Ricardo Antunes: Trabalho intermitente e o trabalhador hoje no Brasil

A proposta económica activa no Brasil envolve aproximadamente 100 milhões de pessoas, refletindo a força de trabalho do país. A classe trabalhadora surgiu em um contexto de precarização, iniciando-se após a abolição da escravatura, o que levou à formação do operariado no final do século XIX e início do século XX.

As classes dominantes, tradicionalmente brancas e escravocratas, passaram a empregar imigrantes de várias nacionalidades. O trabalho assalariado começou a se desenvolver, especialmente em cidades como São Paulo e Rio, onde uma massa de trabalhadores urbanos e rurais começou a ser constituída, com um foco inicial nas fazendas de café e na indústria.

No século XX, o Brasil viu uma explosão industrial, especialmente durante os governos de Getúlio Vargas e a ditadura militar, o que levou à intensificação da exploração do trabalho. Comparado a países centrais, como os EUA e a Europa, a classe trabalhadora brasileira enfrentava uma superexploração intensa, com jornadas prolongadas e baixos salários.

Atualmente, há uma transformação nos serviços, impulsionada pela privatização e a emergência do setor digital e informacional. A crescente exploração desse setor tem levado a um novo tipo de proletariado, caracterizado por uma qualidade de trabalho precário e a necessidade de múltiplos empregos para garantir a sobrevivência.

O trabalho intermitente e a precarização tornaram-se características do mercado de trabalho contemporâneo, com muitos trabalhadores enfrentando desafios financeiros e condições de trabalho insatisfatórias. Isso inclui trabalhadores de setores variados, desde atendimento ao cliente até profissões de saúde.

O emprego intermitente oferece autonomia limitada, já que os trabalhadores não têm garantias de chamadas ou pagamento, resultando em insegurança financeira. A comparação com o trabalho assalariado tradicional revela uma deterioração das condições de trabalho e dos direitos trabalhistas.

A reforma trabalhista e a terceirização são vistas como retrocessos. A flexibilização das leis trabalhistas leva à precarização e à exploração dos trabalhadores, além de penalizar demandas judiciais e colocar em risco os direitos laborais históricos já conquistados.

O desemprego no Brasil é alarmante, com milhões de pessoas em situações de desalento. A informalidade e a precarização do trabalho aumentam, afetando principalmente os jovens. A falta de políticas adequadas para o desemprego agrava a situação.

A interseccionalidade nas lutas trabalhistas traz à tona as condições específicas vividas por grupos marginalizados, como mulheres e pessoas negras, que enfrentam discriminação e maiores dificuldades no mercado de trabalho. A organização desses grupos é essencial para a luta por direitos trabalhistas e sociais.