.

  • Qual o papel da fé no movimento legendários?

    A fé é utilizada para fortalecer a masculinidade, mas questiona-se se isso é realmente necessário.

  • O que os homens realmente precisam segundo o psicólogo?

    Os homens precisam de mais escuta, abertura e vulnerabilidade compartilhada.

  • O movimento legendários é acessível a todos?

    Não, é considerado um movimento elitista, devido aos custos envolvidos.

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    Hoje a gente vai falar sobre um
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    movimento que tem ganhado muito espaço
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    no Brasil, que se chama
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    legendários. Que é isso? É um movimento
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    que se propõe a uma transformação
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    espiritual para homens e só para homens
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    e que tá assim ganhando fôlego. Tem
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    famosos
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    influencers, gente rica. Olhe, tá todo
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    mundo entrando pros legendários. Mas
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    quando a gente olha esse movimento mais
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    de perto, talvez ele se mostre um pouco
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    mais complexo do que parece e numa certa
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    medida até problemático. Quer entender
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    do que que eu tô falando? Eu sou Marcos
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    Lacerda, psicólogo, e esse é mais um Nós
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    da questão. Vamos
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    juntos. A proposta dos legendários é uma
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    proposta simpática. Olhando assim à
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    primeira vista, é uma proposta
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    simpática. Ela pretende ajudar homens a
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    se reconectarem com eles mesmos, a
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    encontrarem o propósito de vida e a se
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    robustecerem com a própria fé. Em
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    síntese, seria esse o propósito dos
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    legendários. Isso acontece através de
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    encontros, de trelhas que são feitas
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    aonde eles vão e sobem à montanha e vão
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    para algum lugar isolado, apenas homens
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    e lá ficam, tá? na primeira camada, né,
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    na primeira página do livro. Isso parece
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    bem legal e bem interessante. O problema
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    e que talvez seja sobre isso que a gente
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    precisa discutir um pouco, é que este
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    projeto de
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    legendário parece querer resgatar no
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    final das contas um modelo de homem que
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    felizmente, e eu vou sublinhar,
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    felizmente tem deixado já de existir na
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    nossa sociedade. E antes de você jogar a
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    pedra em mim, para, bebê, quê? Para e
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    aguenta a mão pra entender qual é a
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    minha lógica de raciocínio e no final
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    você vê se concorda ou não. Se concordar
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    você bota um gostei. Se não concordar
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    bota um gostei. Simples assim. Quando eu
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    me proponho a que a gente mergulhe mais
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    profundamente nas subcamadas da camada
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    superficial a que se propõe os
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    legendários, porque a coisa já começa
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    pelo nome legendário, é uma lenda,
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    né? Este homem que é legendário, que é
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    uma lenda, este homem legendário, ele é
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    um herói, ele é o forte, ele é o
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    caçador, ele é o inquebrantável, aquele
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    que não se parte por nada. Ele é o
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    provedor, ele é o macho alfa,
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    né? Ele é o macho alfa revestido de
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    muita fé em Deus, mas é o macho alfa.
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    Lhe parece familiar? Pois é. É porque
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    esse
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    modelo é antigo, repete a ideia
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    patriarcal que desde que o mundo é mundo
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    e que a história se entende enquanto
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    história, tá aí posta a nossa mesa. Esse
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    homem que é tomado por Deus, que
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    inclusive na nossa visão é um Deus pai,
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    um Deus masculino, um Deus forte, né?
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    Porque poderia ser a deusa, né? Eu
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    preferiria, mas tudo bem. Vamos lá que
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    seja. Essa coisa do Deus Pai, ele é
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    tomado disso para ser esse patriarca,
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    né, que levará a sua família adiante. E
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    aí você deve me perguntar: "E qual é o
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    problema disso tudo, gente? Qual é o
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    problema da gente retomar esse homem
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    forte? É porque esse modelo ele além de
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    imporaria, né? Tem os que tão por cima e
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    os que estão por baixo. E adivinha quem
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    tá por
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    baixo? As mulheres ou qualquer coisa que
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    se aproxime do feminino. Embora isso não
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    seja posto dessa forma, né? Eu tô
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    fazendo uma análise mais crua da coisa.
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    Não, não. A coisa ser colocada como
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    complementar. Imagina esse dominador vem
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    para se complementar com a mulher, mas
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    ela fica certamente abaixo. Por que que
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    nós não temos legendários para mulheres?
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    Bom, quando nós olhamos pra Bíblia, ela
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    nos fala que quem edifica a casa é a
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    mulher, mas o responsável por governar a
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    casa é o homem. A nossa sociedade tem
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    visto famílias aos milhares sendo
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    destruídas, não porque muitas vezes
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    falta uma mulher para edificar, mas
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    porque falta um homem para governar. O
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    homem sobe na montanha para que ele
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    aprenda como governar sua casa, como ser
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    a pedra angular, a cabeça que vai
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    distribuir o peso e que vai conseguir
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    carregar a mochila quando o fardo começa
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    a ficar pesado para a família. Por isso
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    que homens precisam dessa experiência,
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    ainda mais do que as mulheres. Mais do
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    que isso da hierarquia com relação à
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    mulher, a hierarquia dentro do próprio
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    grupo masculino. Porque o legendário, a
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    ideia do
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    legendário, exclui e afasta do homem um
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    encontro com a fragilidade, com a
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    sensibilidade, com a
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    doçura, com o medo, com o poder e com o
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    saber perder, com o poder e saber se
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    quebrar, com o poder e saber não
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    suportar. Pois é, não dá para eu ser uma
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    lenda, entende? Ou até dá, mas eu vou
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    pagar um preço por ser uma lenda e a
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    sociedade vai resgatar e manter ou
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    fixar, se quiser, estereótipos antigos.
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    E aí é que vem a pergunta que mais me
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    preocupa quando eu vejo esse movimento
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    todo dos legendários. Que tipo de homem
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    este movimento tá formando, despertando,
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    acordando? um homem mais empático, um
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    homem mais aberto ao diálogo, um homem
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    mais
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    sensível, um homem mais caridoso, um
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    homem mais disposto à
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    negociação ou apenas um homem mais
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    endurecido, que aprendeu a vestir a
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    armadura da
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    religiosidade para exercer e marcar um
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    lugar que ele sempre, no final das
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    contas, ocupou na sociedade. Eu
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    honestamente tenho muita preocupação com
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    esse tipo de ensinamento, porque na
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    contramão do que se pensa, eu espero que
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    os homens sejam cada vez mais afetivos,
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    cada vez mais maleáveis, cada vez mais
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    plásticos, no sentido de serem capazes
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    de se amoldar mesmo como uma massinha
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    plástica que a gente pode, ah, mas aí eu
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    vou ser modelado pelas mulheres para
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    bebê.
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    Não, você vai ser modelado por você,
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    pela vida, pelos
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    acontecimentos. Agora, um vaso depois
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    que vai pro forno e a argila queima é
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    difícil mudar de forma, né? Então esse
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    vaso quebra com alguma facilidade, racha
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    também, porque nós homens sofremos, não
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    dá mais para manter essa ideia de que a
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    gente é uma lenda, porque a gente
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    definitivamente não é uma lenda, né?
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    Outro ponto que vale não ser ignorado
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    com relação aos legendários, que valeria
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    mesmo ser discutido, é que não é um
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    movimento para todo mundo, não, tá? Como
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    assim? Quem quiser pode participar.
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    Pode não. Para você participar de um
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    retiro desse, você tem que desembolsar
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    uma boa grana. E não é uma grana que
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    todo mundo tem no orçamento para
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    desembolsar, para passar um final de
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    semana lá na montanha se robustecendo de
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    fé com outros homens e voltar uma lenda
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    viva não e transformada, né?
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    Desculpe, eu rio que a parte que eu mais
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    gosto é a ideia da transformação. Como
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    assim? Você não acredita que Deus pode
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    transformar? Acredito de fato. Mas as
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    transformações propostas por Deus nunca
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    são transformações assim: "Toma essa
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    grana, passa um final de semana na
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    montanha e volta transformado, né?"
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    Bom, Jesus passou 40 dias no deserto, tá
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    passando fome e sede, sendo tentado pelo
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    Satanás e não desembolsou nenhum tstão
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    por isso, tá? Ah, mas imagina que
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    absurdo. Para montar toda uma estrutura
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    dos legendários, a gente tem um custo,
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    tem uma grana para gastar. Tem. É
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    verdade. E é isso que eu tô dizendo. É
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    um movimento de elite, não é para todo
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    mundo, não. A prova de força do Cristo
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    no deserto era para qualquer um. Quem
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    quisesse ir ia, não tinha que pagar
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    nada, não. Era só passar lá e suportar.
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    Então, como é essa questão que a gente
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    tá fazendo de conta que não tá vendo de
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    que esse movimento, embora envolto na
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    ideia da religiosidade da fé, traz
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    também um corte social, né? Ou seja, é
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    um movimento voltado basicamente para
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    homens, em sua maioria branca,
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    heterossexuais e de classe média, média,
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    média alta, tenha dó. Se for diferente
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    disso, você não vai virar lenda. Se você
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    for um preto da periferia, pouco
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    provável que você vire uma lenda. Se
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    você for um gay de fé e crédulo no
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    Cristo, pouco provável que você vira uma
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    lenda também, né? E possa ser um
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    legendário. Então, acho que são coisas
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    pra gente pensar um pouco, tá? Outra
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    coisa que me incomoda profundamente, que
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    eu acho que deveria ser repensada, é
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    essa ideia antiquada, na minha visão, de
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    separar os gêneros. Ou seja, é um retiro
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    só para homens. Por que esses homens, ao
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    que parece, pelos legendários,
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    desenvolvem melhor a fé e a
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    espiritualidade deles sem as mulheres,
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    né? As mulheres, essas como sempre as
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    culpadas por termos perdido o paraíso,
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    né? Se o paraíso fosse só de homens, não
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    é? A gente era obediente, não teria
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    comido a fruta, não teria caído na
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    tentação. Pois então, falando sério
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    mesmo, vocês acham minimamente razoável
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    que homens para se robustecerem de fé,
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    para se tornarem algo mais interessante,
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    precisam mesmo ser separado das
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    mulheres? Porque homens e mulheres não
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    poderiam fazer isso de forma conjunta?
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    Porque o que faz parecer é que
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    masculinidade só pode ser afirmada entre
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    iguais. Isto é coisa de homem, aquilo é
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    coisa de mulher. E aí, novamente, atrás
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    dos legendários tem uma ideologia, uma
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    ideologia que separa homens de mulheres
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    e os coloca em lugares absolutamente
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    distintos. E diferente do que muita
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    gente pensa, isso não é
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    empoderamento, isso é
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    isolamento, isto é
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    segregação. Segregação do outro e
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    autossegregação na medida em que eu
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    aparto o meu grupo do outro grupo. A
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    gente precisa sim falar do sofrimento
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    dos homens, do como muitos homens estão
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    perdidos, do como a masculinidade vive
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    uma grande crise, do como o maior número
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    de suicídios na nossa sociedade é feita,
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    praticada por homens. Isso tudo a gente
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    precisa realmente conversar. Mas isso
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    não pode ser feita, essa discussão a
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    partir da ideia de trincheiras
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    espirituais ou de uma restauração de uma
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    honra masculina. Porque se você
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    observar, sabe por o maior número de
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    suicídios acontece entre os homens?
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    Diferente do que eu vejo algumas pessoas
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    dizendo, que é porque as mulheres já
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    ocuparam um lugar grande demais e o
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    homem tá soterrado, humilhado, ó, pobre
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    coitado. Até parece, né? Não. Os homens
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    se matam muito mais pela estrutura
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    social que o patriarcado e o machismo
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    cria. É difícil para burro ser homem. O
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    que se espera de um homem é algo
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    desumano. É esse o meu medo, que os
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    legendários acabem reforçando isso que
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    se espera de um homem e que faz com que
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    muitos tirem a própria vida. Porque não
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    dá, tenha dó. Você não pode brochar,
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    você não pode falhar, você não pode não
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    ter dinheiro, você não pode ser, você
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    não pode, você é a lenda. E a lenda,
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    como o próprio nome diz, vence,
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    conquista, ganha, domina, leva a
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    prolifa. Gente, mas não tá na hora da
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    gente começar a parar e dizer: "Os
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    homens estão adoecidos. Os homens estão
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    se matando. Os homens não aguentam mais
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    esse papel e não vai ser separando o
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    homem de mulher e botando um durante
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    quatro dias no alto da montanha e vai
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    voltar transformado e mudou o mundo. Não
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    vai voltar um homem que vai se cobrar
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    muito mais coisas que muitas vezes ele
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    não vai poder dar nem a ele mesmo.
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    Porque pare para pensar, um homem quando
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    não consegue prover pra família dele,
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    ele é visto pela sociedade de uma
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    determinada maneira. E a sociedade
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    inclua-se nisso as mulheres, tá? É, ele
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    é visto como alguém menor, alguém
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    fracassado, alguém definitivamente
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    menor. Uma mulher que não consiga prover
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    a própria casa, ela não é vista da mesma
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    forma. Agora, esse tipo de benéce, entre
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    aspas, é culpa das mulheres? É culpa do
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    feminismo ou é culpa do patriarcado que
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    se espera um determinado papel do homem?
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    A estrutura social espera um determinado
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    papel do homem. E eu temo, honestamente,
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    e trago essa reflexão para pensarmos
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    juntos, que essa ideia do movimento dos
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    legendários só reforce isso, que no
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    final das contas, tirando a parte da fé,
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    acaba sendo tão venenoso pros homens.
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    Porque enquanto psicólogo, eu lhe digo
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    sem medo do erro. O que eu tenho certeza
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    que os homens de hoje precisam não é de
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    mais performance, não é de mais
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    masculinidade. O que os homens de hoje
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    precisam é de mais escuta, é de mais
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    abertura, é de mais
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    vulnerabilidade
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    compartilhada e compartilhada com os
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    seus pares homens, mas igualmente com as
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    mulheres. A gente precisa desenvolver na
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    sociedade um novo pacto de masculinidade
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    e não o velho pacto disfarçado agora com
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    uma nova roupagem de fé,
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    liderança e de lenda. Não precisa a
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    gente pedir um novo pacto de
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    masculinidade. Ou isso ou nós homens
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    vamos continuar nos matando. Eu
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    realmente acredito que os legendários
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    podem até tocar em dores reais de muitos
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    homens, mas eu sou firme em acreditar
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    que apresenta soluções muito
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    simplistas para questões que têm uma
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    profundidade muito maior. E é aí que
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    está o risco, porque quando discursos
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    como dos legendários oferece acolhimento
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    ao mesmo tempo em que reforça estruturas
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    excludentes, a gente precisa ter a
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    coragem de se fazer a pergunta: a quem
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    isso de fato tá
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    servindo verdadeiramente?
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    Pense
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    nisso. Tchau. Até a próxima.
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