Histórias da Genética no Brasil - [completo]

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https://www.youtube.com/watch?v=lQBMWRdMFl8

Resumo

TLDRA genética no Brasil começou com esforços esporádicos em instituições como o Instituto Agronômico de Campinas e a ESALQ, onde professores como Krug, Brieger e Dreyfus lideraram pesquisas significativas. Krug foi um pioneiro em melhoramento de eucalipto e genética de milho, enquanto Brieger trouxe uma nova abordagem botânica e evolutiva, usando orquídeas para estudar especiação. Dreyfus destacou-se pela sua habilidade comunicativa e foi vital para a popularização da genética. O envolvimento de Dobzhansky, que introduziu conceitos modernos, juntamente com o apoio da Fundação Rockefeller na década de 40, moldou a genética humana no Brasil, estabelecendo laboratórios e formando novos geneticistas. A trajetória é marcada pelo intercâmbio de conhecimentos entre o Brasil e a Europa, resultante da fuga de cientistas do nazismo, que contribuíram para o desenvolvimento dessa ciência no país.

Conclusões

  • 📚 A genética começou no Brasil em pontos esporádicos, como escolas de Agronomia.
  • 🌱 Krug teve papel fundamental no melhoramento de eucalipto e milho.
  • 📖 Brieger trouxe uma abordagem multidisciplinar e focou na história evolutiva.
  • 💡 Dreyfus foi um grande comunicador, essencial na divulgação da genética.
  • 🌍 Dobzhansky fundou a escola brasileira de genética e formou muitos doutores.
  • 💰 A Fundação Rockefeller financiou e apoiou a expansão da genética no Brasil.
  • 🦟 Pavan se destacou na pesquisa com Rhynchosciara e fez descobertas em cromossomos.
  • 🎓 Newton Freire-Maia é considerado o fundador da genética humana no Brasil.
  • 🔬 A genética humana começou a se estruturar no Brasil amplamente após os anos 40.

Linha do tempo

  • 00:00:00 - 00:05:00

    O vídeo aborda a história e a evolução da Genética no Brasil, destacando o início que ocorreu em instituições de ensino como o Instituto Agronômico de Campinas e a ESALQ de Piracicaba. Inicialmente, as aulas de Genética eram orais e não haviam experimentações práticas na área, com professores renomados como Brieger e Krug sendo citados pela sua contribuição para a disciplina mesmo antes da formalização de um departamento específico.

  • 00:05:00 - 00:10:00

    Durante o relato, menciona-se a presença influente do professor Brieger, que trouxe a Genética à tona em Piracicaba. A apresentação do trabalho de Mendel é discutida, e como a colaboração entre Brieger, Dreyfus e Krug ajudou a estabelecer os fundamentos da Genética no Brasil, promovendo um grande avanço no conhecimento e aplicação da Genética agrícola.

  • 00:10:00 - 00:15:00

    A estrutura das instituições de ensino é referenciada, como a antiga casa do milionário Glete, que serviu como sede para diversas ciências, incluindo a Genética. O professor Dreyfus é citado como um dos mais brilhantes e acessíveis, que contribuiu para a popularização da Genética através de suas palestras e uma didática excepcional.

  • 00:15:00 - 00:20:00

    O professor Dreyfus também teve um papel crucial na luta contra o Lysenkismo durante um período em que a Genética estava sendo atacada na União Soviética, reconhecendo a importância da Genética clássica e suas aplicações em pesquisas. Destacam-se as interações pessoais e as relações de aprendizado que se formaram nesse ambiente acadêmico.

  • 00:20:00 - 00:25:00

    A Fundação Rockefeller é introduzida como um elemento central no financiamento e desenvolvimento da Genética no Brasil durante os anos 40. O vídeo destaca como essa fundação ajudou a estabelecer e expandir a pesquisa genética no país, conectando cientistas brasileiros com suas contrapartes nos Estados Unidos.

  • 00:25:00 - 00:30:00

    A vinda do professor Dobzhansky é enfatizada como um marco, sendo ele um importante teórico da Genética e evolução. Sua presença e ensinamentos moldaram a escola brasileira de Genética, ajudando os pesquisadores a compreender e aplicar conceitos genéticos em trabalhos de campo.

  • 00:30:00 - 00:35:00

    O impacto de Dobzhansky na pesquisa de campo, como a comparação entre ambientes tropicais e temperados, revela a curiosidade e a capacidade de adaptação em um novo contexto. Sua forma acessível e generosa de interagir com jovens cientistas contribuiu para a formação de uma nova geração de geneticistas brasileiros.

  • 00:35:00 - 00:40:00

    As discussões em torno da Genética Humana são apresentadas, com o foco no papel de figuras como Newton Freire-Maia, que se destacou pela sua contribuição ao desenvolvimento da Genética Humana no Brasil. A conexão com o ambiente social e político da época, em especial sobre os impactos do nazismo, é mencionada.

  • 00:40:00 - 00:45:00

    Como resultado, a genética de drosófilas se torna um foco importante, com pesquisadores se especializando nesse campo, permitindo a construção de uma base sólida de conhecimento que poderia, então, ser aplicada à Genética Humana no futuro. A trajetória de Pavan é destacada, mostrando suas investigações sobre a Rhynchosciara, que se tornaram fundamentais para a compreensão dos cromossomos e seus comportamentos.

  • 00:45:00 - 00:51:59

    Por fim, o vídeo ilustra como a colaboração, camaradagem e o espírito positivo de líderes acadêmicos como Pavan, Dreyfus e Dobzhansky contribuíram para moldar o futuro da pesquisa genética, estabelecendo um legado de aprendizado e descoberta nas ciências biológicas em geral.

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Vídeo de perguntas e respostas

  • Quem foram os principais pioneiros da genética no Brasil?

    Os principais pioneiros foram os professores Krug, Brieger e Dreyfus, que estabeleceram as bases da genética no país.

  • Como a Fundação Rockefeller contribuiu para a genética no Brasil?

    A Fundação Rockefeller ajudou a financiar e desenvolver laboratórios de genética e promoveu a formação de pesquisadores no Brasil.

  • Qual o impacto de Dobzhansky na genética brasileira?

    Dobzhansky foi crucial na introdução da genética como disciplina científica, fundando a escola brasileira de genética e formando vários doutores na área.

  • O que Brieger trouxe para a genética no Brasil?

    Brieger introduziu conceitos modernos de genética e evolutivos, sendo um importante orientador de doutorado.

  • Qual é a importância de Pavan na genética?

    Pavan foi fundamental na pesquisa com Rhynchosciara e na construção do campo da genética, trazendo inovações importantes.

  • O que é a Rhynchosciara?

    Rhynchosciara é uma mosca com cromossomos grandes usados em pesquisa genética por Pavan.

  • Quem é Newton Freire-Maia?

    Freire-Maia é considerado o fundador da genética humana no Brasil.

  • Qual era a abordagem de Dreyfus à ciência?

    Dreyfus era um excelente comunicador e didata, mas não era um pesquisador experimental.

  • Como a Genética humana se desenvolveu no Brasil?

    A Genética humana se desenvolveu principalmente através de iniciativas de professores e apoio financeiro de fundações.

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Legendas
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    Começou em diversos pontos. E a gente sempre cita os pontos clássicos:
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    O Instituto Agronômico de Campinas, a ESALQ de Piracicaba, a Escola de Viçosa.
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    Começou nas escolas de Agronomia
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    e nos institutos de pesquisa que havia na época, entende?
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    Começou assim, esporádico. Em pontos esporádicos.
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    Olha, a Genética no Brasil já era lecionada por livro.
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    Existia em Piracicaba, por exemplo, o prof. Salvador de Toledo-Piza,
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    prof. Edgard do Amaral Graner, eles davam aulas de Genética.
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    Não existia um Departamento de Genética. Era o departamento de Fitotecnia, Zoologia,
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    E eles davam aula de Genética, mas por livro. Não tinha experimentação em Genética.
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    Eu sei também que havia um professor, em Belém do Pará,
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    chamado prof. Condurú.
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    Não cheguei a conhecer.
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    Ele escreveu um livro sobre Genética, em 1916-1917.
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    Quer dizer, ele tá bem adiantado no tempo. Eu tenho esse livro, até.
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    Mas é uma coisa bem primitiva a respeito de Genética.
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    Genética, Genética, mesmo,
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    tinha em Piracicaba, o Brieger,
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    que trabalhava com Genética de milho,
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    e em Campinas,
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    o Krug e o Alcides Carvalho.
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    O Krug trabalhava no Instituto Agronômico de Campinas
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    e mesmo antes da chegada do Dobzhansky,
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    estava fazendo trabalhos extraordinários.
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    Mais de aplicação,
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    mas que funcionavam maravilhosamente bem.
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    Apesar desse nome estrangeiro, ele é brasileiro.
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    Só os pais que são alemães.
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    Ele fez uma parte dos estudos de graduação no exterior.
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    E ele veio com todo o cartaz e ficou até diretor
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    do Instituto Agronômico de Campinas
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    e criou essa seção de Genética.
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    O Krug é um sujeito brilhante.
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    Fez vários trabalhos, foi o melhorador do eucalipto.
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    O eucalipto que veio da Austrália dava eucaliptos grandes.
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    Então ele teve a ideia:
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    cortou todos os pequenos e deixou só os grandes.
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    Uma ideia super simples. Genética é simples.
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    O Krug eu conheci só de ver em reuniões,
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    não tive contato mais próximo.
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    Eu tive contato mais próximo com o Alcides Carvalho,
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    que foi o sucessor do Krug na área do café.
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    Um grande geneticista e melhorista
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    do café no Brasil, o Alcides Carvalho,
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    que é muito reverenciado e muito considerado, também.
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    Eu assisti uma coisa muito interessante.
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    Ele foi o introdutor do milho híbrido no Brasil.
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    E foi um sucesso.
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    O brasileiro é muito atento a sucesso na agricultura.
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    O milho pequeno e mau produtor
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    e o outro milho produzindo 80% a mais.
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    O que eu sei do Krug é que era uma pessoa
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    extremamente metódica, como todo germânico.
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    Inclusive, acompanhei bem o final.
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    Ele fez uma operação no coração e faleceu.
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    Naquele tempo, era muito difícil sobreviver
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    de alguma coisa no coração, não é?
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    Mas era um cara tão metódico que não queria tirar os óculos
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    para ver o que ia acontecer se ele morresse.
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    Olha a ideia do cara!
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    E escolheu música, se ele morresse, para o enterro.
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    O Krug já era bem mais velho, ele é quem
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    dirigia toda a parte de Genética em Campinas.
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    Ele aprendeu Genética nos Estados Unidos.
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    O Brieger veio da Alemanha.
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    Acho que a Genética começou no Brasil mesmo foi com o prof. Brieger.
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    O Brieger era daquele grupo de judeus
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    alemães que fugiram de Hitler.
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    Então, a Genética brasileira deve muito a Hitler, porque...
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    ... deve muito de certa maneira, de ter perseguido o meu chefe, não é?
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    E ele mesmo dizia isso: que bom
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    que ele me perseguiu, porque eu saí de lá.
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    Mas ele não gostou no começo. Ele ficou muito bravo...
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    ...quando ele soube que estava na lista dos que iam para o campo de concentração.
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    Então ele fugiu pra Suíça, da Suíça pra Inglaterra.
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    Da Inglaterra, no ano seguinte,
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    ele recebeu um convite.
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    Quem seria o professor de Genética, disponível
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    para vir ao Brasil, ser professor em Piracicaba?
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    Na Luiz de Queiroz?
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    Tem um aqui, especial, porque ele foi aluno do Correns, inclusive.
  • 00:05:22
    O Mendel fez o trabalho dele em 1866 e foi um trabalho que ficou esquecido.
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    Ele publicou numa revista que não era importante
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    e era a primeira vez que se usa estatística
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    junto com biologia, atrapalhou um pouco a compreensão do trabalho.
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    E esse trabalho veio à tona em 1900, quando três pesquisadores ao mesmo tempo,
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    o De Vries, o Tschermak e o Correns
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    conseguiram detectar a mesma coisa que o Mendel.
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    Então, o Brieger é praticamente o F2.
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    O Mendel é o pai, o F1 é o Correns e o Brieger foi o F2.
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    Ele era um indivíduo multidisciplinar. Ele tinha noções várias de muitas coisas.
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    Mas ele basicamente era botânico.
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    Ele se interessava mais por especiação, por taxonomia numérica,
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    e por evolução vegetal.
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    Ele aproveitou a estada dele aqui principalmente
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    para estudar a evolução nos trópicos.
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    Que foi uma grande contribuição que ele deu, entende?
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    Agora, ele tinha um pouco de tudo, ele era um pouco estatístico,
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    e era naturalmente geneticista também. Mas a grande paixão dele era a evolução.
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    Ele aproveitou as orquidáceas como modelo
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    para estudar evolução nos trópicos.
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    E o Brieger falou: o que você quer fazer? Pra pesquisa?
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    Eu falei: quero trabalhar com abelha.
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    Ele falou: não entendo nada de abelha, mas pode.
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    E aprenda isso pra quando você for chefe:
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    Sempre premie a boa ideia, mesmo que você não entenda.
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    Você vai depender da criatividade dele, tá muito bem.
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    Ele não entendia nada de abelha, mas me deixou fazer
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    inteirinha a tese, de que me orgulho até hoje.
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    O Brieger, pra mim, tem uma importância especial.
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    Primeiro, porque foi meu orientador de doutorado.
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    Segundo, porque foi o professor com quem eu mais briguei na vida.
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    Mas sempre acabávamos fazendo as pazes.
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    No início, eu tinha muito receio de trabalhar
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    com ele porque ele era uma autoridade
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    e eu era um iniciante.
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    Mas a gente começou a conviver bem e ele
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    valorizava muito quando a gente progredia,
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    quando a gente mostrava que levava a sério.
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    Enfim, como é até hoje.
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    Mas sob certos aspectos, ele era uma pessoa difícil, sabe?
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    Não era muito fácil, não.
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    A gente tinha que tomar cuidado senão ele atritava com a gente
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    de modo que tinha épocas em que a gente ficava pisando em ovos, sabe?
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    Isso eu tenho que dizer.
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    Mas ele no fundo era um homem de bom coração, eu acho.
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    Ele era muito franco. Não admitia certas coisas.
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    Comigo mesmo aconteceu um caso.
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    Ele dizia: férias de cientista, de pesquisador, é congresso.
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    Ele não permitia. Naquele tempo catedrático era deus, né?
  • 00:08:31
    Ele dizia: não, vocês não vão ter férias. Mas trinta dias de férias é normal...
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    Não, aqui na Genética não tem. Vocês vão num congressinho, na SBPC...
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    ... aí vocês têm uma semana, quinze dias...
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    Passaram lá pelo departamento e pelas mãos do prof. Brieger
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    vários geneticistas que eram melhoristas, como a gente diz,
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    que trabalhavam com melhoramento de plantas.
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    E também geneticistas que depois se dedicaram a outras áreas.
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    Tudo tem uma fonte inicial que é o Brieger.
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    Nós consideramos que Piracicaba tem duas épocas:
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    pré-Brieger e pós-Brieger.
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    Quando ele veio, ele conheceu o Dreyfus, logo no primeiro dia.
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    E ele já conhecia de nome o Krug, do Instituto Agronômico de Campinas.
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    Então eles fizeram praticamente um triunvirato,
  • 00:09:32
    onde Brieger, Dreyfus e Krug iniciaram a
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    formação de recursos humanos no Brasil.
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    Então os três, Brieger, Dreyfus e Krug
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    são os iniciadores da investigação em Genética no Brasil.
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    A Glete era a casa de um milionário.
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    Que faliu na crise de 1930 e a casa foi
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    entregue pro governo como pagamento de dívidas.
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    Era uma casa de alto luxo.
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    O andar térreo era todo envidraçado, só que não era vidro, era tudo cristal.
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    Tudo cabia. No primeiro andar tinha Mineralogia,
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    no segundo andar tinha Zoologia e Fisiologia,
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    no terceiro andar tinha a Genética.
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    Os professores, naquela época,
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    tinham vindo para a Universidade de São Paulo
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    em decorrência do nazismo.
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    Mas de todos esses professores, que eram cientistas consagrados daquela época,
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    o mais brilhante evidentemente era o professor Dreyfus.
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    Então eu vou assitir a palestra dele e as palestras que o Dreyfus dava,
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    em qualquer lugar aqui em São Paulo sempre eram repletas de gente.
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    E a Biblioteca Municipal estava repleta e
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    eu esperei até o final da palestra dele...
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    ...e fui conversar com ele.
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    Tinha uma fila, ele era muito acessível, tinha uma porção de gente,
  • 00:11:39
    eu esperei, esperei, eu queria fazer com mais folga,
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    esperei, esperei, esperei...
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    Chega numa hora em que eu pude falar com ele.
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    Daí ele me perguntou: qual é o seu problema?
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    Eu não sabia direito como entrar na conversa.
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    Eu disse: olha, eu queria que o senhor me informasse o
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    que eu devo fazer para fazer o que o Pasteur fazia.
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    O meu "Pasteur" não foi lá muito bem pronunciado.
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    Que é isso?
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    Eu digo: essa fita aí que está passando, do Paul Muni...
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    Ah, o Louis Pasteur! Muito bem, é esse mesmo...
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    O Dreyfus era um médico, mas era um
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    indivíduo com duas qualidades fantásticas:
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    primeiro, muito inteligente,
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    e segundo, muito bom comunicador.
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    Então ele ficou famoso pelas palestras que
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    dava em São Paulo e fora de São Paulo,
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    sobre ciência.
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    Ele tinha essa capacidade de divulgar
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    a Genética sem ter feito Genética.
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    E outra coisa: o Dreyfus era um desse tipo tarado
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    que quando aprendia alguma coisa, ele
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    explicava pro engraxate, pro ascensorista
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    subindo no ascensor, no elevador,
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    e abria a porta e o sujeito dizia: "preciso descer, doutor"...
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    e ele: "tá bom..."
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    Pessoalmente, era extremamente simpático.
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    Muito amável, divertido.
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    Dedicadíssimo a todo o pessoal do laboratório.
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    Desde o servente até a primeira-assistente,
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    que era a Rosina,
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    ele era solteiro, era como se fosse a família dele.
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    Era um desses professores que quando a gente errava
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    ele fazia a crítica, mas uma crítica construtiva,
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    olha, você tá ainda numa fase que precisa fazer isso,
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    fazer aquilo, pra não cometer esse tipo de gafe, de erro.
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    Isso dava pra gente um estímulo que era uma situação fantástica.
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    Ele, sem dúvida, foi um grande professor.
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    Quando eu estava lá, em 1951, em São Paulo,
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    foi a época em que se desencadeou na União Soviética
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    um processo de caça aos geneticistas
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    porque tinha um charlatão lá,
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    o Lysenko, Trofim Lysenko,
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    que resolveu que a Genética era uma ciência burguesa.
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    O Lysenko era um cara ignorante, embora politicamente muito importante,
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    o Stalin dava todo o apoio a ele,
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    ele era o dono da Genética e da ciência toda na Rússia.
  • 00:14:51
    Então o Dreyfus estava em pleno
  • 00:14:56
    combate ao Lysenkismo.
  • 00:15:00
    Fazendo conferências, etc.
  • 00:15:05
    E aí ele me convidou pra jantar na casa dele
  • 00:15:10
    o que era uma honra incrível!
  • 00:15:12
    Especialmente pra um jovem que estava iniciando.
  • 00:15:18
    E aí começou a conversar antes da janta,
  • 00:15:25
    e aí veio à tona a história, estava em plena Guerra da Coreia.
  • 00:15:30
    O Danko começou a falar mal dos americanos...
  • 00:15:38
    Não sei como é que se chegou a esse assunto,
  • 00:15:42
    E aí perguntaram pra mim: tão falando que vão enviar
  • 00:15:47
    soldados brasileiros pra lutar na Coreia, ao lado dos americanos.
  • 00:15:54
    Perguntaram pra mim, ou eu disse espontaneamente:
  • 00:15:58
    "se me convocarem, eu vou pro Mato Grosso,
  • 00:16:03
    deserto, mas não vou lutar na Coreia!"
  • 00:16:08
    O Dreyfus era emocionalíssimo,
  • 00:16:11
    se falasse perto dele de Lysenko... Ah, já vinha discussão violenta.
  • 00:16:18
    O Dreyfus ficou uma fera!
  • 00:16:21
    Ele estava em plena luta anti-comunista,
  • 00:16:25
    ele considerou já que isso era uma indicação de comunismo.
  • 00:16:32
    Então começou a me xingar a altos brados,
  • 00:16:37
    e o Pavan também, como você sabe,
  • 00:16:41
    não tem papas na língua.
  • 00:16:45
    No dia seguinte, lá pela hora do café,
  • 00:16:51
    o Brito da Cunha veio falar comigo.
  • 00:16:55
    "Olha, o Dreyfus tá dizendo pra todo mundo que você é comunista, que não sei o quê...
  • 00:17:01
    adepto do Lysenko..." Já tinha extrapolado que eu era lysenkista.
  • 00:17:06
    A história é que o Dreyfus era muito emocional.
  • 00:17:10
    Então, ele chegava no laboratório, e um colega meu,
  • 00:17:15
    também do Rio, que andou por aqui,
  • 00:17:17
    ele dizia: "olha, quando ele chega, eu olho o pescoço dele."
  • 00:17:21
    "Se ele tá com o pescoço duro assim, não chega perto."
  • 00:17:26
    Eu julgava o Dreyfus o melhor professor.
  • 00:17:29
    Ele era um didata excepcional.
  • 00:17:32
    Foi um dos melhores professores que eu tive na vida.
  • 00:17:37
    Mas não entendia nada de ciência experimental.
  • 00:17:42
    Ele nunca foi um experimentalista.
  • 00:17:46
    Ele não entendia nada de fazer pesquisa.
  • 00:17:50
    Então ele pegava um trabalho de um sujeito e contava aquilo
  • 00:17:54
    para você que você entendia na hora tudo o que ele dizia.
  • 00:17:58
    Era fantástico! Tinha uma capacidade didática
  • 00:18:01
    mas ele não tinha capacidade de fazer experiência.
  • 00:18:05
    Na minha opinião.
  • 00:18:07
    Ele nunca foi realmente um cientista.
  • 00:18:11
    Mas ele foi um formador de gente
  • 00:18:14
    espetacular, extraordinário.
  • 00:18:18
    Ele foi o principal responsável pelo desenvolvimento
  • 00:18:22
    da segunda fase da Genética no país, a partir de 1942.
  • 00:18:46
    Nós brasileiros tivemos uma sorte tremenda.
  • 00:18:53
    No início dos anos 40, com a guerra, em plena guerra,
  • 00:19:02
    a Fundação Rockefeller, que tinha grandes quantias de dinheiro
  • 00:19:08
    ajudando a Ásia, a Europa e até parte da África também,
  • 00:19:14
    por razões da guerra não tinha possibilidade de fazer mais nada,
  • 00:19:21
    eles tinham recursos e decidiram ajudar a América Latina.
  • 00:19:26
    Em 1942 vem um representante da Fundação Rockefeller ao Brasil
  • 00:19:35
    e marca uma entrevista com o Dreyfus.
  • 00:19:37
    Ele me convidou pra ir junto. Nós fomos os três:
  • 00:19:41
    o Dreyfus, o Miller e eu.
  • 00:19:44
    Ele expôs tudo pro Dreyfus.
  • 00:19:51
    Olha aqui: "A Rockefeller está interessada em ajudar"
  • 00:19:55
    "o desenvolvimento da ciência no Brasil e na América Latina."
  • 00:20:00
    Diz o Miller:
  • 00:20:04
    "eu acho que no caso do senhor Dreyfus"
  • 00:20:11
    "a coisa mais racional é nós darmos uma bolsa"
  • 00:20:16
    "de um ano, em uma universidade qualquer dos EUA."
  • 00:20:23
    E eu estava todo animado no dia seguinte, venho para o laboratório,
  • 00:20:29
    explico pro pessoal: "O Dreyfus vai pros EUA!"
  • 00:20:32
    "Vai fazer curso!"
  • 00:20:36
    E o Dreyfus chega e diz:
  • 00:20:39
    "Por um ano eu não vou, não."
  • 00:20:41
    "Então vamos fazer uma coisa melhor", diz o Miller,
  • 00:20:45
    "Você passa um ano lá
  • 00:20:50
    e eu mando um professor"
  • 00:20:54
    "um russo que está morando nos EUA"
  • 00:20:58
    e quer vir pra América Central.
  • 00:21:02
    Eu garanto que eu consigo trazê-lo pra cá.
  • 00:21:05
    "Seis meses ele passa aqui."
  • 00:21:08
    Muito bom. Quem é esse personagem?
  • 00:21:14
    Theodosius Dobzhansky!
  • 00:21:17
    Dobzhansky veio dos EUA em 1943.
  • 00:21:23
    Em 1937, ele já era professor na Columbia.
  • 00:21:28
    Em 1936-37 ele publicou aquele livro "Genetics and the Origin of Species",
  • 00:21:34
    É o que a gente chama de livro seminal.
  • 00:21:38
    Sem dúvida, foi o livro mais importante
  • 00:21:41
    publicado na área de evolução
  • 00:21:45
    depois do Darwin.
  • 00:21:48
    E houve outros cinco autores, de diferentes especialidades biológicas,
  • 00:21:55
    que escreveram livros também do mesmo estilo.
  • 00:21:57
    Isso constituiu a chamada Moderna Síntese,
  • 00:22:01
    que veio reabilitar a teoria do Darwin,
  • 00:22:07
    que tinha passado em maus lençóis durante muito tempo.
  • 00:22:12
    O grande mérito de Dobzhansky foi colocar todos
  • 00:22:16
    os fatores de evolução em termos de Genética.
  • 00:22:21
    Ele uniu perfeitamente.
  • 00:22:24
    E hoje sem Genética não se estuda Evolução.
  • 00:22:28
    Ele era um russo radicado nos EUA, estava no Cal Tech.
  • 00:22:34
    Ele veio porque naquela época o Harry Miller, da Fundação Rockefeller
  • 00:22:41
    queria levar o Dreyfus pra pegar um verniz lá nos EUA.
  • 00:22:47
    Mas o Dreyfus achou que ele não devia fazer isso
  • 00:22:51
    porque já estava muito velho pra adquirir um verniz.
  • 00:22:56
    Então ele...
  • 00:22:59
    ...trouxe o Dobzhansky pra cá.
  • 00:23:04
    E a resposta do Dreyfus pra isso:
  • 00:23:07
    "Olha, se é o Dobzhansky que vem pra cá, ótimo,
  • 00:23:10
    eu vou ser a pessoa menos interessada em sair."
  • 00:23:14
    O Dobzhansky era um sujeito excepcional.
  • 00:23:16
    Porque ele era russo, falava um inglês meio atrapalhado,
  • 00:23:20
    chegou aqui e a primeira aula que ele deu
  • 00:23:23
    ele deu em português!
  • 00:23:27
    Esse curso foi outra vantagem enorme
  • 00:23:32
    pra todo mundo e pra mim, especialmente
  • 00:23:37
    foi assistido pelo prof. Brieger, de Piracicaba,
  • 00:23:43
    e o Gurgel, que era assistente dele,
  • 00:23:47
    pelo Krug e Alcides Carvalho, de Campinas,
  • 00:23:52
    por todo o pessoal de pesquisa do Instituto Biológico
  • 00:23:56
    e pelos alunos.
  • 00:23:58
    De modo que criou um vínculo muito grande de amizade.
  • 00:24:06
    Foi importante porque ele estabeleceu
  • 00:24:11
    com os ensinamentos
  • 00:24:14
    porque ele introduziu a Genética pra explicar
  • 00:24:16
    o que era a Genética para aquele pessoal,
  • 00:24:19
    ninguém sabia direito o que era.
  • 00:24:21
    E como se poderia trabalhar experimentalmente com Genética.
  • 00:24:26
    Com isso ele, sem saber,
  • 00:24:29
    fundou a escola brasileira de Genética.
  • 00:24:34
    Ele é o responsável direto pela formação de
  • 00:24:38
    18 doutores brasileiros no campo da Genética.
  • 00:24:43
    O Dobzhansky foi membro da minha banca de doutorado.
  • 00:24:48
    Ele organizou logo aqui um grupo de uns quinze jovens biólogos
  • 00:24:55
    que começaram a desenvolver o programa
  • 00:24:57
    de estudos de drosófila no Brasil.
  • 00:25:00
    A primeira coisa que ele disse,
  • 00:25:03
    foi numa sexta-feira.
  • 00:25:05
    Quando nós podemos fazer uma excursão?
  • 00:25:07
    Quando é que o senhor quer fazer?
  • 00:25:08
    Amanhã!
  • 00:25:09
    Eu falei: tá bom!
  • 00:25:10
    E nós o levamos para a Serra do Mar.
  • 00:25:14
    E ele realmente ficou babado!
  • 00:25:17
    A ideia dele era comparar a evolução
  • 00:25:25
    em ambiente tropical com o ambiente temperado
  • 00:25:29
    como nos EUA, onde ele estava trabalhando.
  • 00:25:32
    Parecia criança em loja de brinquedo.
  • 00:25:38
    Em primeiro lugar, ele era amabilíssimo
  • 00:25:42
    mas era extremamente seletivo.
  • 00:25:44
    Amabilíssimo com as pessoas de quem ele gostava
  • 00:25:48
    com o Pavan e comigo
  • 00:25:52
    ele foi como um segundo pai.
  • 00:25:54
    Ele era muito cordato. Dava-se bem com todo mundo,
  • 00:25:58
    era uma coisa extraordinária.
  • 00:26:00
    ele tinha uma personalidade extraordinária.
  • 00:26:03
    Ele influenciou toda uma geração
  • 00:26:06
    de geneticistas brasileiros
  • 00:26:08
    da qual os maiores expoentes são
  • 00:26:13
    o próprio Pavan e o Brito da Cunha.
  • 00:26:15
    Eu conheci ele muito bem.
  • 00:26:19
    Primeiro, ele era um trabalhador compulsivo.
  • 00:26:24
    Ele não parava um minuto de trabalhar.
  • 00:26:26
    No microscópio, fazendo trabalhos que um
  • 00:26:31
    ajudante poderia fazer, mas ele fazia pessoalmente também.
  • 00:26:35
    O Dobzhansky ficava olhando no microscópio, trabalhando,
  • 00:26:38
    e chegava uma pessoa e ele...
  • 00:26:41
    "Diga... quem é você?"
  • 00:26:44
    "Dick Lewontin, doutor!"
  • 00:26:47
    "Ah... o que você quer?"
  • 00:26:49
    "É... eu tive pensando..." - e diz lá qualquer coisa na Biologia,
  • 00:26:55
    Então ele parava, virava e começava a conversar.
  • 00:26:58
    Ah, isso era o máximo pra nós!
  • 00:27:02
    O Dob parou de trabalhar pra conversar...
  • 00:27:04
    quer dizer, a conversa foi mais importante do que aquilo que ele estava fazendo
  • 00:27:08
    naquele momento.
  • 00:27:11
    Então era uma honra!
  • 00:27:13
    Mas era um cara muito intenso,
  • 00:27:15
    muito trabalhador, como um louco.
  • 00:27:19
    É dele essa frase que ele repete de algum autor
  • 00:27:24
    A pesquisa exige não só inspiração
  • 00:27:28
    mas, principalmente,
  • 00:27:31
    suor.
  • 00:27:33
    E além de ser um grande geneticista
  • 00:27:39
    ele era um grande humanista também. Tinha uma grande cultura geral,
  • 00:27:43
    um grande humanista,
  • 00:27:45
    numa época em que muitos geneticistas se acovardaram,
  • 00:27:51
    ele, não.
  • 00:27:56
    Ele saiu escrevendo livros contra o racismo.
  • 00:28:01
    Dobzhansky passou no laboratório de Avery, MacLeod e McCarty.
  • 00:28:07
    Nesse laboratório,
  • 00:28:10
    o Avery falou pro Dob, que eram muito amigos:
  • 00:28:13
    "Ah, fiz uma experiência..."
  • 00:28:16
    "... e só dá aqui, nesse aqui, olha."
  • 00:28:19
    "O que é que dá nesse?"
  • 00:28:20
    "Esse é o DNA..."
  • 00:28:22
    "Nossa, você descobriu que o DNA..."
  • 00:28:27
    "... a molécula da vida, rapaz!"
  • 00:28:31
    "A molécula que transmite a informação genética!"
  • 00:28:35
    "Será?"
  • 00:28:37
    Imagine você que ninguém sabia como era o gene,
  • 00:28:43
    na verdade, como é que se organizava o material genético?
  • 00:28:47
    Ninguém sabia nem do que era feito o material genético.
  • 00:28:50
    Então aquele cromossomo é feito de quê?
  • 00:28:53
    No dia seguinte, ele passou lá:
  • 00:28:57
    "Avery, eu te ajudei a interpretar os dados aqui,
  • 00:29:01
    "passei o dia inteiro com vocês mostrando que era o DNA."
  • 00:29:05
    "Eu peço o favor... eu não quero entrar na co-autoria."
  • 00:29:10
    "Mas peço o favor de deixar eu fazer uma conferência"
  • 00:29:13
    "lá em Piracicaba,"
  • 00:29:16
    "numa reunião de todos os geneticistas brasileiros,"
  • 00:29:20
    "em que eu vou... queria mostrar o que vocês fizeram."
  • 00:29:26
    "Ah, pode fazer! Nós nem acreditamos ainda..."
  • 00:29:30
    Isso foi muito importante porque foi a primeira reunião do mundo
  • 00:29:34
    em que se mencionou que o DNA era o elemento
  • 00:29:37
    responsável pela informação genética
  • 00:29:40
    e foi no Brasil, para 25 pessoas
  • 00:29:43
    e todas elas acreditaram!
  • 00:29:46
    O Avery ainda não tinha acreditado direito.
  • 00:29:48
    Quando o Dobzhansky voltou ele informou ou alguém do grupo disse
  • 00:29:51
    o Avery ainda não tá completamente acreditando,
  • 00:29:54
    Ele acha que é muita banana por tostão, entende?
  • 00:29:59
    Ele ter descoberto. Mas é fundamental...
  • 00:30:03
    Ganhou o Prêmio Nobel por causa disso.
  • 00:30:06
    Mas ele era uma pessoa preocupada, eu acho,
  • 00:30:12
    com o problema da morte.
  • 00:30:15
    Então veja o que aconteceu em uma das viagens que nós fizemos
  • 00:30:18
    para a caatinga baiana.
  • 00:30:24
    Então ficamos numa casa de um casal
  • 00:30:27
    já de idade.
  • 00:30:29
    Mas umas pessoas extraordinárias.
  • 00:30:33
    Tudo estava indo muito bem, nós íamos passar uma semana lá.
  • 00:30:37
    No terceiro dia, na hora do jantar,
  • 00:30:40
    a senhora sai da cozinha e diz:
  • 00:30:45
    "Professor, posso servir o jantar?"
  • 00:30:47
    Eu disse: "pode".
  • 00:30:49
    "Mas e o velho, onde está?"
  • 00:30:52
    "Ele está ali escrevendo no quarto, mas eu chamo ele."
  • 00:30:58
    E ela voltou pra cozinha.
  • 00:31:02
    Ele sai do quarto e diz:
  • 00:31:05
    "O que ela disse pra você?"
  • 00:31:09
    "Ah, que vai servir o jantar."
  • 00:31:13
    "Ué, só isso?"
  • 00:31:15
    Eu disse: "foi o que ela me perguntou."
  • 00:31:17
    Aí ele disse: "e como é que ela usou o velho?"
  • 00:31:21
    Eu falei: "ela perguntou onde você estava."
  • 00:31:26
    "Ela disse velho, não foi?"
  • 00:31:30
    "Amanhã cedo nós vamos embora."
  • 00:31:33
    Por causa talvez do medo que ele teve de morrer
  • 00:31:38
    ele ficou mais afeito à ideia de que havia um Deus,
  • 00:31:46
    criando todas as coisas, dentro das leis que a gente estava descobrindo.
  • 00:31:51
    O Dobzhansky me chamava várias vezes para a casa dele à noite,
  • 00:31:56
    então ficava a dona Natasha olhando, que era a mulher dele,
  • 00:32:00
    ela olhava cinco minutos, depois começava a piscar e ia embora.
  • 00:32:05
    E a gente continuava às vezes conversando bastante tempo
  • 00:32:09
    sobre religião.
  • 00:32:11
    E ele disse: "só posso conversar com você,"
  • 00:32:15
    "só tem um bando de ateus lá no meu departamento."
  • 00:32:20
    Então o Cordeiro dizia:
  • 00:32:21
    "Mas por que ele te convida e não me convida?"
  • 00:32:23
    "Porque você não acredita em Deus e eu acredito."
  • 00:32:27
    Então você vê como já tem vantagem acreditar em Deus?
  • 00:32:31
    O Dobzhansky foi uma pessoa-chave da Genética
  • 00:32:34
    e da Genética no Brasil como um todo.
  • 00:32:36
    Sem dúvida, uma pessoa fundamental, um eixo.
  • 00:32:39
    A partir dali começou tudo
  • 00:32:41
    Uma pessoa que sacudiu a Genética, conseguiu trazer conceitos,
  • 00:32:47
    e enfrentava as grandes questões.
  • 00:32:53
    O Dobzhansky não ganhou o Prêmio Nobel.
  • 00:32:56
    Não sei, acho que não ganhou.
  • 00:32:58
    Mas eu acho que ele merecia o Prêmio Nobel
  • 00:33:04
    pelas experiências que ele fez.
  • 00:33:07
    Mas foi um grande personagem
  • 00:33:09
    e pra nós, sem dúvida nenhuma,
  • 00:33:12
    foi o que nos tirou de uma situação de buraco
  • 00:33:17
    pra fazer isso que está aí, sem dúvida nenhuma.
  • 00:33:21
    Dele dependeu muito o que nós somos hoje.
  • 00:33:40
    Ele estava plenamente consciente
  • 00:33:45
    do desenvolvimento da genética humana.
  • 00:33:47
    Então é uma coisa a perguntar:
  • 00:33:49
    Por que o Dreyfus optou por desenvolver
  • 00:33:53
    a genética de drosófilas aqui?
  • 00:33:57
    E não a Genética Humana, o que seria mais lógico,
  • 00:34:02
    porque ele tinha formação médica. Ele era médico!
  • 00:34:06
    E sabia o que estava acontecendo no mundo.
  • 00:34:08
    Exatamente pelo movimento eugênico
  • 00:34:12
    ser muito forte na Alemanha naquela época.
  • 00:34:17
    A criação da Faculdade de Filosofia aqui,
  • 00:34:19
    com a vinda dos professores a partir de 1934,
  • 00:34:23
    o nazismo já estava implantado lá.
  • 00:34:26
    Hitler toma o poder
  • 00:34:28
    e põe todos os judeus e meio-judeus para fora
  • 00:34:32
    do funcionalismo público
  • 00:34:34
    e mesmo de empresas particulares
  • 00:34:36
    já em 1933.
  • 00:34:39
    Por isso é que os professores vieram para cá,
  • 00:34:42
    esses grandes professores alemães,
  • 00:34:45
    vieram para cá porque eram judeus!
  • 00:34:47
    Ou considerados judeus,
  • 00:34:49
    mesmo quando eles não se consideravam, não importa!
  • 00:34:53
    O que é incrível é que os geneticistas alemães
  • 00:34:59
    tiveram uma participação terrível
  • 00:35:02
    para a alimentação do nazismo.
  • 00:35:04
    Quando o Hitler faz toda a campanha
  • 00:35:08
    contra os judeus e começa com o arianismo,
  • 00:35:12
    com essas loucuras de que os arianos são superiores
  • 00:35:15
    e os judeus devem ser exterminados,
  • 00:35:18
    coisas desse tipo,
  • 00:35:19
    ele começa lendo os livros de Genética Humana!
  • 00:35:23
    O interessante é que a Genética Humana,
  • 00:35:26
    por incrível que pareça,
  • 00:35:29
    foi um fruto da genética de drosófilas.
  • 00:35:33
    Houve aquele grande entusiasmo
  • 00:35:36
    em várias partes do Brasil
  • 00:35:38
    começaram a aparecer jovens pesquisadores
  • 00:35:43
    sobre drosófila
  • 00:35:48
    e com isso estruturavam-se os laboratórios
  • 00:35:52
    de Biologia pro lado da genética
  • 00:35:54
    de drosófila.
  • 00:35:56
    Aí, o Miller chega dez anos depois
  • 00:36:02
    ou oito anos depois,
  • 00:36:06
    vem pro Brasil e me diz:
  • 00:36:09
    "Pavan, estamos desenvolvendo nos Estados Unidos
  • 00:36:14
    a Genética Humana.
  • 00:36:16
    Está com grande potencialidade, grande possibilidade.
  • 00:36:22
    Por que você não muda para a coisa?
  • 00:36:27
    Para a Genética Humana?
  • 00:36:29
    E começa a desenvolver a coisa aqui no Brasil?
  • 00:36:33
    Naquela época, era uma coisa fantástica,
  • 00:36:36
    estava-se começando,
  • 00:36:38
    Lejeune tinha descoberto há pouco
  • 00:36:41
    a trissomia do 21.
  • 00:36:47
    Estava começando o Ford, o grupo do Ford na Inglaterra,
  • 00:36:51
    detectando a síndrome de Klinefelter
  • 00:36:55
    sendo decorrente de um excesso de cromossomos X.
  • 00:37:00
    Então estava começando!
  • 00:37:02
    Eu estava todo animado com drosófila,
  • 00:37:07
    até nem tinha...
  • 00:37:10
    Ah, já tinha a Rhynchosciara no caminho
  • 00:37:14
    então eu estava animadíssimo com a Rhynchosciara,
  • 00:37:16
    eu disse: "olha, vamos fazer uma coisa."
  • 00:37:18
    Ao contrário de eu mudar
  • 00:37:21
    eu quero três bolsas.
  • 00:37:24
    Eu vou mandar pros EUA três pesquisadores
  • 00:37:29
    que trabalham, já estão trabalhando.
  • 00:37:30
    Um deles trabalha com Genética, já está fazendo parte da Genética Humana,
  • 00:37:34
    mas dois deles trabalham com drosófila.
  • 00:37:37
    Eles ficam um ano nos EUA se preparando
  • 00:37:41
    para fazer Genética Humana.
  • 00:37:44
    E ao contrário de três bolsas, ele me deu quatro.
  • 00:37:49
    Eu tinha pedido bolsa para
  • 00:37:51
    Newton Freire-Maia,
  • 00:37:53
    Salzano,
  • 00:37:55
    Pedro Saldanha,
  • 00:37:58
    e o Frota-Pessoa já estava nos EUA.
  • 00:38:02
    Ele deu uma bolsa a mais para o Frota.
  • 00:38:05
    Então ficaram os quatro.
  • 00:38:08
    Não havia tanta facilidade de bolsas, mas a Rockefeller,
  • 00:38:11
    com esse sistema de ir nos laboratórios e ver quem poderia ser aproveitado
  • 00:38:17
    deu bolsas para muita gente no Brasil.
  • 00:38:21
    Então você encontra na história da Genética Humana
  • 00:38:24
    e de drosófila
  • 00:38:26
    a maioria dos que ficaram na especialidade
  • 00:38:32
    estiveram nos EUA com bolsa.
  • 00:38:35
    Houve uma série de outros desenvolvimentos
  • 00:38:39
    que se relacionavam com o início da Genética Humana
  • 00:38:44
    que foi muito apoiada pela Fundação Rockefeller.
  • 00:38:49
    A Rockefeller tinha recursos mundiais.
  • 00:38:52
    Ela não pôde aplicar na Europa
  • 00:38:55
    por causa da situação instável da guerra.
  • 00:38:58
    Não podia aplicar na Ásia também por razões semelhantes.
  • 00:39:02
    E nem na África.
  • 00:39:05
    Então, escolheu a América Latina para investir.
  • 00:39:09
    Do ponto de vista filosófico
  • 00:39:11
    a ideia deles era melhorar a qualidade de vida do povo aqui,
  • 00:39:15
    a alimentação, saúde,
  • 00:39:18
    esse era o objetivo maior da Fundação Rockefeller.
  • 00:39:22
    Eu tenho a impressão que uma das coisas era fazer uma divulgação
  • 00:39:26
    da própria Fundação.
  • 00:39:29
    Uma segunda parte, que nos EUA é muito importante:
  • 00:39:32
    Se você jogar um dinheiro num país,
  • 00:39:36
    e mandar gente do Brasil para lá,
  • 00:39:38
    a pessoa fica meio dependente dos americanos.
  • 00:39:41
    Isso é verdade.
  • 00:39:42
    Não é só a filantropia, tem um pouco de "pilantropia" também.
  • 00:39:48
    Havia, por exemplo, o Newton Freire-Maia,
  • 00:39:52
    que na prática é o fundador
  • 00:39:55
    da Genética Humana no Brasil,
  • 00:39:59
    e da Genética Médica, apesar de ele não ser médico,
  • 00:40:02
    ele começou a trabalhar,
  • 00:40:07
    depois foi para Curitiba,
  • 00:40:10
    e lá continuou cada vez melhor.
  • 00:40:12
    Mas ele deixou uma obra fundamental,
  • 00:40:16
    de origem da Genética no Brasil.
  • 00:40:21
    O Salzano é um baluarte da Genética Humana fantástico.
  • 00:40:28
    Continua trabalhando intensamente
  • 00:40:30
    produção fantástica, enorme,
  • 00:40:33
    prestígio internacional,
  • 00:40:35
    que é de Porto Alegre, da Universidade do Rio Grande do Sul.
  • 00:40:43
    O grupo do Freire-Maia em Curitiba.
  • 00:40:47
    Depois, no Rio, tem também alguns seguidores,
  • 00:40:55
    mas não tão intensivos como esses dois.
  • 00:40:58
    Aqui em São Paulo tem vários,
  • 00:41:01
    alguns que tiveram experiência aqui
  • 00:41:04
    depois se implantaram na pesquisa em outras universidades,
  • 00:41:07
    como o Bernardo Beiguelman.
  • 00:41:11
    E lá na Unicamp, eu tive a oportunidade de criar,
  • 00:41:17
    com o apoio do primeiro diretor da Faculdade de Medicina,
  • 00:41:22
    que foi o professor Antonio Augusto Almeida.
  • 00:41:25
    Ele achou que deveria criar era um Departamento
  • 00:41:29
    de Genética Médica.
  • 00:41:33
    Naquele tempo, falar em Genética Humana,
  • 00:41:37
    não Médica, mas falar em Genética Humana,
  • 00:41:40
    era considerada uma conversa esotérica.
  • 00:41:43
    Esse negócio não existe...
  • 00:41:46
    Ninguém falava em Genética Humana.
  • 00:41:49
    Então imagina isso criado dentro da Faculdade de Medicina.
  • 00:41:52
    Não, vamos criar um Departamento.
  • 00:41:56
    Olha, o incrível é que só na Unicamp é que existe
  • 00:42:00
    um Departamento de Genética Médica.
  • 00:42:02
    Em todo o país não existe um Departamento de Genética Médica.
  • 00:42:05
    Veja que coisa.
  • 00:42:08
    E aí, quando os quatro voltaram,
  • 00:42:12
    eu, como presidente da Sociedade Brasileira de Genética,
  • 00:42:15
    criei uma Comissão de Genética Humana.
  • 00:42:20
    Nessa Comissão de Genética Humana,
  • 00:42:24
    eles tinham o dinheiro que quisessem
  • 00:42:29
    podiam se reunir em qualquer lugar do Brasil
  • 00:42:35
    com uma condição que eu tinha exigido
  • 00:42:39
    que qualquer pedido fosse julgado por essa comissão.
  • 00:42:44
    E se essa comissão aprovasse, ia direto.
  • 00:42:49
    Não tinha problema.
  • 00:42:50
    E aí começou a famosa Genética Humana,
  • 00:42:55
    como ela é hoje por aí, dando show de bola.
  • 00:43:13
    Então naquela época a Genética era essencialmente
  • 00:43:18
    o Dreyfus, uma senhora chamada Rosina de Barros
  • 00:43:24
    e tinha o Pavan,
  • 00:43:26
    que era o menino dourado da Genética naquela época.
  • 00:43:32
    O Pavan é um negócio fantástico,
  • 00:43:34
    foi ele o meu orientador no doutorado.
  • 00:43:41
    E ele é uma personalidade complexa, como todo mundo conhece...
  • 00:43:46
    E aí eu sonho
  • 00:43:50
    que eu era uma goiaba
  • 00:43:55
    cortada no meio
  • 00:43:58
    no meio de uma cama.
  • 00:44:00
    Você pode imaginar o que é
  • 00:44:04
    você ser uma goiaba no meio...
  • 00:44:06
    Mas ele teve um papel fundamental
  • 00:44:10
    no desenvolvimento da Genética
  • 00:44:14
    tanto brasileira como internacional,
  • 00:44:18
    porque ele fez algumas descobertas muito importantes,
  • 00:44:23
    especialmente dessa mosca, a Rhynchosciara.
  • 00:44:29
    Quando eles foram coletar drosófila,
  • 00:44:33
    se coletava drosófila na estrada que vai para Peruíbe.
  • 00:44:39
    E aí eu dou um chute e encontro um bolo de vermes,
  • 00:44:44
    vermelhos, bonitos, todos andando...
  • 00:44:52
    Tudo bem, eu sempre levava material para trazer amostras.
  • 00:45:00
    Pus dentro de um vidro essas larvas
  • 00:45:06
    e pus num saco e voltamos.
  • 00:45:12
    Dois dias depois, às onze horas da noite, estou no laboratório
  • 00:45:15
    e antes de sair eu vejo uma mala como aquela que está ali,
  • 00:45:19
    encostada no chão,
  • 00:45:22
    fui ver o que estava ali.
  • 00:45:23
    Lá dentro tinha o tubinho e as larvas doidas para sair,
  • 00:45:28
    mas a rolha não deixava.
  • 00:45:32
    Então eu pego a coisa e vou olhar no microscópio.
  • 00:45:36
    Eu vejo uma glândula salivar.
  • 00:45:39
    E vejo as células e o núcleo... que beleza!
  • 00:45:45
    Eu esmago, ponho uma lamínula por cima e pum:
  • 00:45:47
    eu vejo o maior cromossomo que eu jamais tinha visto!
  • 00:45:51
    Teve sorte.
  • 00:45:53
    Mas esse negócio de dizer que teve sorte é bambu,
  • 00:45:56
    o nego procura a sorte.
  • 00:45:59
    E ele procurou uma mosca que tivesse alguma coisa diferente
  • 00:46:03
    e achou a Rhynchosciara.
  • 00:46:05
    Ela tem cromossomos enormes.
  • 00:46:08
    Então poderia estabelecer uma linha inteira de pesquisa
  • 00:46:11
    em Rhynchosciara.
  • 00:46:13
    O Pavan ficou famoso logo de saída porque
  • 00:46:16
    ele descreveu esses cromossomos gigantes
  • 00:46:19
    e descreveu as bandas dos cromossomos gigantes
  • 00:46:22
    e os chamados "pufes".
  • 00:46:24
    Mas que diabo de pufe é esse?
  • 00:46:27
    Esses cromossomos gigantes formam o que eles chamam "pufes",
  • 00:46:31
    uma inchação localizada
  • 00:46:36
    de material genético.
  • 00:46:42
    E aí teve uma repercussão muito grande
  • 00:46:45
    porque existia na época
  • 00:46:48
    uma crença generalizada
  • 00:46:51
    na chamada constância do DNA.
  • 00:46:55
    Que dizia textualmente
  • 00:46:58
    que as células de tecidos diferentes tem os mesmos genes
  • 00:47:03
    e a mesma quantidade de DNA.
  • 00:47:06
    Nós demonstramos o contrário, que não é assim
  • 00:47:11
    e que tem genes que se multiplicam
  • 00:47:15
    independente do resto do cromossomo
  • 00:47:18
    e são os chamados pufes.
  • 00:47:21
    Tem pufe que dá a formação de RNA
  • 00:47:27
    e tem pufes que têm, além da produção de RNA,
  • 00:47:32
    produz também mais DNA.
  • 00:47:35
    Então, uma novidade...
  • 00:47:38
    E que levou oito anos pra nós demonstrarmos
  • 00:47:44
    que isso existia.
  • 00:47:47
    A comunidade internacional só aceitou
  • 00:47:50
    quando dois autores, acho que Rudkin e Corlette,
  • 00:47:54
    mostraram, agora por citofotometria,
  • 00:47:56
    que na realidade era aquilo.
  • 00:47:58
    Então, daí para frente, vários resultados foram aparecendo.
  • 00:48:02
    Uma outra vez eu estou em Cold Spring Harbor.
  • 00:48:05
    Apresento meus resultados.
  • 00:48:09
    E tudo bem...
  • 00:48:12
    E o Bermann,
  • 00:48:15
    um alemão que trabalhava com Chironomus
  • 00:48:20
    apresenta os resultados e diz:
  • 00:48:24
    "nossos resultados não mostram nada parecido"
  • 00:48:29
    "com o que o prof. Pavan mostrou."
  • 00:48:35
    Daí o Rudkin, George Rudkin,
  • 00:48:40
    que tinha uma máquina de medir quantidade de DNA,
  • 00:48:44
    apresenta os resultados de Drosophila e conclui:
  • 00:48:48
    "em Drosophila não tem nada do que o prof. Pavan mostrou."
  • 00:48:53
    E aí um gaiato lá da audiência diz assim,
  • 00:48:56
    até era conhecido meu, diz assim:
  • 00:48:58
    "Hey Pavan, you are all wet!"
  • 00:49:02
    Estou, estou "wet".
  • 00:49:06
    Só que eu vou mandar o meu material
  • 00:49:09
    para o Rudkin, que tem um aparelho para medir,
  • 00:49:11
    e quando ele me mandar o resultado,
  • 00:49:15
    eu vou pegar a minha cueca molhada
  • 00:49:17
    e vou te esfregar na cara, tá bem?
  • 00:49:19
    E foi uma gargalhada generalizada...
  • 00:49:22
    Mas ele é muito exaltado,
  • 00:49:25
    de uma maneira que parece que vai brigar, sabe?
  • 00:49:29
    Não gosto desse jeito, me dá uma tensão muito grande.
  • 00:49:35
    Como pessoa, eu acho o Pavan uma personalidade extraordinária.
  • 00:49:40
    É como eu já disse até em público aí:
  • 00:49:43
    se caíssem dez índios, pelados,
  • 00:49:47
    da Amazônia, de pára-quedas,
  • 00:49:50
    perto do Pavan,
  • 00:49:53
    o Pavan conseguia catequizar
  • 00:49:58
    no mínimo uns sete pra trabalhar no projeto dele.
  • 00:50:02
    E eu fui um desses índios.
  • 00:50:07
    Duas vezes o Pavan teve influência na minha vida
  • 00:50:10
    de direcionar para coisas diferentes.
  • 00:50:14
    O Pavan é outro cara extraordinário porque
  • 00:50:17
    ele tem a mesma coisa, que herdou dos mestres dele,
  • 00:50:22
    um trabalhador incansável, não é?
  • 00:50:25
    Tem uma apreciação da ciência fantástica.
  • 00:50:30
    É o indivíduo que eu conheço com maior espírito de coleguismo.
  • 00:50:38
    É uma pessoa muito produtiva do ponto de vista pessoal,
  • 00:50:43
    na USP ele era fundamental,
  • 00:50:46
    eu acho que o trabalho dele foi fantástico
  • 00:50:50
    porque ele é um sujeito muito
  • 00:50:57
    positivo, de ação positiva.
  • 00:50:59
    Às vezes estabanado, mas a intenção dele é sempre positiva.
  • 00:51:03
    Isso a gente tem que reconhecer.
  • 00:51:06
    Ele nunca bota as coisas pra trás.
  • 00:51:08
    Se bota pra trás, é involuntariamente.
  • 00:51:11
    É um cara que gosta do progresso, do avanço, sabe?
  • 00:51:16
    Porque tem muita gente que não gosta...
  • 00:51:18
    Ele não, vai pra frente, apoia os alunos dele,
  • 00:51:22
    protege, é impressionante.
  • 00:51:25
    Isso ele faz muito bem.
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